A
carta que "vazou" para a imprensa teria sido escrita, supostamente,
do vice-presidente Michel Temer para a presidenta Dilma Rousseff, um documento
"confidencial e pessoal".
Mas, vejam só, macacos velhos na
comunicação nunca viram uma carta pessoal feita para ser manchete se o objetivo
não fosse esse. A carta não tem nada de pessoal e confidencial; muito pelo
contrário, é "bombástica" no estilo, conteúdo e formato, exatamente
como aquelas em geral abertas para a imprensa.
Leiam e percebam a construção do
texto, claramente feita para exposição e consumo midiático. A destinatária da
carta nunca foi a Dilma, mas a redação dos jornais! O nome disso é cinismo!
O
vice-presidente, um velho operador político do PMDB que estes anos todos foi
muito bem pago pelo poder público para atuar como garantia da coligação desse
partido com o PT (coligação cujo custo o PT está pagando), acha que ninguém vai
perceber que, se o problema dele fosse a "desconfiança" da chefe
Dilma com relação a ele e ao PMDB, seu partido, ele deveria ter enviado essa
carta há uns bons anos, né não? Ela está chegando muito atrasada porque tem, na
verdade, outro objetivo: deixar bem claro que Temer está disposto a assumir a
Presidência. É uma mensagem para a bancada do PMDB no Congresso, para a
oposição de direita que poderia compor um governo de transição com ele, para os
jornais, para os mercados e, talvez, para o próprio PT, que entenderá que o
preço para evitar tudo isso será caro, muito mais caro ainda do que foi, até
agora, a "lealdade" dos seus supostos aliados.
Percebam
que Temer "corta na carne" e cita negativamente Leonardo Picciani,
líder do PMDB na Câmara, que se aproximou do governo do PT e se coloca cada vez
mais frontalmente contra Eduardo Cunha (PMDB), desde que o presidente da Câmara
tentou cortar suas asas no seu reinado. A luta interna do PMDB — desesperados
brigando pelo queijo — está afundando o Brasil!
O
jornal O Globo, insuspeito de governismo, admitiu pela boca de Waack que o
governo está "destruindo o que há de base jurídica para o
impeachment". Mas a questão não é essa: esse impeachment não tem a ver com
as pedaladas fiscais (e muito menos com os verdadeiros defeitos desse governo,
que provocaram sua perda de popularidade); não é isso que o motiva, mas apenas uma
luta pelo poder protagonizada por uma facção política que despreza a
democracia, liderada por um bandido com contas na Suíça. Em entrevista nessa
segunda-feira, Cunha disse que o Brasil passa por um problema grave e
relacionou isso com o fato de que há "crises internas nos partidos".
Essas crises internas (a luta descontrolada pelo poder que ele, Temer e outros
protagonizam) estão passando por cima das instituições, da Constituição e das
regras de jogo democráticas.
Será
que, depois de chantagear o governo do PT para evitar sua cassação no Conselho
de Ética da Câmara, ele resolveu chantagear os próprios parlamentares do PMDB
que estão se dividindo quanto à ideia de emplacar um impeachment a qualquer
custo? (leia-se: um golpe branco, pressionado pelo poder das grandes
corporações e do grande capital).
O
cenário político inspira estado de alerta para movimentos sociais, ONGs,
associações políticas, sindicais e para a população em geral. Precisamos ficar
atentos à manutenção inegociável das instituições democráticas. Não se trata de
defender o governo Dilma, que é indefensável por muitos motivos. Trata-se de
defender a democracia e de impedir que a quadrilha que já tomou o parlamento,
impondo uma agenda conservadora e fascista de retrocesso civilizatório e perda
de direitos, tome totalmente o poder institucional e nos afunde num período
sombrio e perigoso no qual todas as liberdades e todas as conquistas sociais do
Brasil pós-ditadura podem estar em perigo.
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