Plenário do STF em imagem de arquivo |
A
sabatina do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de
Moraes, na última terça-feira (21/02), requentou o debate político sobre a forma de escolha
dos ministros da Corte hoje feita pelo presidente da República com aprovação do
Senado. O próprio Moraes propõe em tese de doutorado um modelo distinto ao que
está em vigor no País.
Pesquisadores
em Direito Constitucional ouvidos pela reportagem defendem atualização da lei
brasileira em favor de maior participação de representantes sociais e políticos
no processo de seleção dos magistrados. Já no Legislativo, existem atualmente
24 proposições de mudança desse processo em tramitação no Congresso desde 2001.
Os dados fazem parte da pesquisa do consultor legislativo do Senado, Roberto da
Silva Ribeiro.
Criado
à semelhança do modelo norte-americano, o processo brasileiro estabelece que,
para ser um dos 11 ministros do Supremo, é preciso ser indicado pelo presidente
da República e, ato seguinte, ter indicação aprovada em sabatina por senadores.
De acordo com os requisitos constitucionais, o pretendente deve ter notório
saber jurídico e reputação ilibada. O mandato se estende até a aposentadoria
compulsória aos 75 anos.
O
principal risco que esse formato tem oferecido, segundo os pesquisadores, é a
prevalência de critério essencialmente político na escolha do nome pelo chefe
do Executivo potencializada pelo descompromisso do Senado em, de fato, testar
as capacidades técnicas do postulante, já que o candidato pode ser encarado
como um aliado que não precisa ser tratado com rigor. "Embora as últimas
sabatinas tenham melhorado, ainda é um mecanismo pró-forma", afirma
Marcelo Figueiredo, professor da PUC-SP.
Já
nos Estados Unidos, a arguição dos candidatos à Suprema Corte no Senado é
considerada bem mais severa. "Lá, o candidato é altamente escrutinado
sobre sua vida profissional e pessoal", diz Figueiredo, acrescentando
haver vários casos de não aprovação de indicados ao Supremo nos EUA.
"Aqui
no Brasil, somente um nome foi rejeitado, um médico, no período da Primeira
República (1889-1930)", diz o autor do livro Teoria da Justiça
Constitucional, André Ramos Tavares, professor de Direito na USP e na PUC-SP.
Para ele, o modelo de escolha de ministros do STF no Brasil está falido.
"É um formato essencialmente político. Depositamos toda a confiança no
presidente da República, mas hoje ele já não é essa 'força motriz do
presidencialismo', como já escreveu Alexandre de Moraes. O presidente hoje é
refém das coalizões", afirma Tavares.
Constituinte.
Entusiasta da mudança, Tavares questiona o abandono de uma antiga proposta em
defesa de novas normas para o STF pensada pelo partido que ocupou 13 anos o
Palácio do Planalto, o PT. "Na Constituinte, o partido brigou por um
Tribunal Constitucional (estrutura do Judiciário que só julga matérias
constitucionais)", destaca. A ex-presidente Dilma Rousseff teve cinco
oportunidades de requentar o debate com suas cinco indicações de ministros ao
Supremo.
Dentre
as propostas de atualização do modelo brasileiro, vindas tanto do Legislativo
como do meio acadêmico, a de ampliar as vozes de quem deve indicar os nomes é a
mais predominante. "Não interessa a ninguém que o Supremo seja
uníssono", diz Tavares.
A
procuradora do Estado e vice-presidente do Instituto dos Advogados de São
Paulo, Maria Garcia, defende até uma campanha entre instituições em prol de
mudanças. "Do jeito que está, é nomeada uma pessoa que nem sempre passou
pelo jurídico, ou que passou, mas tem carreira meramente política."
Em
tramitação. No Legislativo, a proposta que se encontra em estágio mais avançado
é a de emenda à Constituição (PEC) 35, de 2015, do senador Lasier Martins
(PSD-RS) por estar pronta para deliberação pelo plenário do Senado. O parlamentar
propõe que os ministros do STF sejam escolhidos a partir de uma lista tríplice
elaborada pelos tribunais superiores, Tribunal de Contas da União,
procurador-geral da República e pelo presidente da Ordem dos Advogados da União
(OAB). Estabelece também um mandato de 10 anos e inelegibilidade por cinco anos
após o término do mandato.
Para
o consultor legislativo, no entanto, a proposta mais "meritória" é a
do hoje governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB-MA). O texto defende a
participação de várias partes, como colegiados de faculdades de Direito, OAB,
Conselho Nacional de Justiça, Conselho Nacional do Ministério Público, Tribunal
Superior do Trabalho, Superior Tribunal de Justiça e as duas Casas do
Congresso. Dino propõe um mandato dos ministros do STF de 11 anos sem
recondução. "A proposta confere maior legitimidade democrática ao
processo, na medida em que faculta a participação dos órgãos de representação
popular, bem como fortalecendo a autonomia do Judiciário", diz Ribeiro.
Com
informações O Povo Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.