Temer concede entrevista ao jornalista Roberto D'Ávila no Palácio do Jaburu (Foto: Beto Barata) |
Após
a queda de três ministros em pouco mais de um mês de governo, o presidente
interino da República, Michel Temer, disse ontem (21/06) acreditar que não terá
mais desfalques na equipe ministerial daqui para frente. Em entrevista ao
jornalista Roberto D Ávila, da Globo News, Temer descartou, novamente, a
possibilidade de concorrer à reeleição em 2018 caso seja mantido no poder e que
aguardará o desfecho do processo de impeachment para “pleitear” mudanças
conjunturais, como a reforma da previdência.
“Evidentemente
que, depois da decisão do Senado, abre-se um campo muito
mais vasto para a governabilidade. Então, certas questões que neste momento
ainda não deu tempo de tratar, eu tratarei depois, como a questão da reforma da
previdência. Acho que só poderei pleitear uma reforma da previdência se tiver a
efetivação”, disse Temer.
Temer
voltou a desqualificar as acusações feitas contra ele pelo ex-presidente da
Transpetro Sérgio Machado. Para o presidente interino, Machado quer “polarizar”
com a Presidência da República. O peemedebista ressaltou a importância da Lava
Jato e refutou qualquer tentativa de limitar a atuação do Ministério Público e
da Polícia Federal.
“Não
se deve pensar em paralisar a Lava Jato. Ela exerce seu papel por meio do
Ministério Público, do Poder Judiciário, da Polícia Federal e deve prosseguir.
Primeiro, que jamais faria isso [paralisar a operação] e, no plano
institucional, é ainda mais grave [essa possibilidade]. Tenho pregado a
independência das ações e dos Poderes”. Segundo Temer, apesar de as delações
terem provocado baixas no governo interino, a força-tarefa da Lava Jato “exerce
seu papel”.
Na
entrevista, o presidente interino defendeu a aprovação de uma reforma política,
que limite o número de partido e se manifestou favoravelmente à possibilidade
de doação eleitoral de empresas, desde que a contribuição seja limitada a
apenas um partido. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou
inconstitucional as normas que permitiam a empresas doar para campanhas
eleitorais.
Para
Temer, com o desenrolar da Operação Lava Jato tem havido a “criminalização” das
doações eleitorais. “É provável que algumas tenham sido objeto de atividade
ilícita”, ponderou Temer. Mas, para ele, a maior parte das doações ocorre de
maneira legal.
“Não
tinha nenhuma objeção às doação de pessoas jurídicas. O que eu pregava é que se
uma empresa resolver apoiar um partido, ela deve entregar dinheiro para aquele
partido, porque quando se opta por uma candidatura ou partido, é um gesto de
opinião. A empresa diz assim: fulano de tal se comportará melhor em benefício
do país e do meu benefício. Os que não pode é autorizar a doação para todos os
partidos”.
Sobre
a presidenta afastada Dilma Rousseff, Temer disse que sempre manteve uma
relação “respeitosa” e sempre “muito cerimoniosa”. Sobre o impeachment, Temer
negou traição e afirmou que não atuou para a aprovação da admissibilidade da
denúncia de crime de responsabilidade. Perguntado porque se manteve na chapa
petista depois de quatro anos como “vice decorativo”, Temer disse que foram
“circunstâncias políticas”.
Para
Temer, Dilma prefere as questões técnicas do que os relacionamentos políticos,
contudo, disse que, ao assumir o poder, encontrou equívocos técnicos e
“questões a resolver”. O presidente interino ainda criticou a proposta de Dilma
de, caso retorne ao poder, seja convocado um plebiscito. “Com o plebiscito está
dizendo que deseja voltar, mas que se voltar não poderá governar. [Se] vai
voltar para convocar eleições é porque não quer governar”.
Sobre
a limitação do uso dos aviões da Força Aérea pela presidenta afastada, Temer
disse que a decisão pela manutenção das prerrogativas de Dilma após o
afastamento se limita ao deslocamento até a cidade natal.
“A
senhora presidente tem o Palácio da Alvorada, a Granja do Torto, tem aviões
para se locomover para o estado dela. Ela não está no exercício da Presidência,
portanto, não tem atividade de natureza governamental. Tive informações de que
a senhora presidente utilizaria os aviões para fazer companha contra o golpe.
Uma situação, pelo menos, esdruxula”, disse Temer.
O
presidente interino negou que o presidente afastado da Câmara tenha influência
no governo e tenha sido responsável pela indicação do deputado André Moura
(PSC-SE) para liderança do governo na Câmara.“O Eduardo Cunha não tem absolutamente
nada a ver com isso. Atendi a um pleito de vários partidos e consultei a toda
base parlamentar e o nome foi aceito. Montei essa liderança do governo na
Câmara, no Senado, com o PSDB”.
Em
relação ao processo de cassação de Cunha, Temer disse ser importante que a
Câmara “defina logo seu destino”. “Apesar das dificuldades institucionais
internas, não temos tido dificuldade de aprovação dos projetos que estão sendo
votados lá, porque conseguimos firmar uma sólida maioria.”
O
presidente interino voltou a dizer que não pretende acabar com o Bolsa Família,
mas que o governo tomará medidas para inspecionar as condicionantes
obrigatórias para a concessão do benefício. “O que vamos fazer agora é
inspecionar se este dever [de matricular as crianças na escola] está sendo
cumprido. Só tem sentido dar dinheiro para uma família se ela estiver cumprindo
os requisitos”.
Para
Temer, caso o Senado confirme o impeachment de Dilma, dois anos e meio a frente
do país são suficientes para “colocar o país nos trilhos”. “Estamos agindo em uma velocidade
extraordinária. Em brevíssimo tempo conseguimos aprovar questões importante e,
agora, o limite de gasto para União e agora para os estados.”
Sobre
política externa, o presidente em exercício disse que só fará viagens ao
exterior após o desfecho do processo de afastamento e que a sua gestão está
“universalizando o Brasil”. “O Brasil não pode ter posições por sentimento
ideológico.”
Com
informações Agência Brasil
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