Muita
coisa está em jogo no resultado da eleição do PT em Fortaleza, ainda a ser
oficializado. Há reflexos importantes dentro e fora do partido. A possível
derrota do grupo da ex-prefeita Luizianne Lins criaria novo equilíbrio de
forças dentro da legenda. A se confirmar a vitória de Acrísio Sena, muda a
lógica de funcionamento do PT estabelecida desde o fim da década de 1990.
O
partido opera em todo esse tempo sob uma hegemonia estadual estabelecida há 30
anos e sintonizada com o comando nacional. Nos últimos 20 anos, estabeleceu-se
em Fortaleza o grupo de Luizianne. Tradicionalmente, costumava-se dizer um
campo mais “à esquerda” dentro do partido.
Gradualmente, tornou-se contraponto
em relação às posições do então chamado “campo majoritário” estadual e
nacional. Era uma força que, se não tinha espaço equivalente ao do grupo
hegemônico cearense, conseguia espaço considerável de contraponto e tensão
interna. Os aliados de Luizianne sempre foram elemento desestabilizador dos
possíveis consensos entre os petistas.
Foi
nessa dinâmica interna que ela conseguiu se impor como candidata a prefeita em
2004, a contragosto dos acordos firmados pela direção nacional. Com a
Prefeitura, passou a ter ainda mais peso nas questões internas. Não tinha
maioria no âmbito estadual, mas as principais questões precisavam passar por
ela. Por exemplo, a definição do apoio a Cid Gomes para governador em 2006.
Se
o grupo de Luizianne deixa o comando municipal do PT, ele perde esse peso. Não
se torna irrelevante, longe disso. Segue força relevante dentro da legenda.
Mas, no caso de Acrísio assumir a direção da legenda em Fortaleza, a tendência
da ex-prefeita perde uma estrutura poderosa e influente na organização petista.
Com isso, há considerável mudança na dinâmica interna. E não apenas isso.
Talvez a principal transformação seja fora do partido, em relação à Prefeitura
de Fortaleza e o grupo Ferreira Gomes.
Acrísio
não teve a vitória confirmada até o momento, mas já se declarou vencedor, por
diferença de três votos. Repetiu posição que defende desde o ano passado: de
diálogo e não oposição ao prefeito Roberto Cláudio (PDT). A ser seguido esse
caminho, é uma guinada e tanto.
O
PT foi a principal oposição ao prefeito no primeiro mandato. Luizianne, como
prefeita, havia sido tratada na campanha de 2012 como inimiga a ser derrotada.
Foi campanha extremamente acirrada, agressiva, como poucas vezes se viu. O
mesmo tom foi adotado pela oposição petista ao prefeito no primeiro mandato.
Mas,
o cenário trouxe novidades. Atualmente, na Câmara, a oposição é comandada por
PR e PSDB, partidos que nacionalmente são adversários do PT e aliados do
governo Michel Temer (PMDB). Essa conjuntura nacional favorece a tese de
Acrísio e empurra os petistas para mais perto de RC. O principal motivo para o
PT ser oposição está ainda nas feridas não cicatrizadas de 2012, cinco anos
atrás. Porém, hoje os pedetistas, cearenses em particular, são nacionalmente os
parceiros mais relevantes da sigla no enfrentamento federal.
Isso
explica, inclusive, a tranquilidade com que Luiz Inácio Lula da Silva, na
entrevista à rádio O POVO/CBN na última sexta-feira, tratou o possível apoio do
petista Camilo Santana a Ciro Gomes (PDT) em 2018. A considerar os principais
objetivos estratégicos do PT, faz muito mais sentido estar aliado que na
oposição ao PDT.
É
assim hoje, mas pode não ser amanhã. Porque, ninguém se iluda, Lula não iria
polemizar com Camilo Santana via imprensa e em cenário ainda tão incerto.
Ninguém sabe se o ex-presidente poderá ser candidato, se Ciro irá mesmo para a
disputa. Não faria sentido criar confusão agora. Porém, no cenário de Lula de
fato candidato, é descabido pensar em um governador petista apoiando outro
candidato. De modo que passa a ser muito capaz Camilo deixar o PT, pois também
não é fácil pensar no gestor cearense em algum palanque que não o de Ciro. Aí,
os fatores que hoje aproximam petistas de Roberto Cláudio e dos Ferreira Gomes
podem empurrá-los para bem longe.
Publicado
originalmente no portal O
Povo Online
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