A data foi escolhida em homenagem ao nascimento do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882). Com sua teoria da evolução por meio de seleção natural, no livro A origem das espécies, de 1859, Darwin refutou parte fundamental do discurso religioso: a Criação.
A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) acumula mais de 14 mil membros. Além disso, a página oficial da organização no Facebook soma 375 mil fãs. Mesmo assim, o presidente da Atea, o engenheiro Daniel Sottomaior, 43 anos, acredita que a associação ainda tem muito o que crescer. "Muitas pessoas não são associadas, alguns nem conhecem a Atea", afirma.
No último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, os ateus e agnósticos somavam 740 mil de uma população de 190 milhões de pessoas - o equivalente a 0,39% dos brasileiros. No entanto, o número de ateus e agnósticos no País pode ser bem maior, pois o censo engloba apenas os que se autoafirmam ateus, não contando com aqueles que "não saem do armário", como diz Sottomaior. "Emprestamos muitos conceitos e termos da comunidade LGBT, pois sofremos preconceitos parecidos".
Além disso, o engenheiro questiona a metodologia de pesquisa do IBGE. "O IBGE pergunta 'qual é sua religião?', muitos ateus respondem "não tenho" ou "nenhuma" e não são incluídos na categoria de ateus, mesmo que não estejam no armário", afirma. De acordo com o presidente da Atea, o número correto de ateus está entre 1% e 3% - algo entre 2 e 6 milhões de brasileiros.
A Atea defende que a comemoração do Dia do Orgulho Ateu se faz necessária para encorajar esse grupo a entender que eles não devem ser marginalizados. "Muitos têm vergonha de assumir o que pensam, por medo de sofrer preconceito na família, no trabalho ou na escola", conta o presidente da organização.
Indagado sobre a existência de ateus entre estudantes que estão em idade escolar, Sottomaior conta que é comum. "Recebemos diversos relatos de crianças que contam que não se sentem à vontade para dizer o que pensam. Depoimentos de crianças de 9, 10 anos não são tão raros", explica.
A constatação pode surpreender os religiosos mais conservadores, mas sustenta um dos argumentos de alguns ateus, que defendem que toda a criança nasce atéia e assim permanece até receber alguma educação religiosa, seja por meio da escola, da família ou da sociedade.
O engenheiro conta que a Atea recebe várias denúncias de pessoas que sofreram preconceito por serem ateus ou agnósticos e que o objetivo da associação é o de combater tais atitudes, incentivar a punição dos preconceituosos e orientar as vítimas. "Lutamos principalmente contra o preconceito e promovemos a laicidade do Estado", explica o presidente da organização.
Uma doutrina dominante
"O Estado deveria ser laico e não é. Por isso mesmo, a data (Dia do Orgulho Ateu) não é oficial no Brasil e não será tão cedo. Quando ela for aceita judicialmente, será uma vitória imensa para nós", diz o engenheiro.
Além da "religiosidade do Estado", Sottomaior alerta para as "contradições dos cristãos". "Muitas pessoas boicotam empresas por denúncias de trabalho escravo ou outras situações vistas como ilegais hoje em dia. No entanto, isso não acontece com o Vaticano", defende.
"No Vaticano, não há mulheres. Se uma organização atua assim atualmente, ela é recriminada, mas todos os cristãos aceitam que o Vaticano seja controlado apenas por homens. São dois pesos, duas medidas" denuncia.
O engenheiro lembra também que, embora o Dia do Orgulho Ateu não seja oficial, muitos feriados cristãos estão no calendário oficial dos brasileiros. "Os cidadãos não têm o poder de definir nenhum feriado. Quem faz isso é o Judiciário e é por isso que trabalhamos bastante com o ativismo judicial".
Por isso mesmo, os ateus são obrigados a respeitar o calendário cristão e a conviver com determinadas datas e comemorações não associadas a suas crenças. O que eles esperam é que, em algum futuro não muito distante, os religiosos também respeitem as suas (des)crenças e que não seja tão difícil "sair do armário" do ateísmo.
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