Plenário do Senado Federal quase vazio ao final da Sessão (Foto: Edilson Rodrigues) |
Com
o discurso do senador Romário (PSB-RJ) foi encerrada a fase de pronunciamento
dos senadores no julgamento final do processo de impeachment da presidenta
afastada, Dilma Rousseff. No total, 67 senadores se inscreveram, mas quatro
desistiram de discursar. Posteriormente Romário se inscreveu, para chegar ao
número final de 63 inscritos. Destes, 18 falaram a favor do impeachment, 44
contra e um não declarou abertamente sua intenção de voto.
Em
seu discurso, Romário disse ser favorável ao impeachment e não imaginava
cumprir o papel de juiz em um processo de impedimento. “É um momento triste
quando se decide afastar uma presidente da República”, disse. O senador disse
estar convencido que Dilma cometeu crime de responsabilidade. “Estou convencido
pelos fatos e amparado pela minha consciência”.
Em
uma fala rápida, de menos de cinco minutos, Romário falou em superação da crise
e união do país após o afastamento definitivo de Dilma. Ao falar sobre a
necessidade de reformas, o senador afirmou que não apoiará propostas que
queiram retirar direitos e garantias sociais. “Não apoiarei nenhuma medida que
retire conquistas sociais dos trabalhadores. É pelas mãos deles que sairemos
dessa situação”, disse.
A
sessão dessa terça-feira (30) durou quase 17 horas, incluindo as falas da
defesa e da acusação e os discursos dos senadores. Os discursos duraram cerca
de 12 horas, tendo iniciado por volta das 14h30 e se encerrado cerca de 2h30 da
quarta-feira (31).
Após
o voto de Romário, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
Ricardo Lewandowski, que conduz os trabalhos no Senado, disse que a sessão
final para votação do julgamento do impeachment da presidenta afastada Dilma
Roussef vai ser retomada hoje (31), a partir das 11h. Para o impedimento
definitivo, são necessários ao menos 54 votos entre os 81 senadores.
Cada
senador teve 10 minutos para falar da tribuna na etapa de discursos. O primeiro
da lista foi Gladson Cameli (PP-AC). Em seguida foi a vez do relator do
processo de impeachment na comissão especial do Senado, o tucano Antonio
Anastasia (MG), que reafirmou que houve crime de responsabilidade.
Primeiro
presidente na história do país a sofrer um impeachment, em 1992, o senador
Fernando Collor de Mello (PTB-AL) subiu à tribuna do Senado para declarar que
votará favorável ao impedimento da presidenta afastada Dilma Rousseff. Ao embasar
seu voto, o ex-presidente aproveitou para provocar movimentos que, em 1992,
pediram a sua condenação e hoje defendem o governo petista.
“Faço
minhas, hoje, as palavras de dois documentos daquele período”, disse, citando
primeiro uma nota assinada em 1º de julho de 1992, por várias entidades, entre
elas Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Central Única dos
Trabalhadores (CUT), CGT e União Nacional dos Estudantes (UNE).
Ex-ministro
da Integração Nacional durante o primeiro governo de Dilma, o senador Fernando
Bezerra Coelho (PSB-PE) subiu na tribuna e declarou seu voto favorável ao
impeachment. O senador também participou do processo que resultou no
impeachment de Collor. “Que não tenhamos ilusões: o novo governo, que poderá
ser inaugurado com o nosso voto, é um governo de transição, cujo objetivo
principal é reconciliar a Nação, apostando no diálogo para a retomada da
confiança, a volta do investimento e para o fortalecimento das nossas
instituições e do regime democrático”, disse.
O
ex-ministro de Dilma, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), negou em sua fala a
tese sustentada pela defesa de que esteja em curso um golpe parlamentar contra
a presidente afastada. Para o senador, houve manipulação das contas públicas
com os decretos de crédito suplementar. "Não estamos julgando apenas atos,
estamos julgando hábitos administrativos", disse. O senador Eduardo Lopes
(PRB-RJ), ex-ministro da Secretaria de Integração Nacional, também se
posicionou pela saída de Dilma.
Ao
lado da ex-ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB-TO), o ex-presidente da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), uma das mais importantes entidades
patronais do país, e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
de Dilma Rousseff, o empresário Armando Monteiro (PTB-PE) reafirmou o seu voto
contrário ao impeachment.
“A
política é o exercício da esperança, mas temos que lembrar que as questões mais
desafiadoras estão longe de ser resolvidas. Não há nada a comemorar neste
momento, senão para se preocupar, pelo menos até que o futuro desminta esse mal
presságio do presente”, disse durante seu discurso. “Quero, por fim, reafirmar
a minha posição e o meu voto contrário ao impeachment da presidente Dilma”.
Os
dois encamparam a defesa de Dilma, protagonizada por sua ex-ministra-chefe da
Casa Civil Gleisi Hoffmann, também contrária ao impeachment.
Os
senadores Eduardo Braga (PMDB-AM), ex-ministro de Minas e Energia; Edison Lobão
(PMDB-MA), que comandou Minas e Energia e, Marta Suplicy (PMDB-SP), que chefiou
a Cultura, não subiram à tribuna para discursar.
A
sessão começou pouco depois das 10h com a apresentação dos argumentos finais da
acusação e da defesa. Pela acusação, dividiram o tempo de uma hora e meia a
advogada Janaína Paschoal e o jurista Miguel Reale Júnior.
Em
um discurso pouco técnico e que apelou mais para o aspecto emocional, Janaína
chegou a citar Deus e a pedir desculpas a Dilma por saber que a situação que
ela vive não é fácil, porque "eu lhe causei sofrimento". "Peço
que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela",
disse Janaína, com lágrimas nos olhos.
Na
sua vez, Miguel Reale Júnior afirmou que houve descumprimento da meta fiscal
vigente na edição de decreto de suplementação orçamentária. Ele tembém disse
que a presidenta incorreu em crime nas chamadas pedaladas fiscais. “Há crime de
responsabilidade, autoria e dolo”. O crime, explicou, está no uso de bancos
oficiais para financiar o Tesouro. É uma operação de crédito e foi confirmada
pelo Tribunal de Contas da União. O jurista pediu a punição de Dilma Rousseff
com a perda do mandato e a inabilitação para a vida pública.
O
advogado de defesa de Dilma, José Eduardo Cardozo criticou o processo de
impeachment e disse que as acusações contra Dilma não têm provas, são confusas
e, “no fundo, não passam de pretextos”. Cardozo também afirmou que a petista
está sendo afastada “sem que o povo que a elegeu tenha entendido minimamente o
crime que tenha praticado” e que a história se encarregará de absolver Dilma.
Ao
concluir os argumentos, José Eduardo Cardozo fez apelo aos senadores para
aceitarem a proposta de Dilma Rousseff de convocação de plebiscito. Se está se
julgando o "conjunto da obra", o povo é que deve decidir, clamou.
Ao
deixar o plenário do Senado para o intervalo do almoço, Cardozo, advogado de
defesa da presidenta afastada Dilma Rousseff, foi às lágrimas ao conversar com
jornalistas. “Nunca deixei de me emocionar diante da injustiça. Aquele que
perde a emoção diante da injustiça se desumanizou”, disse.
Cardozo
criticou a citação aos netos de Dilma feitas por Janaína Paschoal. “Para quem
conhece Dilma Rousseff, pedir sua acusação para defender seus netos é algo que
me atingiu muito fortemente”, disse. “Me dói, não como advogado, mas como ser
humano. Não é justo falar o que falaram aqui de Dilma Rousseff. Querem
condenar, condenem, mas não enxovalhem a reputação de uma mulher digna”, pediu.
Com
informações Agência Brasil
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