Faz
apenas dois anos que o PSDB tinha uma das maiores bancadas na Assembleia
Legislativa e o maior número de prefeitos no Ceará. No começo de outubro de
2011, começou o processo de sangria desatada, com migração em massa para o PSD.
Naquela época, conversei com o então presidente nacional tucano, Sérgio Guerra,
que justificou a situação como “ataque especulativo da família Gomes” ao PSDB
do Ceará. Aquele foi o marco do fim de uma era cujo estágio praticamente
terminal se consuma agora.
Em dois anos, o maior partido do Ceará se viu
reduzido a só um deputado estadual. Impressiona que o partido que deteve a
hegemonia completa da política cearense durante 16 anos tenha minguado de forma
quase absoluta de forma tão rápida. Mas não é tão surpreendente quando se considera
que, no intervalo de cinco dias, o PSB passou de potência hegemônica a nanico
esquálido no Ceará, enquanto o recém-criado teve o mais vertiginoso crescimento
observado na história política estadual – aliás, difícil de encontrar
precedente similar em qualquer parte do País. Da mesma forma, aliás, como o PSB
inchou subitamente há oito anos, quando os Ferreira Gomes se filiaram e levaram
a tiracolo uma penca de prefeitos do PPS – que também encolheu até a quase
insignificância.
Essa oscilação de partidos que se tornam supermáquinas de voto
e, no minuto seguinte, veem-se lançado em desoladora aridez de quadros
políticos é sintoma de um sistema distorcido, movido pelo fisiologismo. Não
pode ser saudável. No programa Roda Viva de segunda-feira, o governador Cid
Gomes (PSB) deixou claro que o que o move na vida partidária não é a ideologia,
mas a compreensão da legenda como espaço de organização. Legítimo, mas não pode
haver falta de princípios e identidade partidária, inversamente proporcional ao
apego ao poder. Afinal, as oscilações são movidas pelo desejo de adesão ao
governismo.
No
dia em que Cid Gomes foi eleito governador, em outubro de 2006, entrevistei
Tasso Jereissati na fila da votação. Naquele dia, foi sacramentada a derrota de
Lúcio Alcântara e, com isso, o fim de duas décadas do PSDB no Governo do
Estado. O então senador, rompido com Lúcio, não moveu uma palha a favor do
candidato do seu partido. Questionei-o sobre as perspectivas para o partido diante
da saída do poder. Ele respondeu que haveria um aspecto positivo: ao longo dos
anos de governo, muitos oportunistas se aproximaram, segundo ele.
Uma vez
desalojado do Palácio, ele previa que tais oportunistas iriam debandar e só
ficariam aqueles que realmente tivessem compromisso com o PSDB. Pois bem, os
tempos de potência tiveram sobrevida em função da adesão ao governo Cid Gomes
durante os primeiros anos. Porém, após o rompimento, o processo que o
ex-senador previra se concretizou. Ele talvez só não esperasse que fossem
tantos os oportunistas e tão poucos os realmente compromissados.
Agora,
por sobrevivência política, vão-se alguns dos últimos remanescentes. Marcos
Cals era secretário de Cid em 2010, mas, meses após deixar o governo, lançou-se
candidato de oposição à administração à qual pertencera. No ano passado, ele
concorreu a prefeito tendo como candidato a vice o deputado Fernando Hugo,
outro que também está de saída. Em 2011, quando a maioria de seus ex-colegas
trocou de partido, Hugo protestou: “Tasso Jereissati foi traiçoeiramente
apunhalado pelas costas pelos Judas Iscariotes que estão no poder”. Justificou
a decisão de agora pela necessidade de “preservação e sobrevivência da minha
vida política”.
Em
14 de maio de 2011, escrevi que Tasso tinha pela frente o que julguei como
talvez “o mais difícil desafio de sua vida política”, que seria garantir a
continuidade de seu legado e evitar que ele fosse dizimado. Agora, a força
política que acumulou como patrimônio, como organização partidária, encontra-se
em frangalhos. Flerta com a inexistência. Precisará ser praticamente recriado,
reconstruído.
Publicado
originalmente em O Povo Online
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