Das
poucas certezas da situação política atual é a rejeição à possibilidade de um
governo Temer, que seria um governo Temer-Eduardo Cunha. Mas se eles chegarem a
tomar de assalto a presidência, com o beneplácito de um STF cúmplice, quanto da
proposta de programa do PMDB, de desmonte do Estado, dos direitos sociais e do
projeto de nação para o Brasil, eles conseguirão desmontar?
Para
fazer essa tentativa, primeiro Temer precisa conseguir consumar seu golpe,
vê-lo em princípio apoiado pelo Senado, para que chegue a assumir, ainda que
provisoriamente. Mesmo antes, o STF precisa se pronunciar se a Dilma pode ou
não esperar o processo pelo Senado na presidência.
Se
chegar lá, o primeiro obstáculo é o apoio de 1% da população de que ele dispõe,
além da fama de conspirador e traidor, e de aliado estreito do Eduardo Cunha.
Ele não tem nada de bom a oferecer aos brasileiros. Parte de um programa de
duro ajuste fiscal e só conversou com grandes empresários, em especial com
banqueiros e economistas neoliberais, confirmando que seus desígnios para os
brasileiros são sinistros.
Por
outro lado, Temer tropeça sempre na sua incapacidade de governar. Nunca dirigiu
nem sequer uma prefeitura, ou governo de Estado (ou foi síndico do seu prédio),
nem teve desempenho importante à frente de algum ministério. Suas desastradas
formas de agir apontam para incapacidade de unir, de dirimir conflitos, de
enfrentar situações problemáticas. Todos veem com enorme preocupação entregar
maiores responsabilidades a pessoa tão medíocre, incapaz de formular qualquer
ideia original, de propor alternativas. Seria um desastre como governante.
Além
disso, Temer só propõe agendas negativas para os brasileiros. FHC propunha o
controle da inflação – como imposto aos pobres – e escondia a agenda social,
mas prometia algo positivo. Temer só promete um duro ajuste fiscal: cortes nos
recursos da educação e da saúde, cortes nos direitos dos trabalhadores, entrega
da Petrobras e do Pré-sal ao capital estrangeiro. Seria um governo de apoio de
1% da população, governando para o 1% mais rico.
Sem
apoio popular, com alto nível de rejeição, caso assumisse a presidência
interinamente, Temer se atreveria a fazer o que os economistas neoliberais e os
grandes empresários – especialmente os banqueiros – lhe propõem? Se atreveria a
tomar duras medidas antipopulares, diante de um movimento popular organizado e
que proclama que ele ascenderia ao governo mediante um golpe, para servir aos
ricos? Se atreveria a tocar na Petrobras e no Pré-sal, patrimônio brasileiro,
assim como nas outras estatais?
Os
brasileiros precisam evitar que a Temer-Eduardo Cunha se apropriem do Estado
brasileiro como um botim a repartir entre os empresários e as ratazanas que se
exibiram sem pudor na votação de domingo passado, prontos para abocanhar cargos
e disseminar mais ainda a corrupção com que centenas deles estão implicados.
Caso chegue a governar, tornar inviável seu governo, questionar nas ruas e em
todos os lugares suas medidas, disseminar o "Fora Temer" por todo o
país, aprofundar mais ainda sua rejeição e a um governo que não nasceria do
voto popular.
Os
brasileiros precisam defender a democracia e o mandato legal da Dilma,
valendo-se de todos os meios. Derrotar o golpe no Senado e nas ruas, na
Judiciário e na luta de ideias. Proclamar que os brasileiros não aceitam mais
um governo que não seja eleito pelo povo através do exercício democrático do
voto direto.
Precisamos
seguir falando do golpe, do assalto ao poder planejado pela nefasta dupla
Temer-Eduardo Cunha, inviabilizar seu projeto de desmontar o Brasil como
democracia, como projeto de nação, como sociedade mais justa e solidária.
Precisamos impedir que o 1% mais ricos volte a dominar o pais e a oprimir os
brasileiros.
Emir
Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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