Caro
Moro:
Me
desculpe a franqueza, mas o senhor é uma desgraça nacional. Simboliza a justiça
partidária que tanto mal faz ao país.
O
senhor é um antiexemplo. No futuro, quando formos uma sociedade mais avançada,
ficará a pergunta: como pudemos tolerar um juiz tão parcial?
O
senhor tem ideia do que aconteceria na Inglaterra se um juiz com tanto poder
como o senhor confraternizasse com caciques da política e da mídia?
Mas
o pior não foram as aparências: foram e são os atos práticos.
Como
o senhor não se envergonhou de participar dos espetáculos circenses em que o
objetivo era criminalizar um e apenas um partido, o PT?
Como
o senhor não se envergonhou em passar para a Globo conversas criminosamente
gravadas entre Lula e Dilma?
Caro
Moro: como o senhor consegue dormir?
Vejamos
os fatos destes últimos dias. O senhor e sua Lava Jato foram fulminantes em
prender um ex-ministro de Lula e embaraçar o editor de um site que representa
um tipo de visão completamente ignorado pelas grandes empresas jornalísticas.
Funcionários
da PF, em extravagantes uniformes de camuflagem e fortemente armados, se
deixaram também fotografar em frente à sede do PT em São Paulo.
O
senhor tem noção do ridículo, do patético disso? Parecia que os policiais
estavam indo desbaratar uma célula dos Estados Islâmicos.
Mas,
ao mesmo tempo, ficamos todos sabendo que vocês fracassaram miseravelmente não
uma, mas duas vezes em intimar a mulher de Eduardo Cunha, Claudia Cruz.
Vocês
não sabem sequer onde ela fica para entregar a intimação? Ou o empenho
frenético em investigar e atacar um lado é contrabalançado pela negligência
obscena em tratar casos ligados ao outro lado?
O
senhor tem ideia do desgaste que este tipo de coisa provoca em sua imagem em
milhões de brasileiros?
Um
homem pode ser medido pelos admiradores que semeia. O senhor é hoje venerado
pelo mesmo público que idolatra Bolsonaro: são pessoas essencialmente racistas,
homóficas, raivosas, altamente conservadoras e brutalmente desinformadas.
O
senhor não combateu, verdadeiramente, a corrupção. O senhor combateu e combate
o PT. São duas coisas distintas. Falo isso com a tranquilidade de quem jamais
pertenceu ao PT ou teve qualquer vínculo com o partido. Meu pai se elegeu presidente do sindicato dos
jornalistas de SP, no começo dos anos 1980, numa disputa épica contra o
representante do PT, Rui Falcão. Jamais superei certas mágoas do PT até porque
meu pai era meu norte e meu sul, meu leste e meu oeste.
Não
fossem os delatores, as roubalheiras de gente como Aécio, Temer e Jucá
prmaneceriam desconhecidas e intocadas.
Não
fossem as autoridades suíças, as contas secretas que finalmente liquidaram a
maior vocação corrupta das últimas décadas no Brasil não seriam conhecidas, e
Eduardo Cunha continuaria a cometer seus crimes.
Caro
Moro: o senhor há de ter o mesmo destino de um homem que teve um papel igual ao
seu na política brasileira, Joaquim Barbosa.
A
mídia o usou e espremeu ao máximo, e depois o descartou. JB não é nota sequer
de rodapé dos jornais e revistas. Não é ouvido para nada.
O
senhor, como JB no Mensalão, está tendo seus dias de Cinderela, porque é útil à
plutocracia. Mas Gata Borralheira sempre ronda a Cinderela, como o senhor sabe.
Sinceramente.
Paulo
Publicado
originalmente no portal DCM
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