12 de outubro de 2014

As redes sociais da discórdia eleitoral

A já difícil convivência nas redes “sociais” tem beirado o insuportável para um bom número de usuários do Facebook e Whatsapp desde que o segundo turno das eleições foi anunciado. Difícil encontrar quem não tenha se intrigado, bloqueado, excluído contatos ou se decepcionado com amigos por causa de divergências na opção de voto. O pano de fundo da discórdia? A polarização entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) e o acirramento da disputa nesta fase de “tudo ou nada”. A eleição se encerra no dia 26 – a radicalização do debate, no entanto, pode até piorar. 

O farmacêutico Raony Milet, 28, já perdeu dois amigos por causa de postagens no Facebook com teor político “cego”, conforme classifica. “Não estou só bloqueando, estou excluindo mesmo, e excluindo da vida”, conta. “Alguns amigos são bem petistas e eu já deixei de seguir nas redes sociais há muito tempo, mas ainda tenho contato, converso. Com os peessedebistas é que eu estou tendo aversão. É muita paixão e pouca razão”, critica Raony.

No grupo de Whatsapp do qual faz parte o dentista Ítalo Costa Montenegro, 37, o bate-papo descontraído deu lugar a embates de “torcidas” adversárias de Dilma e Aécio. Na turma de cerca de 20 eleitores majoritariamente pró-tucano, a convivência com o único “dilmista” se tornou incômoda – ao ponto de a administradora do grupo promover uma enquete para decidir se o colega deveria ser excluído da lista.

Duas pessoas saíram do grupo depois que as brigas e o festival de vídeos, fotos e notícias provocativas começaram a piorar. “Eu conheço gente que deixou de se falar nessa eleição. As pessoas estão misturando as coisas”, constata Ítalo.

A guerrilha política e a exasperação dos ânimos diante do temas que mexem com paixões existem desde que o mundo é mundo, mas, nas redes sociais, alguns ingredientes contribuem para o esgarçamento das relações. “A gente se sente mais livre pra dizer coisas on-line e emitir opiniões quando não estamos fisicamente perto do interlocutor. É mais fácil escrever e dar um clique do que se engajar em uma discussão”, observa o psicólogo Paulo Lopes, do Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Facebook, Whatsapp e outras redes de relacionamento expõem, ainda, outro fenômeno humano: “Quando a gente se junta em grandes grupos, tende a ficar mais hostil, a ser mais assertivos diante de quem se opõe diretamente a nós. Você polariza mais, já que está respaldado pelo apoio dos seus”, explica.


Com informações O Povo Online

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