Estive na tarde desta sexta-feira (25/11) utilizando o
plenário da Câmara Municipal de Altaneira. No ensejo, falei sobre a simbologia
do Dia Nacional da Consciência Negra e de diversos temas correlacionados ao
dia, como por exemplo, o racismo, a intolerância religiosa, a
representatividade (ou a falta dela) negra nos espaços de poder e das
desigualdades social e racial oriundos deles.
Para tanto, trouxe dados do IBGE apontando que
mais da metade da população no Brasil (53%) é negra. Fora do continente
africano, o Brasil é o país mais negro do mundo. De acordo com o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), jovens de pela negra possuem quatro vezes
mais chances de morrer do que um branco. Afirmei ainda que foi esse mesmo
instituto o revelador de um dado alarmante - as mulheres negras ocupando as
mesmas funções de brancos e brancas ainda recebem os menores salários.
A educação também mereceu destaque. Aqui, a chance
de um negro ser alfabetizado é cinco vezes menor do que um branco. No nível
superior a realidade é praticamente a mesma. Somente uma a cada quatro pessoas
formadas é negra. Sem contar os inúmeros casos de discriminação e racismo que
crianças e jovens de pela negra sofrem todos os dias nas salas de aulas. Muitos
inclusive abandonam as escolas por não serem capazes de superar esse câncer que
assola o país desde da invasão dos portugueses.
Fora dos ambientes de ensino, disse aos vereadores
e vereadoras, as pessoas negras que estão em situações de extrema pobreza
representam mais de 70%, ao passo que 80% dos ricos nesse pais é representado
por pessoas brancas.
Nessa realidade tão desumana ao qual negros e
negras estão submetidos, não podia esquecer de convidar os parlamentares para
refletir sobre outros dados que de igual modo incomoda o movimento negro, mas
que a elite política, a mídia e grande parte da sociedade tem fechado os olhos.
Mais da metade da população que precisa do SUS é negra e se percebe todos os
dias o sucateamento da saúde, inclusive com sérias ameaças de piorar se a PEC
55 for aprovada. Mencionei que a cor da pele no Brasil é referência para ocupar
cargos públicos e tem determinado o tempo de vida. Fundamentei essa assertiva
ao apresentar o Mapa da Violência deste ano decorrente de um estudo do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública e do IPEA. Por ele, verificou-se que em 10 anos
os homicídios de mulheres negras aumentaram 62%. Se somar os gêneros, a cada 12
minutos um(a) negro(a) é assassinado no Brasil.
Mereceu registro ainda o fato de que a grande
maioria das pessoas que estão nas delegacias ser de pela negra(75%) e que não
somos representados nos espaços de poder na medida em que somos apenas 15% dos
juízes; 30% no senado; 20% na câmara federal e não temos nenhuma representação
de ministros no STF. O ministério do atual governo é composto por homens
brancos.
Poucos foram as conquistas, mas as que
conquistamos são provenientes de muita luta e reivindicação dos movimentos
negros e demais pessoas, como as leis de cotas em concursos públicos e
universidades - mas que precisa ser ampliada para outros municípios e
universidades, inclusive para a URCA - o Estatuto da Igualdade Racial e as Leis
10.639/03 e 11.645/08 que obriga o estudo da cultura africana e afro-brasileira
e da cultura indígena, nas escolas, respectivamente.
Por ultimo, convidei os edis a pensar e refletir
sobre o teste do pescoço, ficando os agradecimentos pelo espaço concedido e as
intervenções feitas e afirmei que a luta tem que ser diária. Lutemos até que
nossas vozes sejam ouvidas e levadas em consideração. Lutemos até que tenhamos
a história africana e afro-brasileira nos livros didáticos contada pelo viés
negro. Lutemos até que não haja mais racismo. Lutemos e resistiremos até que
tenhamos igualdade de oportunidade nos espaços de poder, afinal não há
democracia racial e a miscigenação para nós é vista como um perigo e uma fonte
inesgotável para mascarar o racismo.
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