Agora
ficou mais fácil compreender o que se tem passado no Brasil. O poder
pós-impeachment compôs-se de sócios-atletas da Lava Jato e, no entanto, não há
panelaço para o despejo de Moreira Franco, ou de qualquer outro da facção, como
nem sequer houve para Geddel Vieira Lima. Não há panelaços nem bonecos inflados
com roupa de presidiário.
Logo,
onde não há trabalhador, desempregado, perdedor da moradia adquirida na anulada
ascensão, também não há motivo para insatisfações com a natureza imoral do
governo. Os que bancaram o impeachment desfrutam a devolução do poder aos seus
servidores. Os operadores políticos do impeachment desfrutam do poder, sem se
importar com o rodízio forçado, que não afeta a natureza do governo.
Derrubar
uma Presidência legítima e uma presidente honesta, para retirar do poder toda
aspiração de menor injustiça social e de soberania nacional, tinha como
corolário pretendido a entrega do Poder aos que o receberam em maioria, os
geddeis e moreiras, os cunhas, os calheiros, os jucás, nos seus diferentes
graus e especialidades.
Como
disse Aécio Neves a meio da semana, em sua condição de presidente do PSDB e de
integrante das duas bandas de beneficiários do impeachment: "Nosso
alinhamento com o governo é para o bem ou para o mal". Não faz diferença
como o governo é e o que dele seja feito. Se é para o mal, também está
cumprindo o papel a que estava destinado pela finalidade complementar da
derrubada de uma Presidência legítima e de uma presidente honesta.
Não
há panelaço, nem boneco com uniforme de presidiário. Também, não precisa. Terno
e gravata não disfarçam.
Se
divulgar a delação da Odebrecht, como propõe Rodrigo Janot, pode levar à
"destruição de prova útil" –como disse o procurador Carlos Fernando
dos Santos Lima ao repórter Thiago Herdy–, "de outro lado, há o uso de
vazamentos para o jogo político, algo que não nos interessa".
Sem
esse interesse, não teria havido os vazamentos. Atos cuja gravidade não se
confunde com a liberação particular de informações para jornalista. O
inaceitável eticamente nos vazamentos da Lava Jato é a perversa leviandade com
que torna públicas, dando-lhes ares de verdades comprovadas, acusações não
provadas, em geral nem postas (ainda?) sob verificação.
Otávio
Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, por exemplo, proporcionou um
desses vazamentos: acusou Edinho Silva e outro petista de receberem determinado
cheque, relatando até o encontro para a entrega. O então ministro José Eduardo
Cardozo localizou e exibiu o cheque de tal pagamento: o destinatário do cheque
nominal era um certo Michel Temer. Mas a Lava Jato pusera Edinho Silva,
secretário de Comunicação da Presidência de Dilma, nas manchetes e na TV como
recebedor do suborno da empreiteira.
Otávio
Azevedo e outros ex-dirigentes da Andrade Gutierrez estão chamados a corrigir
seus depoimentos, porque a delação da Odebrecht revelou que distorceram ou
omitiram. E também foram vazamentos acusatórios. Diz a regra que trapacear nas
delações as anula. Não porém para protegidos na Lava Jato, como Otávio Azevedo
e Alberto Youssef.
Ficou
comprovado que a Lava Jato e mesmo o seu juiz programavam vazamentos nas
vésperas dos dias importantes na campanha contra Dilma e Lula. Só por
"interesse político" –evidência que ninguém na Lava Jato tem
condições honestas de negar.
Publicado
originalmente no portal GGN
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