24 de dezembro de 2014

Os motivos que levaram Cid à Educação

Governador Cid Gomes na Assembleia Legislativa após a confirmação do convite por Dilma (Foto: Máximo Moura)
Os planos de deixar o Brasil para trabalhar nos Estados Unidos em 2015 foram abortados pelo governador Cid Gomes (Pros) na manhã de ontem, quando ele aceitou o convite da presidente Dilma Rousseff (PT) para assumir o Ministério da Educação. A pasta detém o segundo maior orçamento do Governo Federal, atrás somente da Saúde, e foi considerada pela petista “a mais desafiadora” área do País, conforme relatos de Cid sobre a reunião que selou o convite, em Brasília. 

O governador do Ceará disse que se sente “mais à vontade” por não ter sido escolhido por indicação partidária, afirmou que, até janeiro, irá buscar ouvir sugestões de especialistas e adiantou que não irá compor uma nova equipe no Ministério assim que chegar ao cargo.

“Chegando lá, não vou mudar todo mundo. Será preciso uma transição. Vou conhecer a equipe, o histórico de quem está lá, e aos poucos recrutar o que de melhor há na inteligência nacional. A Dilma certamente me convidou não por enxergar deficiências no Ministério. Chamou porque agora sou uma pessoa que está disponível e que antes não estava. E ela sabe da preocupação e do zelo com essa área”.

O Ministério da Educação tem peso desproporcional à estatura do partido de Cid, o Pros, que está entre os nanicos na Câmara dos Deputados. O cearense faz parte, portanto, da cota pessoal de Dilma no ministério. Quando era filiado ao PSB, em 2013, o chefe do Executivo do Ceará ganhou pontos com a petista ao se insurgir contra a candidatura do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), à Presidência da República, defendendo que a sigla se mantivesse na base governista. Com a confirmação do nome de Campos como candidato de oposição, Cid preferiu deixar a sigla e se filiar ao Pros, para onde levou a maioria dos líderes do PSB no Ceará.

O governador também ganhou prestígio com a presidente pelos bons resultados do Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic), implantado no Ceará em 2007, que acabou virando referência para um Pacto Nacional na área. Em 2007, crianças da maioria dos municípios do Estado tinham nível “intermediário” de alfabetização no 2º ano do ensino fundamental. Já em 2011, segundo o Governo, 179 das 184 cidades do Ceará já haviam alcançado nível “satisfatório”.

Boa parte dos bons resultados do Governo se concentrou no ensino fundamental. Em setembro deste ano, o MEC divulgou que o Ceará não atingiu a meta do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2013 para o ensino médio, mas alcançou os índices propostos para os anos iniciais e finais do fundamental.

Na contramão do bom currículo na área de educação, Cid amargou várias greves de professores e foi acusado por docentes de abandonar a Universidade Estadual do Ceará (Uece). Em 2010, o governador chegou a apresentar ao MEC a proposta de federalizar a Instituição, mas não houve desdobramento.

A qualidade do ensino médio foi outra pedra no sapato. Conforme O POVO publicou ontem, passados oito anos de gestão, 93% dos alunos terminam o ensino médio com deficiência em matemática. Só 9% deixam a escola com proficiência em português.

O que credencia Cid

O Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), lançado pelo governo Dilma Rousseff, é inspirado em programa nascido em Sobral, quando Cid era prefeito, e depois replicado no Estado. No Ceará, o Paic levou alfabetização em nível “satisfatório” a crianças do 2º ano de quase todos os 184 municípios.

Quando Cid assumiu o governo, em 2007, havia déficit de escolas de ensino médio no Ceará. Hoje, todas as sedes municipais possuem uma unidade e, segundo o governador, há 80 distritos com escolas públicas estaduais funcionando.

O Estado aponta que não havia nenhuma matrícula em escola profissionalizante do Estado em 2007. Atualmente, há mais de 40 mil jovens matriculados nessa modalidade de ensino.

Em setembro deste ano, o Ideb – índice divulgado a cada dois anos que serve como indicador do MEC para a qualidade do ensino básico no País – mostrou que, nos anos iniciais do ensino fundamental, o Ceará aumentou sua nota de 4,7 para 5. A meta, nessa modalidade, era de 3,9. Nos anos finais, a nota passou de 3,9 para 4,1. Na rede privada, as metas não foram atingidas.

Problemas e Polêmicas

Em relação ao Ideb, a nota no ciclo final do ensino médio no Ceará caiu de 3,4 para 3,3, de 2011 para 2013. Houve queda de 2,9%, tendência registrada em outros 15 estados.

Resultados divulgados pelo movimento Todos pela Educação este ano mostram que apenas 6,6% dos alunos terminam o ensino médio com proficiência em matemática e só 9% com conhecimento adequado em português.

Cid teve relação difícil com os professores. Em 2011, durante uma greve da categoria, se envolveu em polêmica de projeção nacional ao afirmar que professores devem trabalhar “por amor”.

Outra crise gerada pela greve de 2011 foi a violenta expulsão de professores e simpatizantes acampados na Assembleia Legislativa pela Polícia Militar, conflito do qual algumas pessoas saíram feridas.

Dos 12 meses do ano de 2014, pelo menos oito foram de greve dos professores da Uece. Os docentes acusam o Governo de não cumprir promessas, como a regulamentação de todas as leis do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) e a realização de concursos para professores efetivos.

Bastidores

Cid seguiu de Brasília para o Ceará na tarde de ontem e foi direto para a Assembleia, onde fez balanço do governo e se despediu dos deputados. Antes de sair o anúncio oficial da Presidência sobre o ministério, vários parlamentares se referiram a ele como “ministro”.

Quando a lista de Dilma foi divulgada, o presidente da Assembleia, Zezinho Albuquerque (Pros), fez o anúncio no plenário. Autoridades presentes aplaudiram de pé. Cid pediu para que Zezinho falasse a lista inteira, vagarosamente. A cada nome lido, o governador tecia um comentário. Ele reconheceu o nome de Nilma Lino Gomes, futura secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Nilma é reitora da Unilab, universidade com sede no município de Redenção

A cerimônia na Assembleia se transformou em uma longa sessão de paparicos a Cid. Diante dos elogios, não houve espaço para críticas.

Com informações O Povo Online

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