Nasci em 1977 e não me lembro do dia em que comecei a
assistir F1. Talvez tivesse um grande prêmio no primeiro final de semana de
minha vida, e talvez eu estivesse próximo a tv ouvindo. Enfim, assisto desde
sempre. Não houve um dia em que eu tenha “descoberto” o esporte. Na verdade
talvez tenha existido o dia em que eu tenha descoberto e tido noção da minha
própria existência. E nesse momento, certamente, a F1 já era uma rotina em
minha vida.
Os anos 80 reservaram uma observação errônea na minha
capacidade de analisar o esporte e isso contaminou minha visão até uns 10 anos
atrás. Mas voltarei a falar mais adiante o porquê disso.
O fato é que a partir do início do século cheguei a seguinte
conclusão: o campeonato da F1 não é um campeonato de pilotos. É um campeonato
de equipes.
Hoje, é comum que ‘especialistas’ digam: “o trabalho do
piloto hoje é sentar no carro e acelerar. A tecnologia é muito grande e os
pilotos de outrora eram muito melhores.”
Ok. É uma afirmação repetida zentas vezes e faz algum sentido
no discurso. Mas, e se abandonarmos a preguiça e pensarmos: “Peraí, mas então
quando exatamente isso mudou? Qual foi o divisor de águas entre a disputa
tecnológica e a disputa de pilotos?” Então precisamos percorrer a história pra
encontrar o elo perdido.
Inicialmente, pego-me a imaginar como seriam os primórdios
das competições de carros de F1. Certamente, com regulamentos menos complexos,
fica fácil imaginar algo como uma aventura. E nesse exato momento, penso que os
pilotos simplesmente não poderiam chegar na equipe e encontrar o carro pronto.
Até porque o campeonato de pilotos na F1 começou em 1950 e apenas em 1958,
começou também o campeonato de construtores. Imagino (imaginação mesmo) que
pilotos tinham suas garagens e viviam mexendo em seus carros para prepara-los
para as competições. Faz sentido? Acho que faz.
Teriam que experimentar invenções garagistas. Exatamente como
nos rachas, quando alguém diz: “olha, coloquei um turbo no meu carro” ou “olha,
coloquei um aerofólio”. Não seria exatamente da mesma forma? Não é exatamente
assim que assistimos em filmes amadores de corredores de racha (que devem
encontrar alguma inspiração na realidade)? Não é assim que os documentários que
retratam histórias de Emerson e companhia em aventuras como essas nos mostram?
Ao
alinhar todos no grid, fatalmente quem seria o favorito? Aquele que conseguisse
o maior êxito no “envenenamento” da máquina. Ou seja: certamente o melhor CARRO
carregaria o piloto vencedor. Basta ver as imagens antigas. Aquelas corridas
totalmente desprovidas de segurança, carros que pareciam geringonças e até
mesmo diferenças fisicamente visíveis entre eles.
Observe
que o termo “envenenar o carro”, é romântico. Mas o avanço tecnológico que
supostamente retira o impacto das habilidades do piloto não é o mesmo que o
“envenenamento dos carros”? A essência me parece ser rigorosamente a mesma.
A
conclusão a que chego: Sim, trata-se de uma competição de CONSTRUTORES. De
CARROS, e não de pilotos.
Reparem
que até o ano passado, o piloto imbatível, era Sebastian Vettel. Assim como a RBR
era imbatível. Então a Mercedes torna-se imbatível. E os pilotos imbatíveis se
transformam em Hamilton e Rosberg. Mais atrás, a Brawn GP foi imbatível e,
consequentemente, Jason Button. E se formos olhando vários momentos na
história, essa realidade se repete, RIGOROSAMENTE.
E
aí resolvi então fazer o seguinte levantamento: Qual foi o melhor carro de cada
ano? E aí saberemos quem foram os pilotos imbatíveis. Porque quem nos diz isso,
não são os pilotos em si, mas sim SEUS CARROS. CAMPEONATO DE CARROS.
Buscando
de 1958 a 2013, temos uma amostragem de simplesmente 56 temporadas. E cruzando
dados, vejo o seguinte dado estarrecedor e que só comprova as conclusões
anteriores:
DAS
56 TEMPORADAS, APENAS EM 10, OU SEJA, 17,85% DAS VEZES, O PILOTO CAMPEÃO NÃO
TEVE O CARRO CAMPEÃO DE CONSTRUTORES.
Isso
mostra que, em toda a história da categoria, 82,15% do peso no título dos
pilotos PODE SER ATRIBUIDO AO CARRO QUE PILOTAM!
E
voltando aos anos 80, vejo que, em todas as décadas, foi ela que incluiu a
maior incidência de campeonatos de pilotos sem o carro campeão de construtores:
4. Isso é a percepção errada a que eu me referi no início do texto.
Por
isso, sem sombra de dúvidas, cabe fazer homenagem histórica aos GRANDES PILOTOS
que obtiveram tal feito. Esses, sim, os maiores nomes entre os campeões
mundiais. Uma lista seletíssima, pinçada somente entre campeões.
OS
CAMPEÕES DOS CAMPEÕES:
Temos
nessa seletíssima lista de lendas do esporte, um bicampeão no quesito. Um
único. Ele é brasileiro e seu nome é NELSON PIQUET.
Alguns
mais céticos (ou mais programados) podem argumentar que o que permitiu tais
títulos, foi o equilíbrio entre as equipes nos anos em questão. É. Pode ser
verdade. Mas também deve admitir então, que essa lista contempla não somente os
campeões com carros não-campeões, mas também uma lista com os campeões nas
disputas mais equilibradas da história.
Publicado
originalmente no portal Gazeta esportiva
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