Noticiou-se
igualmente que 25 municípios cancelaram seus carnavais para revolta de uma
significativa parcela da sociedade e causando prejuízos a empresários, pequenos
comerciantes, ambulantes e diversos prestadores de serviços, que aproveitam o
período festivo para melhorar suas rendas.
O
jornal O Povo realizou uma enquete com alguns prefeitos e prefeitas e
autoridades no setor para saber se realmente é conciliar as festas de Carnaval
com os problemas da seca. Confiram:
As
dificuldades com a seca são reais, mas é preciso considerar o município como um
todo. Em 2013 não festejamos a tradicional Semana do Município; Natal e
Réveillon foram bem modestos. O foco era equilibrar as finanças para pagar
dívidas deixadas pela administração anterior, salários e fornecedores. Nossas
contas estão em ordem. As ações de convivência com a seca contam com o apoio
dos governos estadual e federal. Temos quatro carros-pipa cobrindo as
localidades distantes do rio e 11 comunidades serão atendidas pelo Água para
Todos, através da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA. Medidas pontuais
são tomadas sempre que necessário. O Carnaval não se resume a festa; ele também
movimenta a economia e nada como um ganho extra em momento de dificuldade.
Vamos gerar emprego, fazer a alegria dos nossos jovens, receber os filhos da
terra em visita no feriado e abraçar os amigos que sabem que o nosso Carnaval é
referência na região.
EXPEDITO
JOSÉ DO NASCIMENTO - Presidente
em exercício da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece)
O
Carnaval é uma festa popular e tradicional que faz parte do calendário de
eventos de diversos municípios de todo o País. O Ceará não foge essa regra,
embora esteja passando por diversas dificuldades ocasionadas pelo período de
estiagem. Com sensibilidade e discernimento, cada gestor deve avaliar a
situação real de seu município, verificar se existem condições financeiras e/ou
recursos externos disponíveis e decidir com critério e responsabilidade a
realização, ou não, de festas durante o Carnaval. É bom lembrar que essa festa
é também uma forma de manter a juventude no município, evitando evasões para
outras localidades, grandes aglomerados e também a possibilidade de más
condutas nesse período específico do ano. É, ainda, uma forma eficiente de
aquecer as economias locais e gerar renda para a população. A recomendação da
Aprece é que os gestores sejam criteriosos ao tomarem essa decisão, avaliando a
real situação de seu município diante dos muitos problemas gerados pela falta
de chuvas.
Acho
plenamente possível conciliar já que Camocim há geração de emprego e renda
através do desenvolvimento turístico. Há muito o nosso município vem se
preparando para o Carnaval, que é o principal evento do ano; para tanto, foram
tomadas providências para que todo e qualquer impacto no nosso município não
viesse a prejudicar a festa. Podemos citar algumas exemplos: hoje fizemos a
antecipação salarial, inclusive do aumento do magistério acima do piso. No que
diz respeito a possível estiagem, Camocim não tem produção agrícola de consumo
e sim, de subsistência, assim já iniciamos este processo para não corrermos o
risco da nossa população ficar à mercê dessa estiagem. Começamos a escavação de
mais de 30 poços profundos, apesar de não ser beneficiado por nenhum rio, mas,
sim, por um aquífero subterrâneo que nos abastece e nos satisfaz. Nos
solidarizamos desta forma com os municípios que estão enfrentando esta
dificuldade.
Seria
confrontar a realidade, sob diferentes aspectos, imaginar o fim do dinheiro
público em eventos como o Carnaval. É uma festa que tem tradição, faz parte da
cultura popular, e, em muitos locais, está longamente associada à movimentação
da economia em números nada desprezíveis. Isso não justifica, contudo, a
concordância com certa tendência observada entre gestores, especialmente nos
municípios, onde há bolsões crônicos de pobreza e carências historicamente sem
solução, de aproveitar a temporada para meter na farra recursos que são poucos
e fazem falta em alentado conjunto de questões. Não é justo, razoável ou
responsável. E é por isso que o TCM está atento aos excessos, vigiando e
fiscalizando, pois o mínimo que se pode exigir nesta hora é moderação nos gastos
e respeito aos que sofrem em situações críticas agravadas pela seca que perdura
em várias regiões.
O Ceará vive um momento muito delicado em relação às nossas reservas hídricas. Estamos entrando no terceiro ano consecutivo de seca, com previsões muito desanimadoras por parte do órgão oficial, a Funceme. O cenário econômico que enxergamos hoje é pouco otimista, especificamente no varejo, área em que atuamos, mediante o quadro invernoso que está se instalando. Acredito que o mais sensato neste momento seria buscar alternativas que possam amenizar o sofrimento de populações inteiras, hoje privadas em muitos municípios de comida e, principalmente, de água. Creio que as políticas públicas devem estar centralizadas no socorro a essas pessoas. O Carnaval é muito bem-vindo, quando temos as condições favoráveis de sua realização. Reconhecemos o esforço feito pelos gestores em buscar parcerias junto à iniciativa privada, evitando onerar os cofres públicos, mas fica muito paradoxal realizar a festa quando muitas pessoas estão sofrendo sem comida, água, remédios, saúde e outras necessidades.
O
erro das prefeituras que entraram na mira do Ministério Público e do TCM não
foi decidir realizar carnavais populares. Afinal, como muitos advertem
corretamente, seria punir duplamente as populações destes municípios, já
enfrentando um quadro diário de grandes dificuldades pelos efeitos da estiagem
prolongada, privá-las também de usufruir da mais popular das festas
brasileiras. O problema está no exagero, nos gastos que se tornam
injustificáveis pelo valor quando consideramos o momento de carências originárias
do cenário de falta de chuvas. Claro que organizar o carnaval é
responsabilidade de uma gestão pública, até pelo sentido cultural da data, mas,
há limites que precisam ser respeitados e a importante ação das instâncias
públicas têm servido a este propósito. De colocar ordem e garantir que o
sagrado direito de todos à alegria não seja confundido com o direito de poucos
de tirar proveito financeiro.
Com
informações O Povo Online
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