Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas quer encerrar discussão sobre financiamento de campanha por empresas (Foto: Valter Campanato) |
Com
a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última quinta-feira (17/09),
de proibir o financiamento privado das campanhas eleitorais, os defensores da
medida pretendem intensificar os próximos passos para que essa prática seja
página virada no Brasil.
A
Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, criada em 2013
por 103 entidades representativas do país, como a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Movimento de
Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), além de movimentos sociais, trabalha com duas prioridades: a primeira,
respaldada pela decisão do STF, é conseguir o veto da presidenta Dilma Rousseff
ao ponto da minirreforma eleitoral (PL 5735/13), aprovada na semana passada
pela Câmara dos Deputados, que permite a doação de empresas para partidos
políticos nas campanhas.
“Nossos
interlocutores estão cuidando para que a presidenta nos receba nos próximos
dias. Ela já fez isso uma vez. Queremos pedir a ela que vete essa proposta”,
disse o diretor do MCCE, Luciano Santos. Para ele, o entendimento do STF sobre
a questão é mais que moralizador. “Essa medida influencia todas as decisões que
o Congresso vai tomar daqui para a frente. É mais que moralizadora. Existe um
trabalho para que a reforma política seja mais ampla e significativa, mesmo com
as opiniões diversas no Congresso. Agora, toda a estratégia da reforma política
muda, já que qualquer discussão terá que ser feita em torno dessa decisão”,
acrescentou.
A
outra preocupação da coalizão é colocar logo em pauta no Senado a proposta de
emenda à Constituição (PEC) da reforma política, aprovada pela Câmara dos
Deputados . A intenção é de que a proposta seja derrotada pelos senadores e,
com isso, a discussão em torno do financiamento de campanha por empresas seja
encerrada.
O
senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que na próxima terça-feira (22) vai
pedir ao presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que estabeleça um
calendário especial para essa votação. A rapidez nessa apreciação também tem o
apoio do vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC). Ele informou que já
conversou com Renan sobre o assunto e que, possivelmente, a matéria entre em
pauta na próxima semana.
Senadores
contrários ao fim do financiamento privado de campanha, como Agripino Maia
(DEM-RN) e Ana Amélia (PP-RS), criticaram a decisão do STF.
“O
que se propõe é o financiamento de pessoas jurídicas a partidos políticos.
Isso, na verdade, é o aperfeiçoamento do sistema. Respeito a decisão do
Supremo, que com base no voto da maioria, decidiu juridicamente pela
inoportunidade ou pela inconveniência desse tipo de financiamento. No entanto,
a matéria com argumentos políticos foi votada e aprovada na Câmara. Quem
entende dessa matéria é a classe política”, observou Maia.
“Isso
é o que chamamos de judicialização da política. A Justiça brasileira está
ocupando o espaço que pertenceria ao Legislativo. Como o Legislativo tem razões
para agir da forma que age, então o Supremo é provocado por instituições que
têm representatividade para fazê-lo. Não discuto a questão no seu mérito, nem a
decisão do Poder Judiciário, falo da realidade do sistema eleitoral
brasileiro”, afirmou.
Segundo
Ana Amélia, a proibição pode institucionalizar o caixa 2. “A gente tem que
refletir muito. Como vai ser a regulamentação? Podem ser criadas distorções.
Pessoas que não têm renda vão receber dinheiro do seu sindicato e vão entregar
com seu CPF para os partidos. E os outros candidatos que não dispõem desse apoio
coletivo sindical? É preciso uma regulamentação muito rigorosa e uma
fiscalização muito bem feita por parte do TSE”, disse a senadora.
A
preocupação com o Caixa 2 é a mesma do ex-ministro do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) Fernando Neves. “Vejo essa proibição com cuidado, tenho medo de
que ela reforce a prática do caixa 2. Na minha avaliação, uma solução
intermediária seria melhor. De qualquer maneira, temos que experimentar . Pode
ser que agora, que acabou o dinheiro de empresas em campanhas, novas soluções
sejam encontradas. O meu medo é que essas soluções fiquem à margem da
transparência, espero que não aconteça. Temos as instituições, a Justiça
Eleitoral, o Ministério Público e os órgãos de controle cada vez mais atentos”.
Para
evitar problemas como esse, o vice-presidente do Senado, Jorge Viana, diz que
com o fim do financiamento empresarial, o Congresso precisa se debruçar em
outras medidas. “Para mim, é preciso ter mais dois movimentos: criminalizar e
satanizar o caixa 2 e estabelecer o teto para as campanhas. Cabe a nós fazer
esse aperfeiçoamento e dar mais transparência aos fundos partidários e às
doações permitidas”.
Viana
disse ainda que o pior erro do PT foi ter aceito financiamento de empresas em
campanhas. “Esse foi o maior erro, o pecado capital do PT, e acho que nos demos
muito mal por causa disso. Agora, temos uma oportunidade de recomeço, de ir
atrás do militante para fazer doação. Precisamos colocar mecanismos de
transparência de entrada e saída de dinheiro nos partido. Podemos encontrar uma
maneira tranquila de fazer o combate ao caixa 2 e torná-lo apenas uma exceção,
de forma que quem fizer isso seja preso e perca o mandato”.
Para
o secretário-geral da Comissão Especial de Mobilização para Reforma Política da
OAB, Aldo Arantes, a decisão do Supremo é apenas o primeiro passo para uma
mudança. “Nós temos uma situação de crise do atual sistema político, e o fator
principal é o financiamento empresarial, mas lutamos também para que o
financiamento de pessoa física seja limitado. Vai ser uma luta em torno da
criminalização do caixa 2 e para estabelecer limites módicos de doação. É
fundamental reduzir drasticamente os custos de campanha, é fundamental retirar
a questão do marketing, que é extremamente oneroso para a campanha. Enfim, é
necessário fazer uma campanha em que haja paridade de armas, em que haja uma
certa igualdade na disputa”, defendeu.
Com
informações Agência Brasil
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