Tenho
lido ou assistido a muitas coisas que divergem do pensamento cristão.
Sinceramente, sinto uma atração pelo modo de pensar dos adeptos de outras
religiões ou dos ateus, porque a partir do ponto de vista deles, questiono o
meu, fazendo um exercício saudável de readequação e posicionamento.
Foi
pensando nisso que li recentemente o capítulo seis de Mateus, percebendo que
boa parte da extensão daquele material aborda o modo de orar.
Quando
Jesus, ensinando seus discípulos a orar, diz que estes não precisam usar de
repetições tolas e esclarece que Nosso Pai sabe antecipadamente do que
necessitam (7,8) e, mais à frente ele diz, ao exortá-los, que não precisam
pedir por comida, bebida ou roupas, repetindo que Nosso Pai celestial sabe que
necessitamos de tais coisas (32), não vejo outra conclusão a chegar que
entender o real sentido do que a oração deveria significar para todo mundo. E
eis talvez a colossal diferença entre o cristianismo e as demais religiões.
Uma
oração não precisa de palavras, pedidos, invocações, rogos, juramentos...
porque Nosso Pai já conhece todas as nossas motivações e necessidades e não vai
ser a expressão da forma (externa ou interna) que vai fazê-lO agir em nosso
favor. Ele estabeleceu um compromisso conosco: suprir nossas necessidades, e
dele não se desapega. Então, se tudo isso é dispensável, o que é necessário?
Vejam bem, todas as formas anteriores que mencionei são comuns a praticamente
todas as religiões. Há ritos, cerimônias, liturgias, mantras e regras em todas
elas, contudo, há algo que só o cristianismo tem: um relacionamento pessoal com
Deus. Por isso a ênfase de Jesus que Deus é Pai, portanto, não uma força, uma
energia, um ser distante, um general, ou coisa que o valha, mas sim uma pessoa
- o Deus cristão é um Deus pessoal. E não há pais sem filhos, portanto, é numa
relação paternal que Jesus quer que nos vejamos como atuantes. Além do mais,
Ele é NOSSO Pai, de Jesus, meu e seu, e novamente vemos a relação próxima que
Jesus quer que entendamos. Não algo frio e distante que diz respeito a uma
assombrosa manifestação celestial, mas uma relação de intimidade entre dois
seres.
Assim,
seu ensinamento consiste na compreensão de que a Nosso Pai não precisamos
pedir, repetir, fazer juras, invocar, sacrificar, ajoelhar-se, agachar-se...
Mas sim, que com Ele devemos nos relacionar, apenas isso. Em nenhuma das outras
religiões há uma divindade relacional assim. Há, muitas vezes, no máximo, seres
celestiais, iluminados, evoluídos, transcendentes, mas com nenhum deles há um
convite tão claro e íntimo de relacionamento.
Portanto,
atenda ao convite de Jesus: importe-se mais em conhecê-lO e deixar-se conhecer,
como é próprio de toda relação amorosa. Ligue menos para suas palavras, seus
pedidos ou invocações. Ele já as conhece todas, e deixe-se embalar nos braços
desse Pai amigo. Isso é ter um pai. Isso é Cristianismo
Ana
Valéria Moraes é teóloga e escritora
Publicado
originalmente no Portal O Povo Online
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