É
sabido que a grande imprensa interpreta e apresenta os fatos de acordo com as
suas preferências políticas. Isso seria menos grave se, em primeiro lugar,
fosse mais sincero e, em segundo, se outras opiniões também circulassem. O que
não é o caso, tendo em vista a concentração de informação nos monopólios dos
meios de comunicação.
No
último domingo, foi divulgada uma pesquisa Datafolha que avalia a expectativa
dos brasileiros em relação à economia e a compreensão do governo Temer. A
maneira como foi apresentado o resultado conduz o leitor a uma compreensão
equivocada dos números e do contexto político.
O
gráfico mais comemorado pela edição indica que a expectativa do brasileiro em
relação à economia apresentou um relativo aumento diante de um cenário de terra
arrasada. Atualmente 38% acreditam que a economia tende a melhorar, contra os
28% de fevereiro. Números fracos.
Vejamos
que a situação é mais grave. De acordo com o próprio Datafolha, os que acham
que o Brasil é um bom lugar para se viver caiu de 61% para 53%. Ao passo que o
“orgulho de ser brasileiro” foi de 71% para 67% e o índice de vergonha em
relação ao país subiu de 26% para 30%.
Outros
indicadores apontam que a maioria está pessimista. 60% acreditam que a inflação
subirá. Somente 15% pensam que cairá. Aqueles que entendem que a inflação
ficará como está são 20%. Quanto ao desemprego, 60% entendem que a carência
será maior. 20% pensam que diminuirá e para 18% continuará como está. Os
números dizem por si só.
Quando
observamos a avaliação do governo interino, a situação é lamentável. 31%
consideram ruim ou péssimo. 42%, regular. Minguados 14% julgam bom ou ótimo.
Para o início de uma “nova fase” com o apoio das classes dominantes e dos
veículos de comunicação, tais índices impressionam de tão baixos.
Algo
que valeria maior destaque: 33% dos entrevistados simplesmente não sabem quem é
o atual presidente da República. Visto os escândalos de corrupção que assolam o
governo, as medidas impopulares que estão sendo prometidas e a incrível falta
de carisma de Temer, se conhecessem de fato o presidente interino, podemos
supor que seus índices de popularidade seriam ainda piores.
A
“cereja do bolo” da pesquisa, todavia, é apresentada com destaque: 50% defende
que Temer deve continuar na presidência. Esse número legitimaria o afastamento
de Dilma. Considerando que 33% não sabem que Temer é presidente, o correto
seria destacar que dos entrevistados que sabem que Michel Temer é o atual
presidente, 50% apoiam a sua permanência. Algo completamente diferente do que
indicar que 50% dos brasileiros apoiam a sua permanência.
O
governo legítimo custa a aumentar o seu apoio social, a despeito do esforço
colossal da mídia e dos donos do poder. A manipulação não suplanta a realidade.
Estamos atentos. Nosso sempre presente senso crítico deve estar ainda mais
antenado nos dias atuais.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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