Apesar da chuva, a festa de encerramento da Rio 2016 acabou em carnaval no Maracanã (Foto: Kevin Lamarque) |
Em
uma festa que reforçou o que tem de melhor e extrapolou as fronteiras
fluminenses para falar da arte e cultura nacional, o Rio de Janeiro se despediu
dos Jogos Olímpicos na noite deste domingo (21/08), em cerimônia realizada no
Estádio do Maracanã. Em espetáculo pensado para ressaltar a criatividade do
brasileiro e sua capacidade de criar com as próprias mãos, o tom foi de
celebração e congraçamento.
No
Maracanã, os mais de 200 países que participaram da Olimpíada de 2016 deram
adeus ao Rio de Janeiro em uma cerimônia realizada sob chuva e com direito mais
uma vez a muita música brasileira, principalmene o samba.
Em
comparação à cerimônia de abertura, o encerramento teve orçamento e tempo
reduzido, o que tradicionalmente acontece em Jogos Olímpicos. Além de receber
um aporte financeiro menor, com cifras finais não reveladas pelos
organizadores, a apresentação final também é mais curta. Enquanto a abertura se
estendeu por quatro horas, o encerramento teve duração de 2h30.
A
grande quantidade de lugares vazios, especialmente os mais próximos do gramado,
chamou a atenção. O Maracanã ficou bem mais vazio do que na final do futebol
masculino, disputada no dia anterior no mesmo estádio. Além disso, outros
empecilhos testaram os criadores do espetáculo: o ensaio geral das coreografias
só pode ser realizado horas antes do início da cerimônia. O tempo também não
colaborou, com chuva, frio e ventos fortes durante quase toda a cerimônia.
A imagem do Cristo Redentor, um dos cartões postais, iluminou o Estádio do Maracanã (Foto: Powel Kopczynski) |
Diante
das limitações impostas pelo local da cerimônia, como o pouco espaço
disponível, os lugares no nível do campo e as portas com menos de dois metros
de altura, recursos artísticos que funcionaram na abertura, como projeções e
coreografias, foram novamente utilizados.
Figura
que dividiu brasileiros e norte-americanos durante a cerimônia de abertura,
Santos Dumont voltou a ser evocado no encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio
de Janeiro. Fotos históricas do inventor foram mostradas no telão do Maracanã.
O personagem histórico, interpretado pelo ator Tuca Andrade, conferiu que era
hora da festa começar em um relógio de pulso, uma de suas invenções. Projeções
de engrenagens foram exibidas no chão do estádio, encerrando o breve ato
inicial da festa.
Alguns
dos cartões postais do Rio de Janeiro, como os Arcos da Lapa, o Cristo Redentor
e o Pão de Açúcar, tiveram suas formas moldadas pelos dançarinos. No total,
três mil pessoas integram o elenco, sendo 300 dançarinos profissionais e 2,7
mil voluntários. O norte-americano Bryn Walters, um dos maiores especialistas
em coreografias de massa e montagem e responsável pelas aberturas de Atenas
2004 e Londres 2012, assinou a coreografia do show.
O
Hino Nacional brasileiro foi executado no batuque da percussão e entoado por um
coro de crianças, representando cada uma das estrelas da bandeira do país,
projetada no chão do estádio.
Delegações dos países que participaram da Rio 2016 desfilam no Maracanã (Foto: Vasily Fedosenko) |
Em
seguida, teve início a parada dos atletas, em um clima bem mais informal e
descontraído do que se viu no dia 5 de agosto. Os competidores entraram em uma
fila única, ao longo de um corredor formado pelos porta-bandeiras, em uma
grande confraternização ditada por música eletrônica, repente e frevo.
O
ato seguinte contou a história da arte popular brasileira, em suas diversas
manifestações e extrapolando as fronteiras da cidade-sede. As pinturas e
gravuras rupestres encontradas no parque arqueológico da Serra da Capivara, no
Piauí, ganharam vida com movimentos coreografados. No chamado "momento
lembrança", Arnaldo Antunes declamou o poema "Saudade", de sua
autoria, evocando a palavra que só existe em língua portuguesa.
A
tradição das rendeiras foi exaltada ao som da tradicional canção "Mulher
Rendeira", entoado pelas Ganhadeiras de Itapuã, grupo que resgata as
antigas tradições do bairro de Salvador. Uma projeção criou a ilusão de que uma
renda tinha sido tecida no chão do estádio. Em seguida, o grupo Corpo
apresentou um trecho do espetáculo Parabelo, em ritmo de forró.
O
público levantou-se logo nos primeiros acordes de "Asa Branca", uma
das canções mais conhecidas de Luiz Gonzaga, improvisando uma ciranda nas
arquibancadas. Em homenagem a mestre Vitalino e suas esculturas, os dançarinos
foram caracterizados como bonecos de barro e mostraram passos do forró.
Repetindo
uma tradição olímpica, a cerimônia de premiação da maratona masculina aconteceu
no meio do encerramento, na entrega das últimas medalhas dos Jogos. O ouro
ficou com o queniano Eliud Kipchoge, a prata com o etíope Feyisa Lilesa e o
bronze com o norte-americano Galen Rupp. Na apresentação dos atletas
recém-eleitos para compor a Comissão dos Atletas do Comitê Olímpico
Internacional (COI), a mais aplaudida foi a saltadora russa Yelena Isinbayeva.
Depois
da homenagem aos voluntários da Rio 2016, em que o cantor Lenine apresentou uma
versão feita para eles de sua música Jack Soul Brasileiro, a bandeira da Grécia
foi hasteada e o hino do país entoado para o recolhimento da bandeira olímpica.
Na
passagem para a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, o prefeito Eduardo Paes
foi anunciado e acabou sendo muito vaiado. Em seu discurso, o presidente do
COI, Thomas Bach, pontuou, em português: “Valeu, Brasil! Esses foram Jogos
Olímpicos maravilhosos, na Cidade Maravilhosa”.
Os japoneses, anfitriões da Olimpíada de 2020, mostraram o que farão em Tóquio (Foto: Toby Melville) |
Os
próximos anfitriões também tiveram tempo de mostrar o que querem fazer daqui a
quatro anos, em Tóquio. Em uma apresentação que começou com o hino japonês, se
observou uma mistura de luzes, formas geométricas, tambores tradicionais
(taikos) e a cultura dos videogames.
Os
espectadores vibraram no momento em que o personagem Mario deixou a animação
exibida no telão para "saltar" de um cano montado no centro do
estádio. Na verdade, era o primeiro-ministro japonês, Shinz Abe, com os trajes
do famoso encanador do mundo virtual.
Os
japoneses também fizeram questão de agradecer, por meio de projeções da palavra
"arigato" (que quer dizer obrigado) em vários idiomas, expressando
gratidão ao mundo pela solidariedade e apoio prestados após o terremoto que
devastou o país em 2011. No fim, eles fizeram o convite: "vejo você em
Tóquio”.
Chuva
No
momento em que Bach declarou os Jogos Olímpicos encerrados, um lamento ecoou
das arquibancadas. A chama olímpica foi apagada em um ato cheio de simbolismo.
Enquanto a cantora Mariene de Castro interpretava a música Pelo tempo que
durar, de Marisa Monte e Adriana Calcanhoto, uma chuva, que representa a
abundância das águas tropicais, caiu sobre a pira, extinguindo o fogo.
A
mensagem passada, no entanto, foi de renovação. Um grande árvore feita de
cordas foi içada no centro da cena, em meio a colorida representação da flora
brasileira, reforçando o início de um novo ciclo.
E
o Maracanã virou carnaval com a chegada do Cordão do Bola Preta e de
integrantes de escolas de samba, embalados pela marchinha “Cidade Maravilhosa”,
hino da cidade do Rio de Janeiro.
O
público ficou de pé para cantar as marchinhas que ganham o carnaval de rua e
sambas-enredos consagrados. A festa ficou completa com a chegada de um carro
alegórico, convidando os atletas a tomarem o gramado e acompanharem os fogos de
artifício. Só faltou avisar que a festa tinha acabado: atletas, voluntários e o
público continuou dançando, ao som do samba tocado nos alto-falantes, como se
os Jogos estivessem só começando.
Com
informações Agência Brasil
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