Entre o Jornal Nacional e a madrugada na GloboNews, o PSDB sumiu (imagens capturadas pela redação do portal Vi o Mundo) |
Foi mais uma noite histórica do Jornal Nacional. Por “falta de tempo” ele simplesmente desistiu de fazer jornalismo. A “incerteza” calou a Globo. Logo ela, que reproduziu ipsis literis as transcrições de conversas do ex-presidente Lula como se fossem verdades definitivas.
A
Globo que nos trouxe o depoimento de um porteiro sobre o triplex do Guarujá e
condenou Lula por palestras, pedalinhos e pelo barquinho de lata. O Jornal
Nacional que foi a Las Vegas observar o laranjal da Mossack&Fonseca mas não
descobriu uma certa Vaincre LLC, dona de uma certa mansão.
Na
noite desta quarta-feira o Jornal Nacional simplesmente trocou o jornalismo por
uma sopa de letras. Imaginem só, a Globo com suas centenas de produtores,
repórteres e editores simplesmente fugiu da pauta.
Ao
colocar no ar um emaranhado de siglas, a Globo deu mais um show de manipulação:
igualou o PSOL ao PMDB, e passou longe da fina flor do impeachment na
contabilidade da empreiteira. Igualou o PCB, que já desmentiu a emissora, ao PT
e ao PSDB.
Enquanto
isso, um simples blogueiro sujo imprimiu os documentos, pôs-se a analisá-los e,
em algumas horas, produziu uma versão que acredita estar razoavelmente próxima
da verdade factual: "a Odebrecht é dona do PMDB".
Talvez
isso explique o motivo de o JN refugar: enterrar o PMDB, agora, atrapalha a
agenda do impeachment. Mas, vamos à reportagem para a qual certamente não
faltaria tempo:
Apresentador
do JN: Trezentos e dezesseis políticos de vinte e quatro partidos aparecem na
contabilidade de doações de empresas ligadas à empreiteira Odebrecht nas
eleições de 2010, 2012 e 2014.
Apresentadora
do JN: Nomes e valores constam de papéis apreendidos no apartamento do
executivo Benedicto Barbosa Silva Junior, presidente da Odebrecht
Infraestrutura.
Repórter:
Os nomes e valores que aparecem nas planilhas demonstram que a empreiteira
irrigou todo o sistema político brasileiro nas três últimas eleições. Não é de hoje.
As
listas mencionam políticos que a Odebrecht considera “parceiros históricos”.
Nesta
categoria aparecem o ex-presidente da República José Sarney, o atual presidente
do Senado Renan Calheiros, o atual presidente da Câmara Eduardo Cunha e os
senadores Romero Jucá e Henrique Alves, todos do PMDB. A empresa também
considera “parceiros históricos” o atual governador e um ex-governador do Rio
de Janeiro, Luiz Fernando Pezão e Sergio Cabral e o presidente da Assembleia
Legislativa do Estado, Jorge Picciani.
No
Rio de Janeiro a Odebrecht toca importantes obras de infraestrutura, como o
Porto Maravilha e uma linha do Metrô.
Outros
parceiros “históricos”mencionados nas planilhas são o senador Cássio Cunha Lima
e o ex-governador Teotonio Vilela Filho, ambos do PSDB; José Agripino,
presidente do Democratas, os senadores Garibaldi Alves Filho (PMDB), Eunício
Oliveira (PMDB), Francisco Dornelles (PP) e Lindbergh Farias (PT) e os
deputados estaduais cariocas Paulo Melo (PMDB) e André Correa (PSD).
Dos
17 “parceiros históricos”, 11 são do PMDB.
As
empreiteiras lideram o ranking de doações na política brasileira.
Entrevistado:
Pedro Campos, autor de A ditadura dos empreiteiros
[Na
construção de Brasília] reuniram-se empreiteiras de vários Estados e começaram
a manter contato, se organizar politicamente. Depois, passaram pelo
planejamento da tomada de poder dos militares e pautaram as políticas públicas
do país. Cresceram exponencialmente no regime militar. Todos os indícios são de
que a corrupção não aumentou. O que a gente tem hoje é uma série de mecanismos
de fiscalização que expõe mais, bem maior do que havia antes. Na ditadura não
tinha muitos mecanismos fiscalizadores, e que o havia era limitado.
Repórter:
O que pode ser a contabilidade paralela da Odebrecht foi apreendida numa fase
da Operação Lava Jato. Alguns
políticos receberam codinomes. O
atual chefe do Gabinete Pessoal da presidente da República, Jacques Wagner, do
PT, aparece como Passivo. O governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, é o
Caseiro. O senador Randolfe Rodrigues, que era do PSOL, é Múmia. Raul Jungmann,
do PPS, Bruto. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, Nervosinho. O
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Caranguejo.
Entrevistado:
Eduardo Cunha, presidente da Câmara
Não
sei o que quiseram dizer com isso, quem apelidou é quem tem que dizer. Eu só
recebo doação de caixa 1, não recebi diretamente da Odebrecht na minha conta,
mas efetivamente a Odebrecht doou para o PMDB, alocada em outras campanhas do
PMDB, e provavelmente parte a meu pedido.
Nas
eleições de 2010, Eduardo Cunha aparece como beneficiário de três doações de
empresas ligadas à Odebrecht, totalizando R$ 5 milhões. Uma das doações é destinada
ao PMDB, mas as duas outras foram, segundo os papéis, para o Diretório Nacional
do Partido Social Cristão, o PSC, e para o Partido da República, PR.
É
um indício de que a empreiteira fazia doações a pedido.
Em
2010, o prefeito do Rio Eduardo Paes não participou de eleições. Mesmo assim,
aparece nas planilhas como beneficiário de nove doações com o codinome
Nervosinho. De acordo com as anotações, Paes destinou um milhão e oitocentos
mil reais ao PMDB, ao PTB, ao PDT e a candidatos ao Congresso, como o vereador
carioca Luiz Carlos Ramos, o Homem do Chapéu, que tentou se eleger deputado
federal.
Candidato
a governador de São Paulo em 2010, o atual ministro Aluizio Mercadante aparece
como beneficiário de doações feitas ao PTB e ao PRP de São Paulo, partidos que
se aliaram ao PT naquela disputa. Também foi contemplado o candidato a senador
Ciro Moura, do Partido Trabalhista Cristão, o PTC. Segundo as planilhas, foram ao todo 200 mil
reais. As alianças políticas são importantes para definir o tempo de televisão
das coalizões.
Há
pelo menos uma tabela comparando a doação feita pela empresa com o desempenho
do candidato: no primeiro turno da eleição municipal de 2012, o tucano José
Serra aparece na lista com doação de R$ 3,2 milhões, mas teve apenas 30,8% dos
votos, contra 29% do petista Fernando Haddad na disputa pela Prefeitura de São
Paulo.
Naquela
eleição, segundo os documentos, a Odebrecht doou para candidatos do PT em 17
estados. Os que mais receberam foram Patrus Ananias (Belo Horizonte), Nelson Pelegrino
(Salvador) e Gleisi Hoffmann (Curitiba) — R$ 1,5 milhão cada. O nome dela
aparece associado ao do então ministro Paulo Bernardo. Fernando Haddad,
candidato em São Paulo, segundo os papéis recebeu R$ 1 milhão.
A
Odebrecht investiu em regiões onde tinha interesses econômicos diretos.
Sempre
de acordo com os documentos, no entorno do Comperj, o Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro, a empresa destinou 200 mil reais a candidatos indicados pelo
deputado estadual André Correa; doou $ 1 milhão ao candidato a prefeito de
Macaé, Dr. Aluizio, do PV, outro milhão à candidata do PR à Prefeitura de
Campos, Rosinha Garotinho. Investiu em candidatos a prefeito e vereador nas
cidades de Mirante do Paranapanema e Teodoro Sampaio, em São Paulo; Euclides da
Cunha, na Bahia; Mineiros, Perolandia e Cachoeira Alta, em Goiás.
A
empreiteira não faz discriminação ideológica. De acordo com os papéis, em 2012
doou 300 mil à candidata do PCdoB à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela DÁvila,
que recebeu o codinome de Avião, e 500 mil cada aos candidatos do PRB e do PDT
à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomano e Paulinho da Força.
O
atual prefeito do Rio, cogitado para ser candidato do PMDB ao Planalto em 2018,
é quem mais aparece na documentação. De acordo com as planilhas, ele também
recebeu a maior doação individual, de R$ 3 milhões.
Integrantes
da tropa de choque do impeachment no Congresso aparecem na contabilidade da
Odebrecht: Roberto Freire, do PPS; Jutahy Magalhães Junior e Raul Jungmann, do
PSDB; Rodrigo Maia, Mendonça Filho, José Carlos Aleluia e ACM Neto, todos do
Democratas.
O
presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, é descrito como beneficário
de um repasse de R$ 120 mil e Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, segundo
a lista recebeu doação de R$ 400 mil. O nome da presidente Dilma não aparece
nos papéis.
A
Polícia Federal vai investigar se todos os valores que constam dos documentos
foram repassados legalmente.
Apresentador
do JN: Deixamos de apresentar esta reportagem porque a corrupção foi
introduzida no Brasil pelo PT, os papéis provavelmente são falsos e não podemos
neste momento nevrálgico comprometer os que se empenham na derrubada do governo
Dilma e na prisão do Lula. Boa noite!
Publicado
originalmente no portal Vi o Mundo
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