Poucas
pessoas se dão conta, mas no Brasil, o dízimo é obrigatório. A Constituição
Federal estabelece que igrejas e templos de qualquer culto têm imunidade
tributária – isto é, não pagam impostos.
É como se o governo concedesse um
subsídio às entidades religiosas no valor integral dos impostos que elas devem
ao fisco: quanto mais impostos a pagar, mais elas recebem. E esse dinheiro, é
claro, sai do seu bolso.
Assim,
querendo ou não, é o dinheiro do seu imposto, prezado contribuinte, que ajuda a
bancar não apenas a igreja católica mas todas as igrejas evangélicas do país,
cada terreiro de umbanda e candomblé, cada centro espírita, cada grupo de santo
Daime. É uma sangria de bilhões de reais todos os anos que deixa de pagar
escolas, creches e hospitais.
Todo
fiel tem o direito de financiar as instituições religiosas que bem entender, na
medida do seu interesse. Mas atualmente ele não tem o direito de negar
contribuição: segundo a lei brasileira, todas as igrejas e cultos, bons, maus
ou péssimos, gozam de imunidade tributária. Por que um cidadão deve ser forçado
a sustentar religiões com as quais não concorda – ou mesmo os setores da sua
própria religião pelos quais não tem simpatia?
E
a injustiça só piora com relação às pessoas sem religião (8% no país) ou mesmo
com os religiosos não praticantes (cerca 40% só entre os católicos) e todos que
preferem não contribuir financeiramente. A Constituição nos faz dizimistas
fieis de todas as religiões do país.
Essa
dinheirama corre sem controle algum, favorecendo a lavagem de dinheiro e o uso
desses recursos para enriquecimento pessoal. E isso precisa mudar. O problema é
que a imunidade tributária das igrejas financia a bancada religiosa que se
elege, em grande parte, às custas dela, e que está mais interessada em se
perpetuar no poder, político e econômico, que em favorecer o conjunto da
sociedade.
O
que está em jogo é um princípio fundamental de toda democracia, que é a
laicidade do Estado, e que significa exatamente o oposto do que vemos hoje.
Estado laico é o que se abstém da religião, não aquele que a financia. O art.
19 da Constituição proíbe as três esferas de governo de subvencionar qualquer
culto ou religião, mas os interessados em manter essa teta jorrando, abundantes
em todos os três poderes, preferem olhar para o outro lado.
Desde
sua fundação, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) vem lutando
pela laicidade verdadeira do Estado brasileiro. E já fizemos nossa parte,
ajudando a reunir 20 mil assinaturas para levar a discussão ao Senado. Cabe
agora aos eleitores cobrar dos parlamentares a decisão certa, e perguntar o que
preferimos: mais dinheiro para as igrejas, ou mais dinheiro para saúde,
segurança e educação?
Publicada originalmente no
Jornal O Tempo de Belo Horizonte
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