Em sua página oficial no Facebook, o MBL encampou a campanha contra as ocupações |
As
ocupações de escolas no Paraná mostraram uma nova frente de atuação do
Movimento Brasil Livre (MBL), conhecido por ter liderado os protestos pelo
impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Desde que o movimento de
secundaristas ganhou força no Estado e se espalhou por mais de mil escolas no
Brasil, integrantes e líderes do grupo passaram a rivalizar com os estudantes.
A
estratégia ficou mais evidente na noite desta quinta-feira 27, quando o MBL
levou dezenas de pessoas para a frente da Colégio Lysimaco Ferreira da Costa,
em Curitiba. O grupo cercou a escola para pressionar pela desocupação dos
secundaristas. A situação fez com que a Polícia Militar fosse chamada para
evitar um conflito entre as duas partes. Isso porque movimentos favoráveis aos
secundaristas também foram ao colégio quando souberam da tentativa.
As
ocupações de escolas começaram no Paraná no início de outubro após a publicação
da MP 746, que impôs uma reforma do ensino médio sem que o tema fosse debatido
com a sociedade brasileira. No entanto, o movimento dos secundaristas ganhou
ainda mais força quando levantou bandeira também contra a PEC 241, a principal
pauta econômica do governo Michel Temer. A proposta do Ministério da Fazenda
congela os gastos com despesas primárias por 20 anos, entre elas saúde e educação.
Algumas
semanas antes do início das ocupações de escolas, o MBL foi chamado pelo
governo Temer, em Brasília, para discutir como “tornar as reformas mais
palatáveis”. Na época, segundo o jornal Folha de S.Paulo, Renan Santos, um dos
líderes do grupo, chegou a se encontrar com Moreira Franco, homem forte do
governo, que é secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).
Ao
jornal, Renan Santos chegou a dizer que não era “má ideia” ajudar a
administração federal. Ainda de acordo com o jornal, a ideia do governo federa
era aproveitar “a expertise de mobilização da MBL” para temas como a reforma
previdenciária, trabalhista e a PEC 241.
Moreira
Franco é acusado pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha de
receber propina para liberação de verbas de financiamento para as obras do
Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.
O
próprio Renan Santos está no Paraná, há alguns dias, para liderar as ações do
grupo. O jovem era um dos presentes na escola Lysimaco Ferreira da Costa no
momento em que houve a confusão com os grupos favoráveis às ocupações. Em um
vídeo de um youtuber, ligado ao movimento, Santos aparece mandando um “beijinho
no ombro aos esquerdistas” na frente do colégio. Na sequência, o youtuber o
classifica como “o maior golpista do Brasil”.
Em
vídeos, o MBL classifica o movimento dos secundaristas de “vagabundos” e
“extrema-esquerda”, atrelando-os a grupos como a União Brasileira dos
Estudantes Secundaristas (Ubes) e União Nacional dos Estudantes (UNE). No
entanto, em vários colégios visitados pela reportagem de CartaCapital, os
secundaristas se apresentem como independentes, rejeitam colocação de bandeiras
partidárias e fazem duras críticas aos jovens que lideram essas uniões
estudantis.
Alguns
estudantes secundaristas atribuem ao MBL tentativas de invasão nas escolas, bem
como ataques com pedras e rojões para assustar os jovens. Nenhum dos
adolescentes conseguiu, no entanto, mostrar à reportagem elementos que
comprovassem relação entre o movimento e esses episódios.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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