Alguém
tem motivo para se surpreender com o que está acontecendo com o Brasil? Ou com
o triste espetáculo da Presidência de Michel Temer?
Sete
meses depois do afastamento de Dilma Rousseff, o previsível aconteceu: tudo
piorou no País, a economia patina, as pessoas estão mal e a política perde a
pequena legitimidade que possuía. Confirmou-se aquilo que a opinião pública
esperava.
Entre
dezembro de 2015 e o início de agosto de 2016, a proporção dos que entendiam que “o impeachment não é a solução
dos problemas do Brasil” subiu de 57% para 73%, de acordo com pesquisas do
instituto Vox Populi.
Como
se vê, descontados os 4% que não sabiam responder, na véspera da aprovação do
impedimento de Dilma pelo Senado, nem uma em cada quatro pessoas confiava na
“solução” que nossas elites tinham para oferecer em resposta à crise que, em
grande parte, elas mesmas criaram. Passaram-se os meses e a realidade dá razão
aos pessimistas.
Outro
dia, um dos principais expoentes do mercado financeiro, o banqueiro Luis
Stuhlberger, foi franco: “O Brasil acordou lá em julho sem ter que ver Dilma ou
Lula elogiando Fidel Castro ou Hugo Chávez. Isso deu um ânimo... (mas), no
fundo, isso era a lua de mel”.
O
problema, para o conjunto de forças sociais, empresariais e políticas que se
articulou para retomar o controle do Estado e afastar o PT do governo, é que o
tempo anda. Logo, logo, 2017 irá passando e as futuras eleições presidenciais
estarão cada vez mais próximas.
Os
condôminos do bloco governista dão sinais claros de como se comportarão.
Enquanto Temer procura manter sua base no Congresso, dispondo-se a entregar
anéis e dedos, seus aliados no PSDB querem distância. Nada muito diferente de
Dilma Rousseff nos estertores finais.
Sabíamos
diversas coisas a respeito de Temer antes da posse, seu passado nebuloso, seus
amigos complicados, sua mediocridade. Em 40 anos de vida pública, nem sequer um
momento de grandeza. Nada além de um personagem de bastidor, um profissional
das pequenas articulações, útil a quem tem projetos, mas incapaz de
formulá-los.
No
governo, sua avaliação positiva é a mais baixa que já vimos. A vasta maioria da
população não o engoliu. Vai mal na missão impossível que lhe deram, de
executar uma agenda impopular sem possuir legitimidade ou respeitabilidade.
Foi
prepotência dos autores do golpe imaginar que chegaríamos a este dezembro em
condições diferentes. Julgaram-se capazes de tudo: aniquilar Lula e o PT,
transformar Michel Temer em estadista, aplicar um “remédio amargo, mas eficaz”
na economia e preparar-se para a vitória em 2018.
A
ilusão da “lua de mel” acabou. Lula permanece como favorito na próxima eleição,
o governo Temer está sendo tão ruim como se acreditava, a política econômica
claudica. Na coalizão que tomou o governo, todo mundo briga e ninguém tem
razão.
Calcularam
mal ao apostar que os velhos veículos de comunicação ainda eram tão poderosos
como foram no passado. Enganaram-se supondo que a TV Globo e seus satélites
impressos formariam as opiniões que desejavam.
Erraram
ao achar que conseguiriam interromper a qualquer hora a atuação das brigadas
rebeladas do Judiciário, do Ministério Público e das polícias, desligando-as da
tomada quando tivessem cumprido a tarefa de exterminar o PT. Temer, seu governo
e as lideranças que desfecharam o golpe passaram a ser alvo, enquanto a
violência contra Lula suscita crescentes reações internas e externas.
Por
onipotência, imaginaram que levariam para as ruas os radicais de direita e os
tirariam de lá depois que deixassem de ser úteis. O fanatismo desses
personagens vira-os agora contra seus incentivadores.
Foi
presunção impor sua receita “infalível” para solucionar os males da economia. A
persistência da crise desmoraliza o golpe, desorganiza o frágil governo Temer e
aponta para o provável desembarque de partidos como o PSDB de sua base de
sustentação.
É
possível que chegue o dia em que nossas elites olhem com remorso para o que
fizeram. Se não fossem tão prepotentes, quem sabe não estariam, agora, em
situação melhor, vendo, de camarote, os percalços do governo Dilma e prontas a
se oferecer ao País como saída legítima. Caso não tivessem pressa em retomar o
Estado, talvez terminasse lhes sendo mais fácil consegui-lo.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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