Ato de protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência Social promovido pelas centrais sindicais, na Esplanada dos Ministérios (Foto: José Cruz) |
A
greve geral do dia 28 de abril – a primeira, na vigência do governo antipopular
e antinacional — foi amplamente vitoriosa. Seu sucesso excedeu as melhores
expectativas das forças populares, constituindo-se numa das mais expressivas
manifestações políticas da nossa História, porque nacional, abrangente,
unitária, madura e democrática. Nada a ver, portanto, com a versão tendenciosa
dos grandes meios de comunicação.
Setores
até aqui silenciosos, como a Igreja Católica e outros credos, passam a se
contrapor a seitas pentecostais comprometidas, no púlpito e na atividade
parlamentar, com a pauta conservadora e reacionária.
Apesar
de voltada para a defesa de interesses objetivos dos assalariados (repúdio a
uma terceirização perversa e a uma reforma da previdência que mantém
privilégios e só prejudica os mais necessitados), trata-se de uma greve
política, com apoio popular.
Este
é o fato novo e a partir de hoje, portanto, podemos vislumbrar uma nova
correlação de forças, apta a alterar a atual luta política.
O
protesto, ademais, valeu por seu significado simbólico e como processo de
politização e organização dos trabalhadores, levando-os à ação para além dos
seus interesses imediatos, a etapa superior da batalha sindical. Neste ponto se
dá a transição da reivindicação econômica corporativa para a afirmação
política.
Tratou-se
da afirmação de um sonoro "não" ao governo de fato. Foi este,
igualmente, um dos fatores do apoio popular.
A
greve já seria um sucesso pelo simples fato de haver-se realizado na esteira da
captura do poder pelas forças do atraso, com características desconhecidas pela
História recente da República, tal o somatório de intervenientes adversos:
monopólio ideológico dos meios de comunicação de massa, donde a deslavada
manipulação da informação; governo reacionário e repressor, ademais de
ilegítimo; e Congresso que, não obstante a ausência de representatividade,
enceta, sob o comando da súcia que ocupa o poder, o criminoso processo de
revogação de direitos e garantias conquistados desde os anos 40 do século
passado e consolidados pela Constituição de 1988.
Agindo
em uma razia, o Governo, sem origem na soberania popular, rejeitado pelo país
(segundo pesquisa IPSOS, 92% da população dizem que o governo está no rumo
errado), manobrando a peso de ouro (e cargos) a vontade parlamentar, intenta
destruir a ordem constitucional democrática, os direitos dos trabalhadores e a
soberania nacional.
A
greve ecoou o sentimento das ruas. Mais que isso, como disse, percorreu o país
de Norte a Sul, foi abrangente, unitária e democrática, cimentando o apoio que
logrou na sociedade.
Também
foi pedagógica, ao deixar claro para certas forças da esquerda brasileira que o
caminho da vitória passa pela política de Frente, tão ampla quanto possível,
articulando – independentemente de filiações partidárias e outras – todas as
correntes de pensamento e ação que se disponham a dar sua mão aos trabalhadores
e aos democratas e progressistas na luta contra o desmonte do país, ameaçado
por um retrocesso de décadas.
Do
ponto de vista do sindicalismo, constituiu importante instrumento de
consciência de classe, conditio sine qua non para a intervenção política. De
outra parte, haverão de ter aprendido as direções sindicais esta lição
primária: a liderança não pode afastar-se do 'chão de fabrica'.
O
antídoto da alienação é o diálogo permanente, assim como é a organização que
assegura a ação. A adesão massiva à greve foi o resultado de meses de
preparação, de debates, de assembleias e de muita 'porta de fábrica'.
Esta
greve – e eis outro grande mérito seu – foi também um sucesso como política de
Frente na ordem sindical, reunindo todas as centrais sindicais, reunindo, por
exemplo, CUT-CTB e Força Sindical (tão antípodas do ponto de vista estratégico)
e reunindo essas forças aos camponeses do MST, à Frente Brasil Popular, ao MTST
(Movimento dos Trabalhadores sem Teto) e à CMT (Central dos Movimentos
Populares). E, a partir daí, a um sem número de organizações sociais-populares
espalhadas por todo o país.
A
greve precisa ser comemorada como momento importante da resistência ao governo
antinacional: pôs em patamar elevado a luta contra suas políticas e a defesa da
Constituição agredida diariamente pelo presidente e sua trupe, pelo Congresso e
por setores do Poder Judiciário, desde o piso aos tribunais superiores.
Para
as forças populares não há alternativa de combate fora da democracia e, na
democracia, não há alternativa às crises políticas fora das eleições. A
organização do povo, ponto de partida para a ação, é a única garantia para a
restauração constitucional/democrática.
O
que nos cabe é insistir em mais do mesmo: mobilizar, unir e organizar as forças
populares, em aliança com setores liberais e o capital produtivo, para isolar e
derrotar o governo antipopular e antinacional, oferecendo ao país um novo
pacto, que assegure a democracia, o desenvolvimento e a soberania, no rumo de
uma sociedade mais justa, sonho do qual não abrimos mão.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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