O
Brasil prepara-se para um paradoxo. Se Dilma Rousseff for afastada do cargo
pelo Senado nos próximos dias, como é provável, o vice Michel Temer assume a
Presidência.
Eleito em uma chapa liderada pelo PT, o peemedebista tem planos
econômicos e sociais opostos àqueles que levaram à vitória de Dilma na eleição de 2014.
Para
o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor aposentado da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), o descompasso entre as urnas e a agenda Temer é
motivo de “ilegitimidade” do futuro governo. “O voto foi na cabeça de chapa, na
Dilma, um voto petista. No fundo, foi um voto no Lula. É um elemento importante
de ilegitmidade de um governo Temer.”
Deste
ponto de vista, diz, Temer é mesmo um “traidor”, como tacham os petistas. Se
parte dos eleitores de Dilma frustrou-se com a guinada conservadora dela, há
razão para reclamação igual com Temer. “Se existe cobrança quanto ao que se
chama de fraude eleitoral, com essa agenda do Temer isso também se aplica,
ainda que ele não tenha vocalizado suas ideias na campanha.”
Alguns
exemplos da agenda neoliberal de Temer que em nada se parecem com as propostas
de Lula e do PT puderam ser vistos no noticiário recente.
Xodó
lulista, o Bolsa Família excluirá pessoas. Foi o que disse o economista Ricardo
Paes de Barros, um dos formuladores de agenda Temer, conforme entrevista
publicada na segunda-feira 25 no Estado de S. Paulo. Para ele, o “Bolsa Família
está inchado” e, quando enxuto, “tem gente que vai sofrer”.
O
Pronatec, programa de qualificação profissional de desempregados criado no
governo Dilma, também é candidato a encolher. Para Paes de Barros, o Pronatec
“qualifica o desempregado de maneira cega”.
A
Previdência deverá ser reformada para instituir-se idade mínima de 65 anos às
aposentadorias. Revelação feita por Roberto Brant, ministro da área no governo
Fernando Henrique (1995-2002) e colaborador da “agenda Temer”, ao Globo da
quinta-feira (28/04).
Dilma
preparava a mesma reforma, contra a posição de Lula e de movimentos sociais que
ajudaram a reelegê-la.
Na
área da infra-estrutura, o vice-presidente planeja privatizar “tudo o que for
possível”.
A
agenda de Temer assemelha-se à do senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado por
Dilma em 2014. Mais uma razão para ele ser tratado de “traidor” no PT. E para o
ministro petista Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, defender nova
eleição, caso o Senado casse Dilma em definitivo. “Com um vice conspirador e
golpista, não haverá pacificação.”
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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