Uma
das mais emblemáticas peças de marketing político da época do mensalão foi a
propaganda do PSDB que trazia personagens do escândalo como peças de dominó.
Uma a uma, elas caiam e derrubavam a peça subsequente. Apareciam ministros de
Luiz Inácio Lula da Silva, do PT e de outros partidos, como Anderson Adauto
(PR). Também eram mostrados assessores, amigos, aliados e até o publicitário
Duda Mendonça. No fim, a última peça — Paulo Okamoto, então presidente do
Sebrae, acusado do mensalão, presidente do Instituto Lula e hoje réu na Lava
Jato - caia e resvalava e Lula, que balançava sem cair.
A
propaganda mostrava dez personagens do entorno mais ou menos próximo a Lula. A
esta altura, as peças do jogo de Michel Temer (PMDB) já são mais numerosas que
as de Lula, de acordo com o que apresentava a publicidade do PSDB.
Do
grupo de colaboradores mais próximos do presidente, caíram por estarem enrolados
com a Lava Jato Henrique Eduardo Alves (PMDB) e Romero Jucá (PMDB-RR). O último
deixou o Ministério do Planejamento depois que gravação realizada por Sergio
Machado revelou um dos mais indecentes diálogos da história recente da
República. Mesmo fora do cargo, continuou influente no ministério e assumiu a
liderança do governo Temer no Congresso. Nesta semana, virou alvo de inquérito
no Supremo Tribunal Federal (STF).
Alves
também é alvo de inquéritos, foi citado por Machado como tendo recebido R$ 1,5
milhão em propina. Diante das denúncias, pediu demissão do Ministério do
Turismo. O assessor especial José Yunes deixou o cargo após ser acusado por
Claudio Melo Filho, ex-diretor da Odebrecht, de ter recebido dinheiro da
empreiteira.
Geddel
Vieira Lima também caiu, mas não pela Lava Jato. Ministro da Secretaria de
Governo, ele foi acusado de tráfico de influência, por supostamente interferir
para a liberação de obra de prédio em Salvador. Depois disso, virou alvo de
ação da Polícia Federal que investiga corrupção na Caixa Econômica.
Ministro-chefe
da Casa Civil, Eliseu Padilha aparece como “Primo” nas planilhas da Odebrecht e
foi citado 45 vezes por Melo Filho.
A
bola da vez no núcleo de Temer é Moreira Franco. Secretário-executivo do
Programa de Parceria de Investimentos, foi promovido a ministro, à frente da
Secretaria-Geral da Presidência. É outro com presença marcante em delações da
Odebrecht. Como ficou a desconfiança de estratégia para dar a ele foro
privilegiado, disputa judicial tem transcorrido desde então.
Sem
cargo no governo, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) foi denunciado na Lava Jato,
acusado de receber propina de R$ 500 mil. Raupp foi vice-presidente de Temer no
PMDB.
Esses
são apenas os mais próximos ao presidente. Mas há outras peças no dominó de
denúncias. Eleitos para o comando do Congresso Nacional com respaldo de Palácio
do Planalto, Rodrigo Maia (DEM) e Eunício Oliveira (PMDB) também são citados.
O
peemedebista aparece como “Índio” nas planilhas da Odebrecht e teria cobrado R$
2,1 milhões para articular aprovação de medida provisória de interesse da
empreiteira. Nesta semana, foi revelado que a Polícia Federal concluiu que Maia
recebeu R$ 1 milhão da empreiteira OAS, em troca de “favores políticos”.
Esse
é o novo comando do Congresso. O antigo está ainda mais enrolado na Lava Jato.
E também tinha sido eleito com respaldo de Temer. Na Câmara estava Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), hoje cassado e preso. No Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
réu no Supremo e que terminou sua gestão à frente do Senado impedido de exercer
uma de suas prerrogativas - substituir o presidente da República.
Há
outras personagens importantes, em diversos partidos, citados em investigações.
José Serra (PSDB), ministro das Relações Exteriores, teria recebido R$ 23
milhões da Odebrecht, inclusive por conta na Suíça, na forma de caixa dois. A
informação foi obtida em delação de diretores da empreiteira. Gilberto Kassab
(PSD), da Ciência, Tecnologia e Comunicações, teria recebido R$ 14 milhões via
caixa dois, ainda segundo os delatores da Odebrecht. Documentos apreendidos
apontam ainda indícios de pagamentos aos ministros da Educação, Mendonça Filho
(DEM), da Saúde, Ricardo Barros (PP), e da Defesa, Raul Jungmann (PPS).
Ninguém
até agora está condenado. Porém, a situação de deterioração ética no governo
Temer já é pelo menos tão grave quanto no momento mais crítico das gestões
petistas. A crise institucional que derrubou Dilma Rousseff (PT) não saiu do
Palácio do Planalto.
Publicado originalmente O Povo Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.