É
pergunta recorrente. Ouvi
em palestras, festas, bares, encontros casuais, etc. Alguns
complementam: “Foste Ministro de Lula e da Dilma, tens que saber…”
Não
perguntam qual conduta de Lula seria delituosa. Nem
mesmo perguntam sobre ser, ou não, culpado. Eles
têm como certo a ocorrência do delito, sem descrevê-lo.
Pergunto
do que se está falando. A
resposta é genérica: é a Lava-Jato.
Pergunto
sobre quais são os fatos e os processos judiciais. Quais
as acusações?
Nada
sobre fatos, acusações e processos.
Alguns
referem-se, por alto, ao sítio de … (não sabem onde se localiza), ao
apartamento do Guarujá, às afirmações do ex-Senador Delcidio Amaral, à
Petrobrás, ao PT…
Sobre
o ex-Senador dizem que ele teria dito algo que não lembram. E
completam: “está na cara que tem que ser preso”.
Dos
fatos não descritos e, mesmo, desconhecidos, e da culpa afirmada em abstrato se
segue a indignação por Lula não ter sido, ainda, preso!
[Lembro
da ironia de J.L. Borges: “Mas não vamos falar sobre fatos. Ninguém se importa
com os fatos. Eles são meros pontos de partida para a invenção e o
raciocínio”.]
Tal
indignação, para alguns, verte-se em espanto e raiva, ao mencionarem pesquisas
eleitorais, para 2018, em que Lula aparece em primeiro lugar.
Dizem:
“Essa gente é maluca; esse país não dá…”
Qual
a origem dessa dispensa de descrição e apuração de fatos?
Por
que a desnecessidade de uma sentença?
Por
que a presunção absoluta e certa da culpa?
Por
que tal certeza?
Especulo.
Uns,
de um facciosismo raivoso, intransigente, esterilizador da razão, dizem que a
Justiça deve ser feita com antecipação.
Sem
saber, relacionam e, mesmo, identificam Justiça com Vingança.
Querem
penas radicais e se deliciam com as midiáticas conduções coercitivas.
Orgulham-se
com o histerismo de suas paixões ou ódios.
Lutam
por “uma verdade” e não “pela verdade”.
Alguns,
porque olham 2018, esperam por uma condenação rápida, que torne Lula
inelegível.
Outros,
simplesmente são meros espectadores.
Nada
é com eles.
Entre
estes, tem os que não concordam com o atropelo, mas não se manifestam. Parecem
sensíveis a uma “patrulha”, que decorre da exaltação das emoções, sabotadora da
razão e das garantias constitucionais.
Ora,
o delito é um atentado à vida coletiva.
Exige
repressão.
Mas,
tanto é usurpação impedir a repressão do delito, como o é o desprezo às
garantias individuais.
A
tolerância e o diálogo são uma exigência da democracia – asseguram o convívio.
Nietzsche está certo: As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do
que as mentiras.
Publicado originalmente no portal Carta Capital
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