Eram
apenas dez segundos de fala para cada deputado federal, mas os discursos na
tribuna surpreenderam quem assistia ao desfile de agradecimentos a pais, mães e
filhos.
Na
sessão que aprovou o pedido de abertura de investigação da presidente Dilma
Rousseff, no último domingo (17/04), uma dúvida se formou na cabeça do eleitor: é esse
o nível dos representantes do povo?
Dos
511 deputados presentes (foram apenas dois ausentes), alguns se destacaram
pelo inusitado; outros, pela contundência retórica.
De
um lado, os espectadores não estavam habituados a escutar parlamentares quase
reclusos no anonimato por conta do predomínio dos líderes de bancada. Do outro,
na ânsia de se destacar, houve quem oferecesse o voto “pela paz em Jerusalém”.
Professora
de filosofia política da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mirtes Amorim
admite que ficou “impressionada com o nível político baixíssimo dos discursos
dos deputados”. “E isso em dimensão nacional. É chocante perceber que são
representantes da nação brasileira, encarregados de decisões importantíssimas
para o país, como o impeachment. Beirava o ridículo. Chegou a ser ocasião para
mandar ‘alô’ para a mamãe”, diz Mirtes, surpresa.
Com
tantos rostos desconhecidos, muitos estranharam motivações tão similares.
Para
o escritor e analista político Flávio Morgenstern, a repetição é esperada. “A
maior parte dos deputados vota conforme o partido manda. Não existe
individualidade: falam segundo ordens de cima”, reflete.
“Então,
na busca de destaque, acabam repetindo aquelas expressões de sempre que já não
querem dizer muita coisa. A esquerda sempre fala de ‘democracia’, mas num
conceito muito distante do estabelecido pela ciência política – que é
completamente diferente do que os deputados pensam ser”, pontua o analista.
Clemilton
Gomes, 40, ficou preocupado. Para ele, os pronunciamentos foram tão rasos que
passou a acreditar que “são todos duvidosos”. “Até o Tiririca, que o pessoal
diz que é correto, não gostei quando riu, fez palhaçada”, desconfia. “Parecia um
circo, um parque de diversões. Acho que eles não têm capacidade pra decidir.
Não tem mais jeito, não”, complementa.
De
acordo com Mirtes Amorim, há uma saída, sim. “Uma reforma política, tanto pelo
fim do financiamento privado -- que leva políticos pelo dinheiro e não pela
capacidade – quanto pelo fim da abertura indiscriminada de partidos políticos”.
Conforme a pesquisadora, “formam-se micropartidos na câmara com muita
frequência”, o que faz com que os candidatos não tenham “compromisso ideológico
e comprometimento com um programa e com o país”.
Com
informações O Povo Online
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