Última manifestação reuniu cerca de 30 mil pessoas em São Paulo – foto Marcelo Camargo |
As
manifestações espalhadas pelo País são a representação do mundo digital. Para o
pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Luiz Antonio Joia, que estuda
“e-participação” (ação política pela rede social) e o cidadão mediado por
tecnologias, o fenômeno dos protestos brasileiros é algo inédito graças à
internet e às redes sociais.
“Esse
movimento é a cara da web. Ele é anárquico, sem dono e impessoal, que se
autorregula e suporta qualquer coisa. É a transposição da World Wide Web (o
sistema da internet) para o mundo real. É surpreendente e imprevisível”,
ponderou ele.
O
professor defende que a rede mudou a concepção de tempo e de espaço das pessoas
e as relações sociais, tornando-se um ator no processo de reivindicações.
“Você
passa a saber tudo o que acontece em tempo real, o que faz com que as pessoas
se engajem numa velocidade absurda. A tecnologia não gera o fenômeno, ela o
amplifica”, comentou. Ele lembrou do movimento Diretas Já, que demorou cerca de
um mês para ser organizado, enquanto o movimento atual, com o que chama de
“boca a boca digital”, levou dias para ser orquestrado.
A
internet permitiu que vários fatores, como o aumento de preço do ônibus, os
gastos do País com a Copa das Confederações, a Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 37 (que retira poderes de investigação do Ministério
Público) e o Projeto da “Cura Gay”, contribuíssem para a união de grupos
insatisfeitos com questões diferentes e que hoje saem as ruas.
“Os
R$ 0,20 foram apenas o que disparou o gatilho, tudo isso mediado pela
tecnologia da informação e da comunicação”, explicou Luiz Antonio Joia.
Se,
por um lado, a característica anárquica dos movimentos é surpreendente, a falta
de liderança e de pauta do movimento criam uma questão complexa, segundo o
professor.
“Você
pode ter na mesma passeata duas pessoas lutando por coisas totalmente opostas.
Diferentemente da Primavera Árabe e de movimentos na Europa, no Brasil não há
uma pauta”, lembrou.
De
acordo com o pesquisador, esse cenário pode apresentar risco para o movimento.
“O perigo da falta de foco é que oportunistas e partidos políticos podem
apropriar-se desse movimento. É importante que as pessoas digam o que querem e,
sobretudo, como querem, como implantar esse projeto”.
Como
acadêmico, Joia se diz entusiasmado com os recentes acontecimentos. “Não dá
para prever o que vai acontecer, pode não dar em nada, mas deixará uma semente.
São sinais que devemos acompanhar e depois tirar lições que sirvam para nossos
alunos e para a sociedade”
Com
informações Agência Brasil
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