O Brasil vivenciou nos últimos
meses jornadas de luta, de suor e de sangue. Foram milhares de pessoas, em
centenas de cidades do país, que saíram às ruas movidos pelo desejo de mudar o
impossível. As manifestações que foram notícias por dias – até hoje são – nos
principais jornais nacionais começaram com o estopim do aumento da passagem de
ônibus em São Paulo – de R$3,00 passou à 3,20. Diante de um cenário hostil para
os movimentos sociais, estes enfraquecidos depois de anos de repressão, eis que
o Movimento Passe Livre toma as rédeas da situação e decide que aquela é a hora
para agir com grande peso. Dá-se o início das manifestações, são protestos,
atos e marchas pelo Passe Livre universal (para todas e todos) em São Paulo,
regados de muita violência e repressão policial.
As lutas não se resumiam contra o
aumento da tarifa, mesmo que a pauta do MPL fosse essa única. Jovens
estudantes, trabalhadores e trabalhadoras tomaram as ruas das cidades contra à
corrupção que gira em torno da concepção de Copa das Confederações e do Mundo
da FIFA, contra as remoções e despejos motivados pela Copa, contra à
evangelização do Congresso Nacional, com políticos da bancada evangélica
querendo impor de cima para baixo PLs como a Lei do Nascituro e a “Cura Gay”. Tomaram às ruas e quebraram os
paradigmas, decepcionados desde 1980 com a falsa democracia que vivemos,
decepcionados com a politicagem que corrói o dinheiro público, contra os
desvios de verba pública e tantas outras corrupções que sabemos acontecer todos
os dias.
No Rio de Janeiro |
Em Junho, nosso estopim foi o
golpe contra os professores do município. O prefeito Raimundo Macêdo (PMDB)
havia encaminhado para a Câmara de Vereadores um novo Plano de Cargos,
Carreiras e Remunerações dos professores com um grande corte de verba. Foram
retirados até 40% do salários dos professores (alguns casos chegaram à 50%).
Confrontamos esse golpe dando apoio e pernas para à categoria dos professores e
professoras. Fizemos história ao descermos a Rua São Pedro em marcha com mais
de 10 mil pessoas ao lado. Encurralamos o prefeito em uma agência bancária e
exigimos o cumprimento de nossas reivindicações, que iam desde revogação do
PCCR, passando por reabertura das escolas e salas de aula fechadas em 2013 até
construção de um terminal de integração intermunicipal.
Foto: Gustavo Ramos |
Não tememos às repressões
policiais e nos organizamos. Conseguimos construir outros tantos atos e pautar
politicamente Juazeiro do Norte. Mas a vergonha que ocupa os cargos políticos
do município nos surpreende mais uma vez. Um escândalo de compras
superfaturadas de produtos de limpeza deixa a cidade em choque. Diante desse
novo cenário, ocupamos a Câmara de Vereadores, acusados da compra de centenas
de produtos de limpeza com dinheiro público (poderiam passar anos e anos
limpando a câmara com o tanto de produtos comprados). O movimento ficou
conhecido como Ocupa JuazeirodN. Por oito dias ocupamos, lutamos e negociamos
com o poder público nossas pautas e nosso desejo de um Juazeiro melhor.
Foto: Passe Livre Cariri |
Dentre as pautas elencadas na
Ocupação, uma delas é o Passe Livre. De acordo com um Termo de Ajuste de
Conduta fechado com a Câmara e com a Procuradoria, deverão ocorrer audiências e
reuniões para pautar o passe livre municipal. Mas isso não é o bastante! E
ontem, dia 17 de Outubro de 2013, saímos mais uma vez nas ruas da cidade
querendo mudar o que nos dizem ser impossível. Ontem, fechamos um dos
principais cruzamentos da cidade, batucando, gritando e exigindo melhorias no
transporte público municipal, tarifa zero nos ônibus, terminais de integração
intermunicipal e melhoria nas vias públicas. Olhamos ao redor e percebemos no
caos que a sociedade se esboça. Carros, carros, carros. A lógica do individual,
a lógica do poder econômico, a lógica de mercado. Fileiras e mais fileiras,
chegando a ser quilométricas de carros engarrafados presenciando nosso ato por
um transporte realmente público, acessível e de todos. “Desculpe o transtorno,
estamos mudando o país”. O Passe Livre, mais do que um direito, é uma
necessidade gritante dos trabalhadores, trabalhadoras e estudantes. Sua
consolidação traria uma histórica conquista da luta de classes.
O transporte coletivo e público é
um serviço essencial para que tenhamos livre acesso aos demais serviços, como
saúde, educação e cultura. Mas nessa sociedade capitalista na qual vivemos,
somos obrigados a utilizar e aceitar um transporte público sem qualidade e
caro. Na lógica de que tudo é mercadoria, não temos amor pela cidade, pois não
a desfrutamos, não temos acesso a ela. E como poderíamos ter se somos
constantemente explorados e roubados? Pagamos caro por esse transporte para
trabalhar, ir ao comercio e voltar para casa. A lógica perfeita para o
empresário, para o capital.
Com a tarifa zero, ou seja, sem
tarifação nenhuma para ter acesso ao transporte, a ruas da cidade se alargam
para nos receber. Poderemos ter transporte para ir ao colégio, ao teatro, ao
cinema, ao comercio, ao trabalho, aos parques, ao hospital, às praças públicas,
à universidade e tantos outros locais que a cidade nos oferece e sem tarifas
absurdas para isso! É a garantia do direito de ir e vir, de desfrutar a cidade,
de ter acesso a nossos demais direitos. “A educação e a saúde só vão ser públicas
de verdade se o transporte for público de verdade” Movimento Passe Livre SP.
O
Passe Livre é viável e pode se tornar realidade na cidade de Juazeiro do Norte.
Todo o dinheiro que o Estado investe na terceirização do transporte público,
pagando aos empresários pelo serviço que também pagamos do nosso bolso - duas
vezes! - deve ser revertido em investimento no setor público da sociedade. Sem
subsídio para engordar os bolsos dos empresários do transporte.
Começamos
essa batalha há muito tempo, mas agora estamos tomando corpo e forma. Lutamos
por um transporte público e de qualidade, onde o Estado se responsabiliza pela
sua efetivação, continuação e qualidade. Isso através de um Fundo de Transportes, que utilizará recursos
arrecadados em escala progressiva dos impostos tributários, ou seja: quem pode
mais paga mais, quem pode menos paga menos e quem não pode, não paga.
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