Tiago
Coutinho é Professor na Universidade Federal do Ceará - foto acervo pessoal
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Cuidado
com o acordar do gigante. Esse movimento pode ser muito perigoso e conservador.
Pode dar merda pra todxs nós. Historicamente, movimentos ultranacionalistas
resultam em experiências fascistas e governos ditatoriais. Foi assim na década
de 70, no famoso Brasil ame ou deixe-o. Nem sempre percebemos quando estudamos
história, mas a ditadura militar foi um movimento NACIONALISTA, cheio de verdes
e amarelos. Vamos tentar pensar uma coisa: qual o efeito prático de sair às
ruas cantando o hino nacional e pedindo pelo fim da corrupção? Outra pergunta:
como se resolve a corrupção? Quando temos um inimigo muito
"abstrato", não conseguimos dar conta.
Dizer
que a população estar indo a rua pelo fim da corrupção, me parece, uma
estratégia, principalmente da mídia e da direita para despolitizar as
manifestações. O que temos visto da parte da galera mais ativa desse movimento
do gigante é uma perseguição aos partidos políticos de esquerda e aos
movimentos sociais. Vemos cartazes preconceituosos, machistas e homofóbicos.
Vamos fazer uma marcha para perseguir ladrão? Como perseguir ladrão? Aumentando
a polícia? Ora, mas a polícia está batendo na gente! Não é contraditório fazer
uma marcha para aumentar aqueles que batem na gente? Por trás de tudo isso, há
uma grande nebulosidade de dúvida, ninguém sabe onde iremos parar. Mas vamos
continuar.
Considero
essas marchas uma coisa super importante para que possamos tentar estabelecer
diálogos. Acho que existem pessoas super do bem, manchando suas caras de verde
e amarelo, vestindo verde e amarelo, que realmente querem mudanças no Brasil,
mas me parecem extremamente ingênuas. E precisamos ter força e estratégia de
acolhê-las e estabelecermos um diálogo. E não repetir o equívoco de
recriminação. Outra coisa super curioso nesse movimento do gigante: alguns
discursos inflamados levam ao raciocínio de que devemos acabar com a política.
É a compreensão de ser político fosse apenas os executivos ou os parlamentares.
Mas o que estamos fazendo é ou não a política? Estamos sendo sujeitos ou não
políticos neste momento? Então estamos fazendo uma marcha contra nós mesmos? Na
verdade, o que se percebe na prática é uma perseguição às organizações
políticas. Ouvi relato que o movimento da marcha das mulheres foi proibido hoje
em Fortaleza de mostrar sua bandeira, o mesmo fizeram com o MST.
Ontem,
quiseram impedir que um militante super compromissado com as lutas em Juazeiro
do Norte falasse na plenária. Que marcha sem violência é essa que impede um
companheiro de falar? Galera, vamos tomar cuidado para que, aos poucos, esse
gigante que está sendo construindo tome vida própria e saia do controle,
perseguindo leitores de Marx ou que fale contra o capitalismo, sendo esse um
mero exemplo clichê, mas não esqueçamos que a Cura Gay passou ontem na comissão
de Direitos Humanos. Não estou dizendo que isto irá acontecer. E é justamente
por isso que estou na rua. Vamos estabelecer em cada cidade pautas concretas de
transformações. Quando digo "isto não é apenas 20 centavos", não
quero que confundam que desejo ampliar a pauta para o combate a corrupção. Não
é apenas 20 centavos, porque é também a questão dos professores em Juazeiro do
Norte e outras pautas que iremos elencar daqui a pouco em plenária. É também a
proposta de tirar da mão dos policias armas letais. É também garantir que os
atingidos pelas obras da Copa não sejam removidos de suas moradias.
Precisamos
ser mais específico, e combater a corrupção apenas é muito abstrato. Pedir que
os recursos da copa sejam investido em educação e saúde também é genérico: qual
educação? qual saúde? Outra coisa. Acabei de ver o vídeo das reivindicações do
Anonymos. Gente, eu fiquei com medo. A galera fica falando de oportunismo
político, mas aquelas cinco propostas (que me recuso a compartilhar) não
extremamente OPORTUNISTAS e pequenas, diante da potência dessa movimentação
toda.
Criemos
nossas estratégias. Mas uma coisa é certa: continuemos nas ruas. Vamos mudar as
cores dessas manifestações, para um grande arco-íris. Se há de cantar um hino,
cantemos a internacional, por que não podemos resolver os problemas do Brasil
se não mudarmos o mundo.
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