Com
a previsão de que o projeto de lei do Marco Civil da Internet (PL 2.126/11)
finalmente vá a votação, nos próximos dias, o governo tenta formar consenso em
torno da proposta que define os direitos e deveres de internautas e de
provedores de acesso e conteúdo na internet.
Após
diversas reuniões com lideranças da base aliada, o governo cedeu em um ponto
considerado polêmico: a obrigação de que empresas provedoras de conexão e
aplicações de Internet manterem em território nacional estrutura de
armazenamento de dados, os chamados data centers. Agora, a intenção é debater e
votar a proposta hoje (19/03).
O
artigo 12 do texto do relator, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), determinava
que o governo poderia, por meio de decreto, obrigar os provedores de conexão -
"que exerçam suas atividades de forma organizada, profissional e com
finalidades econômicas - a instalarem ou utilizarem estruturas para
armazenamento, gerenciamento e disseminação de dados em território nacional,
considerando o porte dos provedores, seu faturamento no Brasil e a amplitude da
oferta do serviço ao público brasileiro".
Após
reunião, no início da noite de ontem, com líderes do PSD, PCdoB, PSD,
PR e PROS o governo admitiu retirar o artigo que gerou descontentamento com
alguns partidos da base aliada. Por outro lado, os partidos decidiram acatar a
previsão de neutralidade de rede, que consta no projeto.
"Ficou
bastante claro que os partidos aprovaram a neutralidade e que iremos fazer um
ajuste para a questão dos data centers, enfatizando a questão da soberania
nacional", disse Ideli Salvatti.
"Nós
vamos reforçar a redação do artigo 11 para que não haja brecha sobre os dados
coletados e armazenados no Brasil, para que não haja nenhuma dúvida sobre a
aplicação da legislação nacional nessa matéria", disse Molon ao explicar
que a redação foi incluída no projeto após a revelação dos casos de espionagem
do governo brasileiro, por parte dos Estados Unidos, revelados pelo ex-consultor
que prestava serviços à Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês)
norte-americana, Edward Snowden.
A
posição do governo foi reforçada na Câmara dos Deputados pelos líderes do PSD,
Moreira Mendes (RO), e do PROS, Givaldo Carimbão (AL). Do ponto de vista do
PSD, estamos saindo com o assunto liquidado para aprovar na íntegra o projeto,
ressalvado o ponto do data center", disse Mendes. "A base do governo
está pronta para votar amanhã", completou Carimbão.
Desde
o início da semana, o governo vem se reunindo com os parlamentares na tentativa
do governo de domar a base aliada em torno da proposta. Ontem, Ideli se reuniu
com o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), principal opositor
do projeto, mas sem consenso.
Hoje
pela manhã, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e Ideli Salvatti se
reuniram com líderes da base aliada para tentar convencer os parlamentares de
alguns pontos discordantes. Ao final do dia, o movimento do governo começou a
surtir efeito e o principal ponto defendido pelo governo, o da neutralidade de
rede, recebeu o apoio da base aliada, menos o PMDB, que já tinha apresentado
uma proposta na semana passada para se contrapor ao projeto defendido pelo
governo.
O
PMDB é contra a neutralidade da rede. Em diversas ocasiões, o líder do partido
na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), disse que a bancada votaria contra a proposta do
marco civil.
O
relator do Marco Civil da Internet, Alessandro Molon (PT-RJ), e o governo defendem a neutralidade de rede,
princípio pelo qual as empresas que gerenciam conteúdo ou vendem acesso à
Internet, ficam proibidas de dar tratamento diferenciado aos usuários.
Molon
diz que se o texto for retirado, aumenta o risco pacotes diferenciados de
serviços. Quem pagar mais terá maior acesso a dados, como vídeos e streaming,
enquanto os demais só poderão adquirir pacotes com acesso restrito a redes
sociais e e-mails.
O
projeto prevê ainda que qualquer modificação ou discriminação de conteúdo na
neutralidade será feita mediante decreto, e só poderá ocorrer em casos de
priorização de serviços de emergência, ou a partir de requisitos técnicos
indispensáveis à prestação adequada dos serviços e aplicações.
Já
o substitutivo do PMDB, limita a neutralidade da rede e possibilita a
existência de contratos com pacotes em que a provedora de conexão faça
contratos com pacotes com condições especiais: só e-mails; só acesso a redes
sociais; só acesso a vídeos etc.
Além
do PMDB, o DEM também apresentou texto alternativo que poderá se levado a
plenário. Na proposta apresentada pelo DEM, não haverá exceções para a
neutralidade de rede. "O conceito de neutralidade não pode, em nenhuma
hipótese, ser definido ou pormenorizado por meio de regulamento ou
decreto", diz a proposta, que também exclui a previsão de instalação de
data center no país para a guarda de dados.
"Os
data centers, como está posto no texto reivindicado pela presidenta Dilma
[Rousseff], vai encarecer as conexões de Internet no Brasil, porque você vai
ter que replicar data center de grande escala no mundo para o Brasil, e isso
vai encarecer para o consumidor" disse o líder do DEM, Mendonça Filho
(PE), para quem a neutralidade da rede do projeto do governo é falsa.
Molon
refutou o argumento. De acordo com o deputado petista, a proposta apresentada
pelo DEM é que traria prejuízo para os brasileiros que acessam a Internet, uma
vez que se o princípio for retirado haverá diferenciação entre os internautas
que poderão pagar por pacotes diferenciados, com maior acesso a dados, e os que
só poderão adquirir pacotes com acesso restrito. "Se essa emenda fosse
aprovada, isso inviabilizaria a Internet como conhecemos", disse Molon.
O
Marco Civil da Internet tranca a pauta da Câmara desde outubro do ano passado.
Diante da intenção do governo de iniciar a votação amanhã, o presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que o texto vai começar a ser
discutido em plenário amanhã, mas calcula que a votação pode sair até a próxima
terça-feira (25).
"Havia
o risco de chegarmos ao plenário e, por manobra legítima de obstrução, não
votarmos. O ministro Cardozo vai estar aqui amanhã para a última reunião a
respeito do marco civil, e a partir da próxima terça-feira esta Casa terá que
ter a sua pauta destrancada", disse Alves.
Com
informações Agência Brasil
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