A
complexidade crescente a que vem chegando o conhecimento o impulsiona para o
centro na escala político-ideológica. Isso é natural, pois os melhores caminhos
para o sucesso têm se provado ao longo da história os equilibrados, capazes de
maximizar aspectos positivos e minimizar os negativos de tudo na vida.
Não
se está a defender o “em cima do muro”, nem a “coluna do meio”. É mais
complexo.
O
administrador público deve tomar medidas com fins aparentemente contraditórios,
mas que apresentam um grande resultado em interação, maximizando ao mesmo tempo
eficiência e equidade, liberdade e igualdade.
Quanto
mais desenvolvidos os países e suas sociedades, nota-se um menor grau de
radicalismo. Não é que não existam radicais na Suécia, mas o seu número é
proporcionalmente muito menor do que no Brasil.
Alguns
dos países mais desenvolvidos, como a Austrália, parecem um eterno canteiro de
reformas institucionais. Revisões das políticas são também constantes e
mudanças estruturais acontecem com certa normalidade, pois há mais debates e
menor grau de discordância.
Vide
o exemplo da criação do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) australiano no ano
2000, que enfrentou problemas muito semelhantes aos brasileiros, onde se pensa
ser impossível criá-lo.
Isso
explica boa parte do sucesso australiano, povo que consegue estar entre os 10
mais avançados do mundo em quase todas as políticas públicas. Os sistemas
político, previdenciário, tributário, educacional etc. australianos são
exemplos a serem estudados e usados como modelos para imaginação de reformas no
Brasil.
A
capacidade de atingir visões mais complexas e equilibradas é parte do progresso
do ser humano, intrínseca à sua própria natureza. Os milhares de anos
conhecidos de história na Terra revelam que o homem é um ser rumo ao progresso
e à complexidade.
A
história mais primitiva humana, de até alguns séculos atrás, era construída com
base em conquistas de povos. As táticas de exploração precisaram ser
aperfeiçoadas, foram diminuídas em certa medida e, fatalmente, deixarão de
existir na medida em que as relações e instituições progridam no futuro.
O
fim da escravidão institucionalizada, a diminuição de um tratamento desigual às
mulheres, a criação de direitos sociais; inúmeros são os exemplos de evolução
humana num sentido de maior agregação, reduzir tratamentos discriminatórios,
atenuar dualismos e reducionismos nas visões humanas.
Tudo
isso acontece, no entanto, num processo lento de progresso, cabendo ao homem
acelerá-lo sem radicalismos que levem, por exemplo, à inversão da chave para o
outro lado. Por exemplo, a proteção de minorias desprivilegiadas não pode
descambar para atitudes de revanchismo e agressividade.
Na
política, é cada vez mais claro que não existe liberdade sem igualdade e
solidariedade, e vice-versa. Na economia, é cada vez mais claro que eficiência
não vive sem equidade, e vice-versa.
Para
uma vida melhor, o objetivo deve ser mudar as instituições sociais gradualmente
com o fim de avançar nas reduções de desigualdade até um ponto no qual as
liberdades da maioria e a eficiência econômica não sejam muito minimizadas.
Partindo
desse pressuposto, os discursos tradicionais de direita e de esquerda, aqueles
menos centrados, perdem a sua força, tendem a minguar e a desaparecer no
futuro.
Em
sociedades mais avançadas, as discussões girarão em torno de detalhes sobre os
problemas específicos – analisados com dados históricos em perspectivas
dinâmicas e complexas – e as propostas para solucioná-los, ficando as
ideologias mais próximas umas das outras.
No
futuro, haverá apenas centro-direita e centro-esquerda, que, talvez, continuem
sendo denominadas de direita e esquerda, porém ressignificadas.
A
função do homem que quer, de fato, ver o progresso do todo, o que exige a
diminuição das desigualdades geradas pelas instituições, por injustiças do
presente e do passado, é compreender como isso poderá se dar no futuro,
identificar os meios e servir como um catalizador para que o progresso seja
acelerado.
Não
é uma questão de “se”. A tarefa do progressista é ser uma espécie de profeta.
Cabe a ele imaginar o futuro e estender a imaginação ao redenho institucional
que possa levar mais rapidamente a ele.
Na
política brasileira, percebe-se que nem o discurso majoritário de direita, nem
o de esquerda servem para solucionar os problemas do País.
DEM,
PSDB, PMDB, PP e outros são partidos, em geral, conservadores de direita, que
servem ao poder do capital e apenas querem manter boa parte das relações para
lucrar a partir delas.
PT,
PC do B e outros são partidos, em geral, conservadores de esquerda, pois, após
13 anos e alguns meses à frente do País não mudaram quase nada de forma estrutural
e pouco tentaram.
Os
dois lados se mostraram corruptos e populistas. É preciso encontrar novas
lideranças que desenvolvam uma linha política conhecedora dos problemas
nacionais, técnica, complexa, profunda, imaginativa, experimental, gradual e
responsável.
Não
há, portanto, identificação entre esquerdismo e progressismo, como muitos
pensam. O bom progressista quer avançar rapidamente, ainda que de forma
experimental e gradual, mas ele não aceita revoluções violentas, nem apenas
atenuar socialmente os terríveis resultados das atuais instituições, pois esse
caminho muda pouco a realidade.
O
bom progressista é equilibrado, centralizado, e deve ser um catalizador dos
grandes avanços, que apenas podem ser obtidos por meio da ascensão do máximo de
seres humanos sob os ângulos intelectual, moral e socioeconômico.
Ele
não busca igualar todos, pois cada um é feito pelas suas escolhas, esforços e
talentos, de modo que a meritocracia justa, aquela que garante igualdade de
pontos de partida, de oportunidades, é um dos cernes do bom progressista.
Essa
parece ser a linha que Ciro Gomes vem buscando, mas que já adota há algum tempo
e estava indicada desde a publicação do seu livro O próximo passo: uma
alternativa prática ao neoliberalismo em coautoria com Roberto Mangabeira
Unger, professor de Harvard e talvez o maior pensador progressista vivo.
Assim
como os países mais desenvolvidos dificilmente seguem hoje políticas
neoliberais ou nacionais populistas, como fazem a maior parte do PSDB e do PT,
Ciro vem, há algum tempo, defendendo uma linha mais centralizada, negadora de
medidas que privilegiem com cegueira a eficiência ou a equidade, a liberdade ou
a igualdade.
A
sua proposta parece ser nem ficar apenas na cegueira neoliberal de
privatizações mal pensadas e favorecimento do rentismo, nem na cegueira de
concessões sociais limitadas e de intervenções mal feitas na economia.
A
única saída para mudar o Brasil é reformar a política, a administração pública,
a tributação, a previdência, a educação e outas estruturas básicas do país de
modo a elevar a eficiência econômica e a igualdade de oportunidades ao mesmo
tempo. Sim, é possível.
O
progresso social, que exige tratamento desigual dos desiguais, no sentido de um
cenário de oportunidades similares para todos, deixando o sucesso dependente
apenas das escolhas, do esforço e do talento de cada um, passa por mudanças
drásticas, mas realizadas gradual e experimentalmente com visões
interconectadas de curto, médio e longo prazo.
Para
não haver confusões entre essa esquerda que é alvo de inúmeras críticas hoje –
muitas delas merecidas, outras inventadas pelos adversários – o projeto de Ciro
Gomes deveria ser chamar de centro-progressista.
O
centro-progressismo consiste na busca pelo progresso socioeconômico inclusivo
de forma equilibrada, igualando ao máximo os pontos de partida e, então,
valorizando ao máximo os méritos, o que deve se refletir em foco na saúde, na
educação, na redução de desigualdades e numa relação na qual o Estado prepare
um cenário institucional ótimo para que o mercado, sob a sua supervisão, mas
com boa liberdade, busque, de fato, ser digno de méritos, e não de privilégios.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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