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23 de junho de 2013

Assim nas ruas como na internet

Última manifestação reuniu cerca de 30 mil pessoas em São Paulo – foto Marcelo Camargo
As manifestações espalhadas pelo País são a representação do mundo digital. Para o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Luiz Antonio Joia, que estuda “e-participação” (ação política pela rede social) e o cidadão mediado por tecnologias, o fenômeno dos protestos brasileiros é algo inédito graças à internet e às redes sociais.

“Esse movimento é a cara da web. Ele é anárquico, sem dono e impessoal, que se autorregula e suporta qualquer coisa. É a transposição da World Wide Web (o sistema da internet) para o mundo real. É surpreendente e imprevisível”, ponderou ele.

O professor defende que a rede mudou a concepção de tempo e de espaço das pessoas e as relações sociais, tornando-se um ator no processo de reivindicações.

“Você passa a saber tudo o que acontece em tempo real, o que faz com que as pessoas se engajem numa velocidade absurda. A tecnologia não gera o fenômeno, ela o amplifica”, comentou. Ele lembrou do movimento Diretas Já, que demorou cerca de um mês para ser organizado, enquanto o movimento atual, com o que chama de “boca a boca digital”, levou dias para ser orquestrado.

A internet permitiu que vários fatores, como o aumento de preço do ônibus, os gastos do País com a Copa das Confederações, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37 (que retira poderes de investigação do Ministério Público) e o Projeto da “Cura Gay”, contribuíssem para a união de grupos insatisfeitos com questões diferentes e que hoje saem as ruas.

“Os R$ 0,20 foram apenas o que disparou o gatilho, tudo isso mediado pela tecnologia da informação e da comunicação”, explicou Luiz Antonio Joia.

Se, por um lado, a característica anárquica dos movimentos é surpreendente, a falta de liderança e de pauta do movimento criam uma questão complexa, segundo o professor.

“Você pode ter na mesma passeata duas pessoas lutando por coisas totalmente opostas. Diferentemente da Primavera Árabe e de movimentos na Europa, no Brasil não há uma pauta”, lembrou.

De acordo com o pesquisador, esse cenário pode apresentar risco para o movimento. “O perigo da falta de foco é que oportunistas e partidos políticos podem apropriar-se desse movimento. É importante que as pessoas digam o que querem e, sobretudo, como querem, como implantar esse projeto”.

Como acadêmico, Joia se diz entusiasmado com os recentes acontecimentos. “Não dá para prever o que vai acontecer, pode não dar em nada, mas deixará uma semente. São sinais que devemos acompanhar e depois tirar lições que sirvam para nossos alunos e para a sociedade”

Com informações Agência Brasil

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