Manifestantes fazem ato contra impeachment em frente ao Congresso Nacional (Foto: Wilson Dias) |
Manifestantes
contrários ao impedimento da presidente Dilma Rousseff participaram de atos a
favor da democracia em todos os estados e no Distrito Federal. Organizadas pela
Frente Brasil Popular, as manifestações reuniram milhares de pessoas que saíram
às ruas gritando palavras de ordem como “Não vai ter golpe, vai ter luta”.
Representantes de movimentos sociais, de estudantes e de trabalhadores
estiveram presentes aos atos.
Em
Brasília, manifestantes de todo o país aproveitaram a proximidade com o
Congresso Nacional para mostrar aos parlamentares o descontentamento com o
pedido de impeachment. Bandeiras da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Confederação Nacional
dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) e da União Nacional dos Estudantes
(UNE) eram carregadas por manifestantes durante toda a caminhada. Faixas de
apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Dilma Rousseff também
puderam ser vistos.
A
representante da CUT na Frente Brasil Popular, Janeslei Aparecida de
Albuquerque, disse que o ato na capital federal é essencial para o movimento.
“Brasília, por ser a capital do país, é fundamental para dar visibilidade à
nossa insatisfação com o golpe que está sendo aplicado contra o Brasil. Motivo
pelo qual entre 700 e mil ônibus vieram para cá, vindos de todos os estados
brasileiros”, disse à Agência Brasil.
Cerca
de 50 mil manifestantes, segundo a Polícia Militar, seguiram em marcha até o
Congresso Nacional.
Em
frente ao Museu da República, várias crianças, que foram à manifestação com
seus pais, prepararam cartazes em apoio à democracia e ao governo. As crianças,
em sua maioria, tinham menos de 10 anos. “A gente veio defender o Brasil”,
disse o pequeno Felipe Kitajima, de 4 anos, logo após pintar um cartaz de apoio
à presidenta. Para a mãe dele, a enfermeira Adriana Kitajima, é fundamental que
as crianças entendam a importância da democracia.
As
mães se organizaram com antecedência para que as crianças pudessem fazer suas
atividades em segurança.
Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo realizam ato em defesa da democracia e contra o impedimento na Praça da Sé (Foto: Rovena Rosa)
Na
capital paulista, as manifestações contra o impeachment e em defesa da
presidenta Dilma Rousseff ocorreram na Praça da Sé. Milhares de pessoas se
reuniram no local, onde foram instalados quatro carros de som com bandeiras de
diversas entidades, entre elas a Frente Brasil Popular, Central de Movimentos
Populares (CMP), a Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), a União da
Juventude Socialista, além de sindicatos de diversas categorias.
Além
da Praça da Sé, a multidão também ocupou a rua lateral da catedral, no centro
da capital paulista. O ato foi batizado de “Em Defesa da Democracia, Golpe
Nunca Mais”.
Os
manifestantes carregavam balões gigantes, bexigas vermelhas e faixas com
mensagens contra o impeachment. João Souza Neto, metalúrgico de 47 anos, disse
que o motivo do protesto de hoje é contra o golpe e pela democracia. "O
impeachment é dado quando há responsabilidade e não há nada que configure
crime", afirmou.
O
professor Daniel Eid Garcia, 41 anos, diz que participou de todas as
manifestações contra o impeachment este ano. Ele disse que foi ao ato de hoje
para reforçar a ideia de que a sociedade não pode aceitar o impedimento da
presidenta. “O método [atual] configura golpe, não há sustentação jurídica para
o impeachment”, disse.
O
coordenador da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bomfim, concorda com a
avaliação. “Está claro que não tem embasamento jurídico [para o impeachment], a
presidenta Dilma não cometeu crime de responsabilidade, será um golpe se isso
ocorrer. Nós estamos confiantes que não vai ocorrer. E se ocorrer, o
[vice-presidente] Michel Temer já começa um governo deslegitimado”, disse.
Manifestantes fazem ato no Largo da Carioca contra o processo de impeachment da presidente Dilma e em apoio ao ex-presidente Lula (Foto: Fernando Frazão) |
No
Largo da Carioca, onde milhares de manifestantes se juntaram para fazer a
manifestação em favor do governo, a estrela da noite foi o cantor e compositor
Chico Buarque que foi ovacionado por gritos de “Chico, guerreiro do povo
brasileiro”.
“Eu
vim aqui dar um abraço nas pessoas das mais variadas tribos, das mais variadas
convicções políticas. Gente que votou no PT, gente que não gosta do PT, gente
que foi do PT, que se desiludiu com o partido, gente que votou na Dilma, mas
sobretudo, gente que não pode pôr em dúvida a integridade da presidente Dilma
Rousseff.”
Segundo
Chico, todas as pessoas estavam reunidas em uma “defesa intransigente” da
democracia. “Eu vejo gente aqui na praça, da minha geração, que viveu o 31 de
março de 1964. Mas vejo, sobretudo, a imensa juventude que não era nem nascida,
mas que conhece a história do Brasil.”
Mais
cedo, o presidente da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de
Janeiro (Faferj), Rossino Castro Diniz, disse que a população favelada do país,
as camadas mais pobres, beneficiários dos principais programas sociais do
governo, é contrária ao que chamou de tentativa de golpe contra a presidenta
Dilma.
Manifestantes contrários ao processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff se reúnem na Esquina Democrática (Foto: Daniel Isaia) |
Na
capital gaúcha, manifestantes contrários ao impeachment da presidenta Dilma
voltaram à Esquina Democrática no fim da tarde. Os
movimentos sociais marcam presença. Bandeiras do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de movimentos
feministas, de negros e da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais,
transexuais e transgêneros) se misturam às faixas de protesto.
Presidenta
da União de Negros pela Igualdade no Rio Grande do Sul, Elisa Regina Vargas,
afirmou que os protestos contra o governo são de brancos e ricos que não
representam o povo. "Se tu vires as manifestações do povo da direita, tu
não vais nos encontrar lá. Nós somos a maioria da população brasileira, e nós
elegemos a Dilma", ressaltou Elisa.
Ato contra o impeachment em Salvador reúne cerca de 12 mil pessoas, segundo a PM (Foto: Sayonara Moreno) |
Ao
som de músicas como Cálice, de autoria de Chico Buarque e Gilberto Gil, e de
gritos como "Não vai ter golpe", representantes de centrais
sindicais, movimentos sociais e da sociedade civil fizeram uma caminhada no
centro de Salvador contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Um
trio elétrico acompanhou o percurso, onde representantes discursaram em apoio à
presidenta Dilma. Uma banda em um microtrio elétrico cantou músicas de
resistência à ditadura, ao som da guitarra baiana. Segundo a Polícia Militar,
cerca de 12 mil pessoas estiveram no ato.
Manifestantes
que saíram do Campo Grande, região central de Salvador, se uniram ao grupo que
saiu do centro. Com a união dos dois grupos, participavam da passeata, além de
partidos políticos, movimentos sociais, centrais sindicais e representantes de
grupos minoritários, como pessoas da comunidade LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) e indígenas da etnia Pataxó,
da região sul da Bahia.
Na
capital cearense, a concentração do ato contra o impeachment começou na Praça
da Bandeira. Cerca de 10 mil manifestantes seguiram em caminhada até a praça do
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na Praia de Iracema, próximo à orla da
Beira Mar. A passeata relembrou ainda as consequências do golpe militar de
1964.
Presente
ao ato, o médico Manoel Fonseca, 70 anos, conta que foi vítima do regime
militar. Ele e a esposa passaram 2 anos presos, foram torturados e os filhos
sequestrados.
"Existe
uma similaridade entre o golpe militar e o momento que vivemos hoje, porque
querem quebrar a legalidade. Não queremos que as novas gerações passem por isso
também. Estamos lutando de novo pela liberdade e pela democracia",
afirmou.
Ato em defesa da democracia contra o impeachment da presidenta Dilma (Foto: Sumaia Villela) |
Na
capital pernambucana, as faixas e cartazes pediam a saída do presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do vice-presidente Michel
Temer (PMDB-SP). Outras mensagens defendiam políticas públicas criadas pelo
governo do PT, como o Minha Casa, Minha Vida, e afirmavam que não era preciso
ser petista para "lutar pela democracia". A maior parte dos
manifestantes vestia vermelho, mas muita gente compareceu ao ato de branco e
com bandeiras do Brasil. Durante o trajeto, da Praça do Derby até a Avenida
Conde da Boa Vista, muitas pessoas demonstraram apoio das janelas dos prédios e
dos veículos parados no trânsito.
Em
Minas, o ato na capital foi organizado por uma rede de artistas e músicos e
recebei o título de “Canto pela democracia”. Músicos, políticos e líderes de
movimentos sociais dividiram o palco montado na Praça da Estação, no centro de
Belo Horizonte. De acordo com a PM, a manifestação reuniu 10 mil pessoas. Para
os organizadores foram 40 mil.
Em ato cultural, músicos, políticos e líderes de movimentos sociais dividiram o palco da Praça da Estação contra o impedimento da presidente Dilma (Foto: Léo Rodrigues) |
Durante
o ato, os manifestantes classificaram o processo de impeachment contra a
presidenta Dilma Rousseff de “repetição da História”, em referência a
movimentos de oposição aos ex-presidentes Getúlio Vargas e Juscelino
Kubitschek.
A
advogada Natália Ribeiro, 65 anos, tomou a iniciativa de distribuir 500 cópias
da carta escrita por Getúlio Vargas antes de seu suicídio, em 1954. Para ela,
os grupos políticos contrários às políticas sociais e trabalhistas que faziam
oposição a Getúlio são os mesmos que hoje querem o impeachment da presidenta
Dilma Rousseff. “A ideia de fazer as cópias surgiu depois que o Lula [Luiz
Inácio Lula da Silva] mencionou a carta em seu discurso no ato do dia 18 de
março. Com uma leitura atenta, vemos que o processo é muito similar. Mas a
Dilma não vai se suicidar. Não vai ter golpe”, disse.
No
palco, o músico Bruno Henrique Tonelli, 29 anos, da banda Tribalzen, foi mais
longe na comparação histórica. “Nós vemos brancos, negros, índios, vermelhos,
verde-amarelos, todas as cores e raças reunidas em defesa de algo que nós
conquistamos muito tardiamente no Brasil, que é a democracia. Os gregos já
trabalhavam isso lá atrás”, disse.
Com
informações Agência Brasil
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