Nos
últimos anos, o cenário político nacional tem entrado em estado quase
apocalíptico, revelando um esfacelamento da credibilidade do sistema político.
A democracia representativa demonstra-se verdadeiramente abalada e vulnerável
diante dos inúmeros casos de corrupção que tem minado o País, ampliando-se o
abismo existente entre a prática política e a representação da vontade popular.
Um
dos resultados desse panorama é o descrédito social depositado na política,
cuja imagem acaba por se confundir com a prática dos políticos corruptos,
olvidando-se sua verdadeira essência e importância para a sociedade.
Resta
indisfarçável que a crise do sistema representativo brasileiro constitui óbice
à efetividade da democracia. Conquanto se afigure mais notório, essa
vulnerabilidade não se evidencia somente nos parlamentos e espaços
institucionais. Visualizando-se o retrovisor da história, o exercício da
política brasileira vem se deturpando nos mais diversos espaços sociais.
Exemplo
cristalino desse fenômeno de se verifica no movimento estudantil, cujo
aparelhamento partidário descaracterizou os movimentos formados no período de
regime militar. Aqueles grupos estudantis independentes, combativos, proativos,
os quais foram protagonistas na luta pelo resgate da democracia,
transformaram-se, com episódicas exceções, em apêndices partidários. Movimentos
que outrora compuseram a vanguarda que revolucionou as estruturas políticas
republicanas, atualmente perdem sua posição de atores da democracia
participativa.
Nesse
sentido, o asco e a indiferença da sociedade em relação à política mostram-se
como caminho reverso à efetivação das bases democráticas de uma nação. O
cidadão não pode se desapegar de sua condição como elemento essencial para a
organização político-estrutural da sociedade da qual faz parte. É dizer, o
cidadão dissociado da política torna-se refém de sua própria apatia e
contribui, indiretamente, com o naufrágio das instituições democráticas. Não se
trata apenas de inserção partidária, mas interação política cidadã.
Como
já consagrado em nossa Constituição Federal, todo poder emana do povo.
Portanto, o povo ausente do controle e exercício do seu próprio poder tão
somente contribui para o fomento de vícios estruturais em nossa política. É
hora de fortalecer nossa democracia, participar ativamente dos assuntos que
interessam à sociedade, exercer o controle social das instituições, abandonar a
paralisia, exercer o poder que nos é usurpado diariamente por grupos que agem em
prol de seus interesses privados.
Democracia
sem participação efetiva e direta da sociedade é como solo infértil, fadado à
esterilidade da qual nunca se poderá extrair o fruto da liberdade humana.
Publicado
originalmente no O Povo Online
Leandro
Vasques é advogado criminal, mestre em Direito (UFPE) e presidente estadual do Partido
Republicano da Ordem Social (Pros)
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