As
centrais se opõem à nova idade mínima e querem regras menos rígidas para as
mulheres (Foto: Rovena Rosa)
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Apresentada
pelo governo a proposta de reforma da Previdência incomodou as três principais
centrais do País, inclusive a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores
(UGT), que mantêm postura de diálogo com Michel Temer.
Segundo
João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força, a proposta atual
"não passa no Congresso". Ricardo Patah, presidente da UGT, afirma
que a entidade está "contrariada" com as novas regras. Aliado de
Temer, o deputado Paulinho da Força também criticou a proposta. "Não temos
nenhuma condição de aceitar isso."
As
lideranças confiam, porém, que o Legislativo será pressionado pela sociedade a
modificar o projeto. Em reunião na segunda-feira (05/12), Temer sugeriu às
centrais o debate de eventuais alterações no Congresso, "contanto que não
mexam em propostas essenciais", segundo relata Juruna, presente à reunião.
Ao
contrário das lideranças da Força e da UGT, Vagner Freitas, presidente da CUT,
maior organização sindical do País, não reconhece a disposição de Temer para o
diálogo. Segundo ele, a CUT não compareceu à reunião com Temer e as centrais
por entender que o encontro foi organizado de "forma desrespeitosa".
"Ele
não chamou as lideranças para buscar alternativas para melhorar o texto, apenas
para comunicar sua decisão.” Freitas é enfático nas críticas à proposta.
"Somos totalmente contrários ao projeto e discordamos dele em todos os
pontos."
Próximas
ou não de Temer, as centrais rejeitam várias das novas regras, entre elas a
idade mínima de 65 anos, considerada muito alta, a ausência de um modelo menos
rígido para as mulheres, que costumam receber salários menores e enfrentar
jornadas duplas, e a imposição das mudanças aos trabalhadores na ativa.
O
critério etário escolhido para estabelecer quem será atingido pelo novo modelo
também incomoda. Segundo a proposta, um homem com 49 anos e 11 meses seria
obrigado a trabalhar até os 65 anos para ter acesso à Previdência, enquanto
outro com pouco mais de 50 anos seria incluído em uma regra de transição e
permaneceria na ativa por 50% do tempo restante ao que faltava para se
aposentar.
Presente
à reunião, Juruna afirma que Temer sugeriu às centrais debater mudanças com o
próprio Congresso, mas adiantou que a Força não concorda com a versão atual do
projeto. “Da forma como está, essa reforma não passa no Congresso e nem será
aceita pelo conjunto dos trabalhadores”, afirma. “O próprio Temer previu que o
Legislativo pode alterar certas regras, contanto que não mexa em propostas
essenciais.”
Ao
lado de outras centrais, entre elas a CUT, Juruna reuniu-se com o deputado
André Moura (PSC), líder do governo, nesta terça-feira 6 com o objetivo de
garantir “ o máximo de debate” com os parlamentares. “Moura nos passou que quer
estender a discussão até o final do primeiro semestre.”
O
sindicalista defende a revisão da idade mínima anunciada. “Se compararmos com
outros países, ela não parece ser exagerada, mas no Brasil, onde grande parte
dos trabalhadores ingressa muito cedo no mercado, ela é excessiva.”
A
UGT reuniu-se com Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, ontem (06/12).
Segundo Patah, Meirelles apenas detalhou um pouco melhor a proposta apresentada
por Temer e se mostrou aberto ao diálogo. "O governo prevê que o projeto
seja modificado no Congresso".
Embora
ressalte que a disposição da equipe de Temer para o debate é
"positiva", Patah afirma que a UGT está "contrariada" com a
atual proposta. "Na Europa, a idade média do trabalhador que ingressa no
mercado é de mais de 24 anos, no Brasil é de 16.".
Para
o líder sindical da UGT, as regras não deveriam ser aplicadas aos trabalhadores
na ativa. "A expectativa de vida de quem começa a trabalhar hoje pode chegar
a 90 anos, bem maior de quem está atualmente no mercado. Se apenas os novos
trabalhadores fossem afetados, ao menos eles conheceriam e se preparariam para
o novo modelo."
O
presidente da CUT reforça as críticas à idade mínima. “É um absurdo desconhecer
que o início da vida profissional de muitos começa com 14, 15 anos.”, afirma.
“Para eles terem direito à aposentadoria integral, terão de ter 65 anos e quase
50 anos de contribuição. Com quantos anos terão de entrar no mercado? ”
Freitas
critica ainda a falta de uma diferenciação entre homens e mulheres na proposta.
“Elas costumam ganhar salários menores para desempenhar a mesma função, sofrem
mais preconceito para obterem promoções, além de culturalmente estarem mais
submetidas à jornada dupla, às vezes tripla.”
O
presidente da CUT também dispara contra a nova regra que impõe contribuição aos
trabalhadores rurais para se aposentarem. “A Previdência tem a função de manter
a mão-de-obra no campo. Se assim for feito, não vai ter mais produção de
alimentos no Brasil. A não ser que achem possível ao agronegócio cuidar de
tudo. Talvez tenhamos que comer apenas soja daqui para frente. ”
Apesar
das críticas à proposta, Juruna diz que o momento é de debater as mudanças com
parlamentares e preparar mobilizações. “Se o governo está ou não disposto a
negociar, não cabe a nós avaliar. Neste caso, não vale discutir se Temer é
legítimo ou ilegítimo. Dilma também propunha uma Reforma da Previdência. Creio
que temos de focar em discutir a proposta no Legislativo.”
Patah
está confiante de que a projeto atual será modificado. "Ao contrário da
PEC 241, que limita o aumento dos gastos públicos, prevejo uma enorme comoção
nacional em relação à Previdência. Haverá pressão de milhões de
brasileiros."
A
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 248 apresentada por Temer exige que o
trabalhador, seja homem ou mulher, contribua durante ao menos 25 anos com o
Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e tenha uma idade mínima de 65 anos
de idade para ter acesso ao benefício.
De
acordo com as regras atuais, o trabalhador pode escolher entre a aposentadoria
por idade, com limites de 65 anos para homens e 60 para mulheres, ou por tempo
de contribuição, fixados em 35 e 30 anos, respectivamente.
No
novo modelo, o trabalhador não terá direito à aposentadoria integral mesmo que
contribua por 25 anos. Por exemplo, se um trabalhador contribuir com uma média
de 2.000 reais durante 25 anos, ele receberá uma aposentadoria de apenas 1.520
reais quando chegar aos 65 anos de idade.
Para
ter acesso ao benefício integral da aposentadoria, o trabalhador terá de
encarar, segundo a nova proposta, no mínimo 49 anos de trabalho formal. As
regras valeriam para homens com menos de 50 anos e mulheres com idade inferior
a 45.
No
caso dos servidores públicos, será extinta a chamada "integralidade",
ou seja, o recebimento da aposentadoria com base no salário integral do
servidor. Já os trabalhadores rurais deverão fazer contribuições obrigatórias
para a Previdência Social para ter direito à aposentadoria. Hoje os produtores
rurais conseguem se aposentar sem contribuir.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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