O
programa Bolsa Família recebeu nesta semana o Prêmio Award for
Outstanding Achievement in Social Security, espécie de Nobel concedido a cada
três anos pela Associação Internacional de Seguridade Social (ISSA), entidade
com sede na Suíça. É o mais importante reconhecimento de um programa
responsável por ajudar a quebrar no País um ciclo histórico de fome e miséria.
É o reconhecimento, também, de que a aposta em promover a autonomia dos beneficiados por meio de um cartão magnético passou longe de um mantra brasileiro quase pré-histórico: o de que dinheiro na mão de pobre é, na melhor das hipóteses, desperdício; na pior, um mero instrumento de troca de apoio e voto.
É o reconhecimento, também, de que a aposta em promover a autonomia dos beneficiados por meio de um cartão magnético passou longe de um mantra brasileiro quase pré-histórico: o de que dinheiro na mão de pobre é, na melhor das hipóteses, desperdício; na pior, um mero instrumento de troca de apoio e voto.
A
notícia, em meio à tensão pré-eleitoral, deixou a elite brasileira em polvorosa.
Nas mesas de bar, do trabalho ou em memes de Facebook, a reação ao prêmio foi
quase previsível. Houve uma avalanche de revolta e cusparadas contra o que
chamam de Bolsa Esmola. Uma das montagens é uma peça-rara: uma enxada e outros
utensílios de mão-de-obra rural com os dizeres “no meu tempo, Bolsa Família era
quando os pais de família trabalhavam” (algo assim). Uma outra mostrava a
confusão em uma agência da Caixa após os boatos sobre o fim do benefício:
“Brigar por esmola é mais fácil do que brigar por saúde, emprego e educação”.
Outra, um “apelo ao fim do voto de cabresto”, questionava a legitimidade dos
beneficiários em participar das eleições.
O
raciocínio é de uma sofisticação invejável. A vítima do cabresto, afinal, é
sempre o pobre. E pobre, de barriga cheia, é incapaz de pensar por si:
automaticamente, devolve a esmola com a gratidão em forma de voto vendido. (O
cabresto, para quem não sabe, é a correia fixada na cabeça de animais, como as
mulas, para amarrá-los ou dirigi-los; o uso da expressão, a essa altura do
campeonato, diz mais sobre a consciência e os pressupostos do autor do que
sobre o sistema político que ele finge combater).
Críticas
ao programa, como se sabe, existem. Muitas delas são justificadas, entre as
quais a dificuldade de fiscalização e o seu uso, em discursos de campanha, como
arma de terrorismo eleitoral (“se fulano ganhar, acabou a mamata”).
Até
aí, normal. O que espanta, nas manifestações de ódio, é a precariedade dos
argumentos. A elite brasileira, ao latir contra uma política de transferência
de renda (que, vale dizer, não é uma invenção brasileira), não demonstra apenas
a sua ignorância sobre as contrapartidas do programa. Demonstra o completo
desprezo em relação a quem, até ontem, topava limpar, lavar, passar e cozinhar
na casa grande por algum trocado e a condução. É como se passasse um recibo: é
preferível deixar a população desassistida, sem vacina, sem alimento e sem
escola, do que depender de política pública para dar o primeiro passo.
Em
dez anos, o Bolsa Família beneficiou mais de 50 milhões de brasileiros e tirou
22 milhões de pessoas da miséria, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento
Social. Para entrar no programa, o beneficiário deve cumprir uma série de
contrapartidas, entre elas o acompanhamento da frequência escolar, da agenda de
vacinação e nutrição dos filhos e o pré-natal de gestantes.
Com
o benefício, o comércio em localidades historicamente legadas à miséria se
movimentou e a evasão escolar arrefeceu. Segundo o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), para cada real investido pelo programa, há um
retorno para a economia de 1,78 real. Não é por menos que, em época de eleição,
candidatos de diferentes partidos saem no tapa para proclamar a paternidade do
programa. Uns se declaram idealizadores da experiência pioneira. Outros, da sua
ampliação. Ganha quem apostar que em 2014 não haverá um só candidato capaz de
sugerir o fim do benefício).
Com
informações Carta Capital
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