Meu
sucessor, que a convenção (uma mera convenção, nada mais manda chamar
"ministro da justiça"), costuma ser homem de muita lábia que, no seu
caso, não é sábia. Afinal, sua retórica até hoje não foi nada convincente.
Inúmeras são suas iniciativas que ultrapassam o limite da prudência e do
bom-senso, quando não beiram o mais tosco populismo. Vãs e voláteis são suas
palavras, "dust in the wind". Uma vez ditas, não resolvem o problema,
mas geram uma pletora de novos problemas, constrangendo seu autor à exposição
continuada e à defesa do indefensável.
Ao
mesmo tempo, o Sr. Alexandre de Moraes (esse é seu nome, para quem
compreensivelmente não consegue vinculá-lo ao cargo) é pessoa de posições
duras. Não foge do uso da força bruta contra democratas que desafiam a
autoridade de seu grupo. Tout court: as palavras são ocas, mas o cassetete é
maciço e de uso frequente.
Isso
é muito comum em indivíduos adestrados ("educados" aqui talvez não
caiba) com violência física. Crianças que apanham dos pais costumam ser
violentas com amiguinhos e até com estranhos. A surra é uma linguagem
primitiva: na falta de argumentos convincentes, parte-se para a
"porrada", o argumento baculino. Eis a mensagem que muitos pais
passam aos filhos, que seguem e transmitem-na como um atavismo pela vida afora.
Ontem
fui surpreendido por uma dessas mensagens. O Sr. Moraes, que em menino deve ter
levado muita palmada no bumbum, andou espalhando que me processaria para eu
"aprender a calar a boca" (secundado, claro, por certo sítio de
pornografia política, que na esteira do livro de Diogo Mainardi, um dos seus
criadores, mais mereceria o nome de "A Anta onanista").
Inicialmente
pensei em lhe escrever mais uma dessas cartas abertas. Depois pensei: para quê
jogar pérolas aos... ops, a quem não as merece? Cartas escrevemos aos que
possam ter profundas divergências conosco, mas que animam o discurso horizontal
direto. Ao Dr. Janot e ao colega Dallagnol, por exemplo. Embora discorde do seu
modo de agir, busco publicamente o diálogo, sem deixar de me colocar como
vitrine, possível alvo de alguma iniciativa mineral, mas que possa abrir um
debate transparente. Nele, a regra é: vença quem convença! Os destinatários são
pessoas, cada uma com sua visão institucional. Posso sugerir que baixem a bola,
que ajam mais discretamente para fazer o que tenham de fazer. Mas essas pessoas
fazem. Gostemos delas ou não, elas são atores centrais do momento político - e
merecem, mesmo na saudável divergência, nossa reverência. Cartas são, portanto,
uma manifestação de deferência.
Com
o Sr. Moraes é diferente. Ele até agora não fez e só é ator se o tal
"ministério" que presume dirigir for confundido com um picadeiro.
Dizem os repórteres investigativos que é campeão em usar voos da FAB para ir a
São Paulo, sua casa; que gosta de despachar mais lá do que cá. Visitou em
Curitiba um juiz federal à frente de um complexo de investigações que atinge em
cheio vários cúmplices do "governo" por ele integrado. Fez
salamaleques ao magistrado, não condizentes com a divisão dos poderes, prevista
na Constituição Federal, nem com a estatura que o cargo de ministro de Estado
lhe exigiria, pressuposta a seriedade e legitimidade da investidura. As
conversas nessa visita não foram públicas. Ensejaram ilações sobre conteúdos nada
republicanos.
Depois,
em São Paulo, reuniu-se com policiais federais que atuam em operações do mesmo
complexo investigativo de Curitiba, também sem qualquer esclarecimento
convincente sobre o convescote. A seguir, foi fazer campanha para o candidato
de seu partido a prefeito em Ribeirão Preto, terra do ex-ministro Palocci,
onde, em diálogo com militantes locais do MBL, anunciou, para a semana em
curso, impactante operação. O Sr. Moraes, que se recusa a fazer media training
por se achar muito sagaz no trato com os meios de comunicação, chegou a
gabar-se: "Teve [operação] [n]a semana passada e esta semana vai ter mais,
podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim”.
Não deu outra: naquela semana realizou-se a operação policial lá mesmo, a
culminar na prisão de Palocci, adversário político do prefeito apoiado pelo
"ministro". Foi um desastre comunicativo, para dizer o mínimo.
Claro,
como sugeriria o ministro Gilmar Mendes, mera coincidência! Não teria sido nada
mais do que uma previsão do tempo! Haja cinismo! Em verdade, é mais do que
legítimo vislumbrar-se no episódio uma politiqueira violação de sigilo
funcional para fins de promoção pessoal. E as desculpas que se sucederam não
foram nada convincentes.
Hilário
foi filmete viralizado na rede, em que o Sr. Moraes, que não deve ser muito
afeito a facões (também não sou, mas não poso com elas), capina pés de maconha
na fronteira do Paraguai. Lá se vê, sob um sol escaldante, o burocrático
lavrador, calvície à mostra, um típico egghead, como diriam os ingleses, cheio
de determinação para acabar com a nociva diamba! (Deveria usar um chapéu de
palha, para se proteger). Num momento em que o país vive profunda crise de
credibilidade das instituições e das autoridades, em que prevalece perplexidade
sobre a falta de agenda positiva do que a convenção antes mencionada denomina
"governo Temer", o Sr. Moraes brinda a sociedade com populismo barato
e investe com desajeitado denodo contra o cultivo da maconha, cujo consumo está
prestes a ser liberado por maioria significativa dos ministros do STF. Como
diriam os jovens: "sem noção"!
Mas
as estripulias não param por aí. O Sr. Moraes tem sido intensamente criticado
na mídia por promover uma gestão de ação violenta da polícia e pelo tipo de
advocacia a que se dedicou nos intervalos de sua vida pública. Do insuspeito
Jornal Extra, do grupo Globo, extrai-se:
"Eduardo
Cunha, PCC (Primeiro Comando da Capital) e ocupação estudantil: o que estas
três esferas têm em comum? A resposta está em Alexandre de Moraes, escolhido
por Michel Temer para ser o novo ministro da Justiça. À sua pasta serão
incorporadas as secretarias da Mulher, Igualdade Racial e Direitos Humanos.
Sendo assim, Alexandre comandará o Ministério da Justiça e Cidadania.
Em
dezembro de 2014, ele assumiu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo,
prometendo o fortalecimento da legislação estadual no setor. No entanto, sua
passagem como secretário foi colocada em xeque diversas vezes por conta da
violência supostamente excessiva diante de protestos e atos políticos, como,
por exemplo, as ocupações estudantis das escolas estaduais, que vêm ocorrendo
desde o ano passado.
Em
janeiro deste ano, um protesto realizado pelo MPL (Movimento Passe Livre)
contra aumento de tarifas foi reprimido de forma ostensiva, o que reservou ao
papel de Alexandre uma repercussão negativa diante da opinião pública. Sob sua
gestão na secretaria foram utilizados, pela primeira vez, blindados israelenses
para enfrentar manifestações. De acordo com dados levantados pela TV Globo, a
Polícia Militar foi responsável pela morte de uma em cada quatro pessoas
assassinadas no estado paulista em 2015.
Ainda
em 2015, reportagem do “Estado de S. Paulo” afirmou que Alexandre constava no
Tribunal de Justiça de São Paulo como advogado em pelo menos 123 processos da
área civil da Transcooper. A cooperativa é uma das cinco empresas e associações
que está presente em uma investigação que trilha movimentações de lavagem de
dinheiro e corrupção engendrado pela organização criminosa PCC (Primeiro
Comando da Capital). À época, Alexandre disse, por meio de nota, que “renunciou
a todos os processos que atuava como um dos sócios do escritório de advocacia”
e que estava de licença da OAB durante o período investigado.
No
fim de 2014, pouco antes de assumir a Secretaria de Segurança Pública de São
Paulo, o novo ministro da Justiça pouco defendeu Eduardo Cunha, presidente
afastado da Câmara dos Deputados, em uma ação sobre uso de documento falso em
que conseguiu a absolvição do peemedebista.”
Com
efeito, na condição de Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo
tornou-se notório defensor do uso desproporcional da força pela polícia que
dirigia. Foi nesse período que se deu a violentíssima repressão às
manifestações do movimento pelo passe livre. Numa delas, perdeu a vista,
atingido no olho por bala de borracha, o midiatista Victor Araújo, que estava,
em 7 de setembro de 2013, filmando a repressão policial a movimento de rua em
São Paulo. Não se ouviu nenhuma palavra de satisfação ou desculpa. Pelo
contrário, a violência excessiva era estimulada pela Secretaria de Segurança
Pública dirigida pelo Sr. Moraes. E foram os excessos em São Paulo que
espalharam os protestos Brasil afora naquele ano. Mas o autor de "Direitos
Humanos Fundamentais" (1ª ed. 1997, 11ª ed. 2016) não se incomodou. Sabe
que a teoria na prática é outra. Continuou na linha de ação prepotente de
desrespeito aos mais comezinhos direitos fundamentais, ao direito de
manifestação e ao direito à integridade física e moral. E viu-se apoiado pela
população, quando até a imprensa conservadora tecia ácidas críticas à sua
administração. Da igualmente insuspeita Folha de São Paulo de 13 de janeiro do
ano passado colhe-se o seguinte:
"O
MPL (Movimento Passe Livre) criticou nesta quarta-feira (13) a ação policial
que reprimiu o protesto contra o aumento da tarifa nos transportes da capital
realizado nesta terça.
Em
nota publicada nas redes sociais, o movimento afirmou: "A violência da
polícia, que deixou mais de dez presos e dezenas de feridos, mostra a
verdadeira política de Alckmin e Haddad: defender o lucro dos empresários a
qualquer custo."
"Da
mesma forma, defenderemos nosso direito à cidade e à manifestação. Se a polícia
aumenta a repressão, aumentamos a resistência", afirmou o grupo.
O
segundo ato expressivo contra a alta das tarifas de transporte foi marcado pela
nova estratégia da polícia, que reprimiu a passeata com mais intensidade antes
mesmo dela começar e de haver confronto com "black blocs".
O
secretário de Segurança de São Paulo, Alexandre de Moraes, disse nesta quarta
ter recebido "só elogios à atuação da polícia" para conter o
protesto. Ele disse ainda que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) achou
"ótima a alteração da estratégia" para conter os manifestantes.
O
secretário afirmou que a polícia continuará a tipificar as prisões de
manifestantes como dano ao patrimônio público, como agressões e, em se tratando
de "black blocs", o "manifestante será tipificado como
organização criminosa". Segundo Moraes, desde 2013 a polícia dispõe de
imagens, de dados da internet das manifestações que vão ajudar a
"constituir em uma organização criminosa que quer o vandalismo, que quer
depredar e atacar a polícia".
A
polícia decidiu bloquear a avenida Paulista e revistar manifestantes antes do
começo do protesto e impedir que eles avançassem pela avenida Rebouças. Após
empurra-empurra, lançou bombas de gás, o que acabou dividindo os grupos por
diferentes ruas e provocando correria. Questionado sobre críticas a seu
trabalho, Moraes afirmou: "Até agora, por parte da população, só elogios à
atuação da polícia"."
Para
quem é apoiado por sítio de pornografia política, dá para imaginar quem são
esses indivíduos que lhe fizeram os tais "elogios à atuação da
polícia"!
Não
só a autocrítica não parece ser o forte de nosso Narciso, ora ministro. Tem-se
em alta conta. A última bolacha do pacote. E muito mais haveria de contar a
respeito, para mostrar cabalmente sua falta de vocação para o serviço público,
sua pequenez diante das exigências das funções que lhe foram temerariamente
cometidas. Se quisesse estender o assunto, bastaria cavar no Google.
Ao
que tudo indica, administrar o dia- a-dia da pasta não é com ele. Em agosto suspendeu
todas as ações do ministério por noventa dias e em dezembro prorrogou a
suspensão por mais noventa dias, até março de 2017. Refugiados? - Tanto faz.
Consumidor? - Sossega o facho! Cooperação jurídica internacional? - Deixa isso
com o MPF! Entorpecentes? - Vamos capinar maconha! Estrangeiros? como é que é? Anistiados? - Deixemos esse
assunto morrer! Polícia federal? - Opa, vamos conversar! Arquivo nacional? - O
que? Você queria dizer “salas-cofre”? Sistema penitenciário…? Ah, o sistema
penitenciário!
O
derradeiro episódio protagonizado pelo Sr. Moraes parece ser a gota d'água.
Nele, o "ministro" deu com os burros n'água.
É
sempre bom lembrar que crises penitenciárias no Brasil escravocrata são
recorrentes. Essa não é culpa do Sr. Moraes. É culpa de nossa mentalidade
retrógrada, que vê no preso o lixo da sociedade, a merda a ser decantada num
reservatório de estação de tratamento de esgoto. Somos incapazes de ver no
outro mais fraco, por mais que erre, nosso par e concidadão. Constituímos uma
sociedade cada vez mais despida de empatia.
Direitos
humanos? Não para bandidos! Só para nós. O Brasil torna-se um país em que o
filho pródigo não é acolhido pelo pai. É depositado por seus pais e irmãos
desnaturados nas masmorras ou entregue aos esquadrões da morte. Não temos
compaixão nem pela família do errante! O errante paga contribuição social que
garante a seus entes queridos pensão em caso de morte e em caso de
incapacitação para o trabalho, aí incluída a hipótese da sua prisão. Mas nossos
escribas e fariseus querem que a família morra de fome, ignorando preceito
constitucional que veda ultrapasse a pena a pessoa do inculpado. Esquecem-se
que o pagamento da pensão não é favor, mas obrigação pactuada ex lege.
Claro
que numa sociedade há séculos governada, quase sempre, pelos escribas e
fariseus o massacre do lixo humano não tem nada de mais. "Não tem nenhum
santo" entre os massacrados, disse o governador do Amazonas sobre os
concidadãos trucidados na sua penitenciária.
Os
governos dos últimos 13 anos antes do golpe de 2016 fizeram uma diferença, sim.
Mas nunca conseguiram aplacar a ira dos fariseus e escribas, que promoveram,
contra seus agentes, perseguição implacável, seja pela mídia, seja pela
justiça, seja pelo estamento político. Não se conformaram com a subida dos que
consideravam "pecadores" ao poder. Fariseus e escribas sempre viveram
no self-understanding de que pecar é algo que só se faz ao abrigo de suas leis.
E estas são as leis da hipocrisia, do disfarce, do engodo e, quando necessária
para garantir seu status quo, da violência também.
Foram
os governos dos últimos 13 anos que nos trouxeram a política mais inclusiva
desde o "descobrimento" do Brasil, cheia de falhas e, muitas vezes,
sob severas limitações de sua impotência. Mas esses governos construíram cinco
penitenciárias federais para abrigar líderes de facções sob regime de segurança
diferenciado. Repassaram rios de dinheiro aos estados para o aumento de vagas
no sistema. Passamos a ter nacionalmente um índice relativamente baixo de 1,67
de superpopulação carcerária, o que significa que a cada vaga correspondem 1,67
apenados. Esse índice nos coloca mundialmente em 38° lugar em superpopulação
carcerária, - distantes do ideal, mas
igualmente distantes da posição de lanterninha.
O
que o Sr. Moraes não se deu ao trabalho de estudar é que o problema central do
sistema nem é tanto de vagas, mas de excesso de demora em investigações e
instrução criminal que faz com que 40% dos nossos presos não tenham ainda
condenação transitada em julgado. Em muitos rincões do país a prisão
pré-processual é regra e não exceção, sobretudo quando se lida com os mais
fracos e desassistidos. Para eles, a presunção de inocência não vale nada. A
prisão preventiva passa a ser a forma de antecipação da pena numa justiça que
não merece esse nome, porque tarda e falha por seletividade.
Ademais,
temos um sério problema de gestão penitenciária. Desde sempre. A sociedade não
gosta de investir no "lixo" social. Acha que é dinheiro jogado fora.
Há autoridades que gostam de apontar para o truísmo de que um preso custa 13
vezes mais do que um aluno no ensino público. A comparação é demagógica. É como
dizer que o Brasil não devesse estar no Haiti, porque lá gasta em ação
humanitária mais do que na segurança pública de muita cidade grande
conflagrada. É uma mania de ficar comparando hélice de navio com piano de
cauda, âncora com berimbau ou trilho com picolé! São ações que têm entre si
tanto em comum quanto os glúteos com as calças.
Em
qualquer país do mundo, preso é mais caro que aluno, assim como uma âncora de
petroleiro é mais cara que um berimbau de roda de capoeira. Se o sistema leva a
sério sua missão, o apenado é um aluno em condições especialíssimas, num curso
de re-viver. E gastamos pouco com eles, porque em Pindorama se convencionou que
prisão é só um amontoado de tijolos, cimento e ferragens. Lá se soca gente até
não caber mais. É como fazer a mala jogando infinitas roupas e utensílios nela
e depois, para fechar, pular na tampa, deixando à mostra, nas bordas, partes de
meias, cuecas e calcinhas.
Prisão,
na contemporaneidade, é muito mais que uma masmorra. É, nas nações civilizadas,
um conceito complexo. A pena não expia. Não se trata de retribuir o mal pelo
mal. A retribuição, diria o penalista alemão de saudosa memória, Winfried
Hassemer, é como dar um chute num móvel que nos causou dor quando nele
esbarramos. O móvel continuará lá. Imóvel, se não inamovível. Por isso, punir
só faz sentido olhando para o futuro. Fala-se, então, em funções preventiva
geral e preventiva especial do direito penal. O escopo é buscar que o crime não
se repita. Por isso, estatui-se um exemplo para a sociedade (o efeito
dissuasório, em alemão Abschreckung), de eficiência do aparato persecutório,
deixando clara a mensagem de que quem delinqüe paga. Já no campo individual,
esforça-se o Estado por ensinar ao apenado a levar uma vida digna. Reabilita-o,
cuida de suas feridas n'alma e procura dar-lhe uma nova chance. Estar privado
de liberdade é a punição maior. Entrega, o apenado, parcela do seu tempo de vida
ao Estado, como diria Foucault, para que seja bem aproveitado em favor da
inclusão social. Estigmatizar não ajuda em nada esse processo, porque causa
resistências à sua implementação.
Por
isso os países mais adiantados nessa agenda garantem acomodações individuais a
quem tem mais de um ano de pena a cumprir. Lá, o preso recebe roupa limpa, de
cama e pessoal, e é estimulado ao asseio. Em muitas penitenciárias costuma-se
entregar-lhe um cartão magnético que permite a circulação limitada no
estabelecimento, de acordo com seu grau de progressão disciplinar. Ocorrendo um
motim, todos os cartões são instantaneamente cancelados e o preso fica onde
está, mapeado por sistema de rastreamento feito pelo cartão. Isso, é evidente,
facilita táticas antimotim.
Mas,
no nosso Brasil, estamos longe disso. Temos toda a tecnologia, mas achamos que
gastar com ela não é prioridade. Não temos cursos de arquitetura penitenciária
nem escola de gestão de estabelecimentos prisionais. Construímos prisões novas,
de padrão velho. Algumas ficam baldias, pois os estados estão sem dinheiro para
realizar concurso, contratação e treinamento de agentes penitenciários. Por
isso sugeri a criação de uma Escola Nacional de Gestão Penitenciária e de um
sistema único de distribuição de vagas, para equilibrar a lotação nos
estabelecimentos. Infelizmente não foi possível levar a ideia adiante. O golpe
não deixou.
Transferir
recursos para construção de novas penitenciárias é uma solução simplória.
Talvez o Sr. Moraes devesse ler o relatório do INFOPEN 2014, obra da dedicada
equipe do Doutor Renato Vito, publicada na minha gestão. Tem dados que
demonstram claramente o que foi dito aqui. Mas, quando se glorifica a violência
e se recusa a compaixão com as brasileiras e os brasileiros que perderam seus
entes queridos num massacre quando estavam sob a custódia do Estado, e quando
se mente para fugir da responsabilidade, falar e mostrar o que pode resolver
não basta. É preciso gritar para ser ouvido.
Por
isso, Sr. Moraes, saiba que não me fará calar. Tenho responsabilidade para com
nossa sociedade como derradeiro Ministro da Justiça de um governo legítimo,
derrubado por um arrastão de trombadinhas que queriam reimpor a política ímpia
dos escribas e dos fariseus. Na próxima comichão insopitável de me intimidar e
cassar a palavra dita no livre direito de crítica e manifestação, pense três
vezes. Responda com argumentos ou se recolha. A "porrada" aqui não
cola, pois papai e mamãe, que nunca precisaram me dar palmadas no bumbum, me
ensinaram que quem usa a inteligência usa a boca, e quem dela é desprovida usa
o punho.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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