19 de abril de 2013

Valesca Popozuda, funk e feminismo é tema de projeto de mestrado

Valesca Popozuda se diz feminista:
acréscimo a luta pela liberdade
ou mais um negócio da indústria cultural?
Segundo informações do portal G1, a estudante Mariana Gomes, 24 anos, e seu projeto de mestrado “My pussy é poder: A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultural” foram aprovadas na segunda melhor colocação da pós-graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, Rio de Janeiro. A proposta principal do trabalho é a desconstrução da ideia de que o funk, através das músicas de Valesca Popozuda, Tati Quebra Barraco e as mulheres-frutas, seria a mais nova estratégia de luta feminista.

Mariana desde 2008 estudava o funk e a sociabilidade da classe trabalhadora do Rio, em sua faculdade de Estudos de Mídia (UFF). Para se aprofundar nos estudos, ela visitou os bailes funks da Rocinha, Santa Cruz e na Ladeira dos Tabajaras. “Eu fui observando que havia poucas mulheres cantando e que este papel ficava com os homens. As mulheres só estavam presentes dançando e quando havia erotismo. Parecia que não tinha espaço para a participação feminina em outros assuntos. E o público do baile é em sua maioria feminino”, explica ao portal.

Com o mestrado, Mariana irá analisar e discutir se as letras cantadas por Valesca Popozuda e outras intérpretes mulheres do gênero funk são um caso de libertação feminina da opressão ou apenas um atendimento da demanda do mercado erótico da indústria cultural. “Valesca se diz feminista, mas será que é mesmo?”, questiona Mariana, utilizando como base a música da cantora que apresenta a mulher como oportunista e interesseira: Mulher burra fica pobre/ Mas eu vou te dizer/ Se for inteligente pode até enriquecer/ Por ela o homem chora/ Por ela o homem gasta/ Por ela o homem mata / Por ela o homem enlouquece / Dá carro, apartamento, joias, roupas e mansão / Coloca silicone / E faz lipoaspiração / Implante no cabelo com rostinho de atriz / Aumenta a sua bunda pra você ficar feliz.

O rebate está na condição de existência de letras politizadas nas músicas funks, como o caso do MC Dandara e o rap “Nossa Banheira”. Mas também é preciso perceber que as músicas, de uma forma ou de outra, estão ali para serem vendidas. “Então é possível que o erotismo nas letras de funk seja um fator mercadológico”, pensa Mariana.

QUESTÕES CULTURAIS
Com a aprovação, Mariana Gomes leva à Universidade um tema de debate muitas vezes não acolhido, e quando sim, disperso em debate. A turma posterior a de Mariana escolheu Valesca Popozuda como patronesse, numa ato ideológico contrário ao rebaixamento de culturas. “A turma ter escolhido a Valesca foi uma atitude ideológica. Estamos aqui para dizer que não existe baixa cultura. A minha turma escolheu o Saramago [José Saramago, escritor português]. Colocaram os dois em pé de igualdade, talvez para mostrar que a hierarquização da cultura só é prejudicial para a discussão”. 

VEJA MAIS
A âncora do Jornal do SBT, Rachel Sheherazade, criticou ferozmente a mestranda por sua ousadia em trazer à tona as discussões de hierarquia cultural. E não parou por aí. Com seu discurso ultraconversador e reacionário, Sheherazade destilou preconceito, machismo e ignorância sobre o projeto, as relações culturais, a popularização da universidade e o feminismo. 

Você pode clicar aqui e ver a carta resposta da mestranda Mariana Gomes à apresentadora Rachel Sheherazade.

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