Representantes
de movimentos sociais discutem apoio à
reforma política (Foto: Wilson Dias)
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Com
o debate em torno de alterações no sistema político na pauta do dia,
representantes de movimentos sociais prometem realizar inúmeras manifestações
para coletar assinaturas de apoio a um projeto de iniciativa popular que trata
da reforma política.
A
intenção é conseguir 1,5 milhão de assinaturas e, então, protocolar a proposta
no Congresso Nacional. A iniciativa, chamada de Coalizão pela Reforma Política
Democrática e Eleições Limpas, é encampada por mais de 100 organizações, entre
elas a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Movimento de Combate à Corrupção
Eleitoral, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB).
De
acordo com os organizadores da coalizão, até o momento, foram obtidas mais de 500
mil assinaturas. Ontem (07/11), a coalizão divulgou manifesto conclamando a
população a se unir em torno de “uma proposta de reforma política democrática
capaz de mobilizar a sociedade por medidas que combatam verdadeiramente a
corrupção eleitoral” e que construa um sistema de representação política mais
identificado com as aspirações populares.
Segundo
o secretário da Comissão de Mobilização para a Reforma Política da OAB, Aldo
Arantes, até o final do ano serão realizados atos e manifestações no Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Pará, Distrito Federal
e em Pernambuco e São Paulo.
"Queremos
construir com a sociedade um pensamento coletivo em torno de uma proposta
concreta e desencadear um movimento de grandes proporções. Algo acima de
partido, de corrente, mas que una todos os democratas brasileiros, que permita
um salto de qualidade [na política] e que abra caminho para todas as reformas
de que o país necessita”, afirmou
Arantes, comparando a iniciativa à que resultou na Lei da Ficha Limpa,
que também teve origem em projeto de iniciativa popular.
A
proposta atual gira em torno de quatro temas estruturais. O principal deles é o
fim do financiamento de campanhas por empresas, considerado o problema
estrutural mais grave entre os que afetam o processo democrático brasileiro.
Pela proposta, será instituído o chamado "financiamento democrático"
como alternativa de condições iguais para todos os partidos. Os recursos para
esse financiamento público viriam do Orçamento Geral da União, de dinheiro
arrecadado com multas administrativas e penalidades eleitorais e doações de
pessoas físicas.
Os
recursos do fundo seriam destinados exclusivamente aos partidos políticos. As
contribuições individuais dos cidadãos seriam fixadas em no máximo R$ 700,
desde que o total não ultrapasse 40% do financiamento público. “A porteira da
corrupção nas eleições do Brasil chama-se dinheiro de empresas nas campanhas
eleitorais”, observou o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belho Horizonte e
representante da CNBB na coalizão, dom Joaquim Moll.
Pelo
projeto, as eleições seriam dispuadas em dois turnos, com a substituição do
atual sistema eleitoral – proporcional de lista aberta. A ideia é que, no
primeiro turno, o voto seja dado ao partido, à plataforma política e à lista
pré-ordenada de candidatos, quando ficará definido o número de vagas
parlamentares a serem preenchidas pelos partidos. No segundo turno, o voto será
dado ao candidato.
A
proposta também prevê a adoção da paridade de gênero entre os candidatos. No
segundo turno das eleições proporcionais, os postulantes aos cargos eletivos
receberão do partido recursos em igualdade de condições. Também estão previstos
o fortalecimento dos mecanismos da democracia direta: plebiscito, referendo e
projeto de iniciativa popular. O formulário de assinaturas está disponível no
site do movimento.
As
propostas apresentadas pela coalizão não alterariam a Constituição – com
mudanças apenas nas leis eleitorais, as mudanças podem ser aprovadas com mais
facilidade pelo Congresso, “Essa proposta que vai ser apresentada não depende
de alteração na Constituição. É um projeto de tramitação ordinária, a maioria
simples da Câmara permite a sua aprovação”, completou Arantes.
O
tema da reforma política foi abordado pela presidenta Dilma Rousseff no
primeiro discurso após a reeleição. Ela propôs uma consulta popular para
realização da reforma. Aldo Arantes disse que é preciso debater o conteúdo da
proposta. Segundo ele, para o movimento, a questão fundamental não é a
discussão da forma, se é plebiscito, se é referendo ou se é projeto de
iniciativa popular.
A
iniciativa da presidenta desagradou a alguns setores políticos. O PMDB, partido
que integra a base de sustentação do governo, também anunciou a intenção de
enviar ao Congresso Nacional uma sugestão de reforma política. O Congresso, na
visão dos integrantes da mobilização, é um entrave para uma mudança mais
efetiva no sistema político. “Eles adotam o absurdo de tentar
constitucionalizar o financiamento de empresas [nas campanhas]. O povo foi às
ruas contra a influência do poder econômico nas eleições e o Supremo Tribunal
Federal [STF] está num processo que considera isso inconstitucional por 6 votos
a 1”, afirmou Arantes.
A
coalizão também vai realizar uma campanha para que o ministro do STF Gilmar
Mendes devolva o processo em que o tribunal considera inconstitucional a doação
de empresas para as campanhas eleitorais.
Em
abril, o STF julgou uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) impetrada
pela OAB a respeito da legalidade das doações. Quando a votação se encontrava
com o placar de 6 a 1 a favor da inconstitucionalidade, Gilmar Mendes pediu
vista e interrompeu a votação que já estava consolidada.
“Depois
que vários dos seus colegas do Supremo votaram e já aprovaram a inconstitucionalidade
da doação de empresas para as campanhas eleitorais, ele [Gilmar] pediu vistas.
Agora ele precisa voltar com o processo para que seja novamente pautado e seja
concluída a votação, que já está favorável à inconstitucionalidade da doação”,
disse dom Joaquim.
Com
informações O Povo Online
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