Hoje,
a República brasileira completa 124 anos de vigência. O feriado que acompanha
sua Proclamação nunca conseguiu entusiasmar significativamente os brasileiros –
nem mesmo alcançar os níveis modestos registrados no 7 de Setembro.
De
onde vem tal “platitude” dos brasileiros em relação a essas duas datas
nacionais? Talvez, provenha da gênese dos episódios que ambas evocam. A
Independência foi um ato vindo de cima para baixo pela decisão voluntariosa de
um membro da Casa Real dominante. Ele sentiu-se desafiado em seus brios pela
decisão do parlamento português de “enquadrá-lo”, depois da revolução liberal
do Porto que desbancou o absolutismo real na Metrópole.
A
revolução liberal pouco afetou o tratamento dado às colônias, tão opressor como
antes. O Brasil independente, surgido com o brado do príncipe humilhado, não
era aquele idealizado pelos nativistas autênticos. A solução encaminhada fora
justamente na direção de impedir uma ação consequente desses nativistas que
mexesse na estrutura social interna. A estratégia era de se antecipar antes que
“algum aventureiro” fizesse uma independência com rupturas internas e externas
efetivas.
Já
no caso da República, não foi muito diferente. A Proclamação é fruto de outro
brio ferido: o de um chefe militar que se sentira humilhado com a nomeação de
um desafeto para o governo. Claro, era a gota d’água da insatisfação
corporativa do Exército, que se ressentia de voltar ao segundo plano, depois do
destaque alcançado durante a Guerra do Paraguai e da convivência da tropa com
colegas vizinhos que mandavam e desmandavam em seus países, sem ter de prestar
contas aos “casacas” (civis).
O
levante não era nem mesmo contra a Monarquia, mas para depor o primeiro-ministro.
O sistema era parlamentarista monárquico. Por falta de habilidade do governo, a
deposição estendeu-se ao Imperador e ao regime, graças à manobra maquiavélica
de um diminuto grupo de militares republicanos encarregado de instigar ainda mais
o brio ferido do velho marechal monarquista. “O povo assistiu àquilo
bestializado”, segundo uma testemunha. Supunha ser apenas uma parada militar
fora de época.
De
lá para cá, o conceito de republicanismo ainda não conseguiu introjetar-se de
todo nos costumes políticos brasileiros. Mas, nunca é tarde.
Editorial do Jornal O Povo Online
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