O deputado Carlos Sampaio e o presidente da Comissão, Rogério Rosso em conversa paralela por ocasião dos detates (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom) |
A
legalidade ou não dos argumentos contidos na denúncia do processo de
impeachment dominou as discussões sobre o parecer final da comissão especial
que analisa o pedido de afastamento da presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos
Deputados. Foram mais de 13 horas de debate, na sessão iniciada ontem (08/04), por
volta das 15h30, e finalizado às 4h43 deste sábado (09/04).
Ao
todo 61 deputados discursam. A maioria, 39 deles, defenderam o parecer do
relator Jovair Arantes (PTB-GO), que
sugeriu o prosseguimento do processo de impeachment, praticamente o dobro dos
que se posicionaram contrários (21) e um indeciso. Cada deputado membro da
comissão teve 15 minutos para defender sua posição, enquanto os não membro
falaram por dez minutos.
No
total, havia 116 deputados inscritos para discursar. Os que não falaram
desistiram ou foram embora antes de serem chamados pela presidência da
Comissão.
Com
mais de 11 horas de sessão, o presidente do colegiado, deputado Rogério Rosso
(PSD-DF) tentou reduzir o tempo de fala já que o horário limite estabelecido
inicialmente, 3h de sábado, já havia sido ultrapassado. A proposta, contudo,
não foi bem aceita.
Conforme
o estabelecido pelos líderes, a ordem de inscrição dos oradores obedeceu a
alternância entre favoráveis e contrários ao impeachment. No entanto, depois
das 3h todos os governistas inscritos já haviam falado e a lista seguiu com
discursos apenas daqueles que defendiam o impeachment. Pouco antes, o deputado
Paulo Pimenta (PT-RS) sugeriu o encerramento da reunião, proposta que foi
rechaçada pelos oposicionistas.
Para
o deputado Laudivio Carvalho (SD-MG) está claro que o impeachment não
caracteriza “golpe” como têm sugerido os governistas. “Mesmo que o governo
venha insistindo em denominar de golpe, tenho que dizer com todas as letras:
não é golpe, é impeachment! O que não faltam são indícios de má conduta; as
pedaladas fiscais são apenas o começo, a população clama por mudança, a
presidente perdeu a confiança do povo e governa na corda bamba”, disse.
A
tese foi rebatida pelo petista Paulo Teixeira (SP). “Impeachment sem crime de responsabilidade é
golpe”. “A acusação é vazia e partidária”, reforçou o deputado Carlos Zaratini (SP). “Toda vez que se derrubou
um governo popular não foi no debate político, mas por meio do denuncismo. Foi
assim com Getúlio Vargas, foi assim em 1964, foi assim com Juscelino
Kubistchek. A oposição quer dar um golpe, tomar o poder sem voto. Quer fazer da
votação no plenário uma eleição indireta”, acrescentou Zaratini.
Deputados favoráveis e contrários ao pedido de impedimento levaram cartazes para e reunião (Foto: Fábio Rodrigues Pozzeboml) |
Para
a deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO), Dilma decepcionou várias mulheres
brasileiras. “Entristece-me saber que não temos uma representante que
merecemos”, disse. O deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) disse que os fatos
contidos na denúncia justificam o afastamento de Dilma.
“A
defesa [da presidenta] diz que sempre ocorreram as pedaladas fiscais e não
ocorreram em 2015. Mentira. Em dezembro de 2015 havia um saldo R$ 55,6 bilhões
em pedaladas. O governo se beneficiou de financiamento ao longo do ano e a
prova é que o governo pagou juros sobre isso. Se deve, paga juros. É óbvio que
é uma operação de crédito”, disse Nascimento.
O
deputado Alessandro Molon (Rede Sustentabilidade – RJ) disse que a tentativa de
impeachment da presidente pelo “conjunto da obra” não está previsto na
Constituição. “ Procurei muito na Constituição essa expressão “pelo conjunto”
da obra e não encontrei. Quem julga pelo conjunto da obra é o eleitor. Se se
trata de crime de responsabilidade, é preciso verificar se os tipos penais
estão presentes”.
A
deputada Benedita da Silva (PT-RJ) também contestou a tese do impeachment. “Uma
presidenta não pode ser afastada por ter baixa popularidade. Isso é muito
pouco”. A deputada rebateu as críticas feitas ao seu partido. “Não me
envergonho de ser do PT, nem de apoiar a presidente Dilma, nem do pão com
mortadela. A simbologia da mortadela é porque essas pessoas jocosas não sabem
que este governo foi capaz de incluir 37 milhões de miseráveis.”
Autor
de um dos três votos em separados apresentados à comissão do impeachment,
Weverton Rocha (PDT-MA), rebateu o parecer do relator da comissão. “Autorizar o
gasto não indica que ele se realizará. Importante salientar que a abertura de
créditos suplementares não pôs em risco o atingimento da meta”.
Para
o deputado Izalci (PSDB-DF), a presidente e o PT “iludiram” o povo. “O povo foi
iludido com propostas demagógicas, acabaram com o sonho da nossa juventude,
acabaram com o Pronatec, com o Fies e com o Ciências sem Fronteira. Com essa
irresponsabilidade do governo ressuscitaram a inflação, maior mal que existe
para o trabalhador. Além da inflação, ressuscitaram o desemprego. Não haverá
golpe, haverá impeachment e ele tem que ser já, para o bem do país”.
O
deputado Carlos Marun (PMDB-MT) defendeu o impeachment e criticou a defesa da
presidenta. “A defesa da Dilma é alicerçada em mentira, mentira, mentira. O
ministro José Eduardo Cardozo veio aqui e apresentou uma defesa vazia. Se a
Dilma é honesta, ela é incapaz”.
O deputado Sílvio Costa é um dos mais aguerrido na defesa da presidente Dilma (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil) |
Para
o vice-líder do governo, deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE), não há como o
governo vencer a disputa na comissão. Contudo, ele garantiu que os
oposicionistas não terão os votos suficientes para aprovar a admissibilidade do
impeachment no plenário.
“Aqui
na comissão nós já perdemos. Mas ele não têm força de painel [no plenário].
Vocês, que acreditam na democracia, fiquem tranquilos que eles não colocarão
342 votos no painel no próximo domingo. Aqui, podem ganhar. O governo está
fazendo seu papel aqui, eles vão ter a ilusão que ganharam, mas esqueceram de
combinar com os russos. Dilma não vai cair, porque não é corrupta, tem um
partido e base social”, disse Costa.
Apesar
da polarização, os debates na comissão transcorreram sem grandes acirramentos.
Em alguns poucos momentos, no entanto, os ânimos se exaltaram e houve
bate-boca. Em um dos casos, os deputados Silvio Costa (PTdoB-PE) e Danilo Forte
(PSB-CE) trocaram ofensas. A confusão, entretanto, foi rapidamente contornada
pelo comando da comissão.
A
próxima reunião da comissão está marcada para a próxima segunda-feira (11), às
10h, quando o relator Jovair Arantes
fará a réplica. Na ocasião, os 27 líderes partidários poderão fazer comentários
acerca do parecer e orientar suas bancadas. Também será aberto espaço para as
considerações finais da defesa da presidenta. A votação do relatório na
comissão está marcada para ter início às 17h da segunda-feira.
Com
informações Agência Brasil
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