Com
a voz embargada, o coração acelerado e nervosa diante de uma plateia hostil, a
jovem Ana Júlia, secundarista de apenas 16 anos, não arrancou aplausos da
maioria dos deputados e do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, que
queria lhe cortar a palavra, mas emocionou a todos que assistiram o vídeo com o
seu discurso e nos deixou mais esperançosos na semana em que a PEC 241 foi
aprovada pela Câmara Federal.
Ana
Júlia disse que em uma semana de ocupação ela e seus companheiros aprenderam
mais do que todos os anos que ela passou nos bancos escolares. Ao mesmo tempo,
podemos dizer que os dez minutos em que Ana Júlia gastou na tribuna ensinaram
mais do que todos os discursos que os deputados fazem por anos naquela casa
legislativa.
As
ocupações de escolas têm servido de verdadeiro aprendizado para toda uma
geração. Não é o aprendizado dos livros didáticos enfadonhos, é o conhecimento
mais difícil de se conseguir, pois depende da participação direta nos processos
históricos. Somente algumas gerações têm o privilégio de participarem de
processos como estes. Na década de 80, uma geração inteira de secundaristas
viveu o ascenso das grandes manifestações pelas Diretas Já! Dentro das escolas,
o clima contra a ditadura se manifestava na luta pela constituição dos grêmios
livres em oposição aos centros cívicos tutelados pelas direções de escola. As
grandes mobilizações operárias e estudantis se contagiavam mutuamente e
resultaram na derrubada da ditadura e nas conquistas da Constituição de 1988.
Hoje,
podemos dizer que vivemos um processo oposto. Um golpe parlamentar a serviço de
rasgar a constituição de 1988 congelando os gastos em saúde, educação e
proteção social. Projetos conservadores como a Lei da Mordaça que pretendem,
como disse Ana Júlia, criar um “exército de não pensantes” e a Reforma do
Ensino Médio que vai na contramão da universalização da educação básica com o
objetivo de abrir um novo mercado para as empresas explorarem.
Duas
gerações divididas pelo tempo de duas décadas, a que conquistou a constituição
de 1988 e a que vê a carta sendo rasgada. Dois signos opostos na situação
brasileira, mas uma mesma lição: a luta coletiva é o maior aprendizado que os
explorados e oprimidos podem adquirir. Ele não se perde, ele é histórico e passa
através das gerações pelo tempo. Ele semeia a terra da luta de classes e
floresce depois, quando menos esperamos.
As
lições de Ana Júlia são as dessa geração, que ocupou escolas em São Paulo no
ano passado e derrotou o governo Geraldo Alckmin no projeto da reorganização
escolar. Também dos jovens que saíram às ruas em junho de 2013 e que derrotaram
o aumento das passagens. Uma geração que nada contra a corrente, contra um
avassalador projeto de recolonização do nosso país e da imposição de inúmeros retrocessos
sociais e políticos.
Mas
cada geração ensina de forma diferente. As ocupações de hoje estão ensinando
coisas que haviam se perdido. As decisões coletivas, as divisões de tarefas, a
não reprodução das opressões no movimento, a coragem para enfrentar a repressão
e tantas outras. Ana Júlia é só um
pequeno exemplo do exército que se forma nas ocupações do Paraná e nas demais
escolas e universidades no país. Não é o “exército de não pensantes”, são
sujeitos críticos fazendo história.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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