Chega
atrasado, mas ainda em boa hora, o projeto de lei relatado pelo senador Roberto
Requião, informalmente chamado de “abuso de autoridade” e caracterizado pelo
objetivo de combater crimes cometidos por funcionários públicos espalhados
pelos diversos organismos do Estado. A Operação Lava Jato, pela conduta dolosa
e ilegítima, é um exemplo desse abuso.
Essa
ideia não é nova. Ela adormecia há quase dez anos, considerando que foi enviada
ao Congresso, no primeiro governo Lula, pelo então ministro da Justiça Tarso
Genro. Perdeu-se lá por razões que a própria razão desconhece.
Foi
resgatada agora, entretanto, pelo senador Renan Calheiros, por razões
conhecidas. Pesa sobre ele uma dúzia de acusações geradas pelas investigações
da Lava Jato, somadas a outro problema. Renan presidia o Senado, quando a casa
foi invadida pela Polícia Federal a mando do passageiro ministro da Justiça
Alexandre de Moraes, um advogado hoje refestelado em uma das cadeiras de espaldar
alto do Supremo Tribunal Federal.
Foi
típico abuso de autoridade. Mereceria punição exemplar, se a nova lei estivesse
em vigor. Há, porém, uma resistência. O juiz Sergio Moro, unido aos
procuradores de Curitiba, capitaneados por Deltan Dallagnol, vale-se da
popularidade emanada da Lava Jato para torpedear o Projeto de Lei da autoridade
abusiva.
Para
Moro e Dallagnol, punir autoridade por crime de abuso decretaria o fim da Lava
Jato. Não é verdade. Poderia ser, sim, no entanto, o fim do autoritarismo que
eles empregam favorecidos pela omissão do Conselho Nacional de Justiça e pela
simpatia majoritária dos 11 juízes que compõem o STF.
O
contraponto com a Operação Lava Jato não deve inibir o Congresso sob pressão da
mídia. Não haverá danos à investigação nem à punição de corruptos, desde que
tudo se mantenha nos termos previstos no Projeto de Lei formulado por Requião e
prestes a ser votado no Senado.
O
senador relator tem pregado isto: “Não queremos assistir mais à ‘carteirada’,
ao abuso de poder. E isso deve valer para todas as instituições: o Parlamento,
o Judiciário, o Ministério Público, a polícia... enfim, os agentes públicos de
forma geral, desde o fiscal de renda do município ao presidente da República”.
Espera-se que nenhum senador, ao longo da tramitação, ponha jabuti na
forquilha.
Há
excessos nas ações policiais. E eles estão em posição mais próxima às
populações pobres. Existe o clássico “pontapé na bunda” aplicado no suspeito
forçado a entrar no camburão. A luta contra as arbitrariedades do poder no
Brasil ainda não acabou. Há muita coisa escondida nas entrelinhas das leis em
vigor.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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