Luis Nassif lembra que PEC 37 tramita desde 2011 - foto SINDJORCE |
Hoje
em dia, tornou-se tão disseminada a manipulação política do noticiário que, na
coluna de ontem, acabei embarcando na suposta retaliação do Congresso ao STF
(Supremo Tribunal Federal), com a tramitação da PEC 33 – que define o poder
recursal do Congresso a leis declaradas inconstitucionais pelo STF.
Fui
alertado pela analista política Maria Inês Nassif, em artigo no Jornal GGN
(www.jornalggn.com.br) no qual apresentou um quadro perturbador do papel de
alguns ministros do STF, para gerar crises políticas e contribuir para a
desestabilização institucional do país.
Vendeu-se
a ideia de que a tramitação da PEC era fruto de represália do Congresso. Vários
Ministros manifestaram indignação – entre eles, Gilmar Mendes, Marco Aurélio de
Mello e o presidente do STF Joaquim Barbosa.
Maria
Inês é taxativa: “Com toda certeza, os ministros que estão reagindo
desproporcionalmente a uma tramitação absolutamente trivial de uma emenda
constitucional no Congresso (…) estão
fazendo uso político desses fatos”.
A
emenda tramita desde 2011. Foi proposta pelo deputado Nazareno Fontelenes
(PT-PI) em 25 de maio do ano passado e encaminhada à Comissão de Constituição e
Justiça em 06 de junho. O relator da matéria é o deputado João Campos (PSDB-GO)
– um parlamentar da oposição. E estava na agenda da CCJ desde fevereiro deste
ano.
O
fato de terem incluído José Genoíno (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP) no
episódio comprovaria seu uso político, diz Inês. “No ano passado, quando a
emenda foi apresentada, Genoino sequer tinha mandato parlamentar. Ele e Cunha
não pediram a palavra, não defenderam a aprovação, nada. Apenas votaram a favor
de um parecer de um parlamentar da oposição”.
Não
compete à CCJ apreciar o mérito de qualquer proposta. Seu papel é apenas analisar se a proposta
cumpre os requisitos de constitucionalidade. Se cumprir, segue a tramitação até
chegar ao plenário da Câmara. Aí sim, explica ela, a proposta será analisada em
dois turnos, para depois cumprir dois turnos no Senado. “O primeiro passo da
tramitação da PEC 33 foi dado na quarta-feira. Daí, dizer que o Congresso
estava prestes a aprovar a proposta para retaliar o STF só pode ser piada, ou
manipulação da informação”.
A
proposta tem respaldo na Constituição. O artigo 52 fala da competência
exclusiva do Senado Federal, diz, em seu inciso X, que o Senado pode “suspender
a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão
definitiva do Supremo Tribunal Federal”. No artigo 49, determina que é da competência
do Congresso Nacional “zelar pela preservação de sua competência legislativa em
face da atribuição normativa dos outros Poderes”.
Conclui
ela: “Diante dessas evidências constitucionais e da história da tramitação da
PEC na Câmara, fica a pergunta: quem está ameaçando quem? É o Congresso que
investiu contra o STF, ou o contrário?”
Na
mesma quinta-feira, o ministro Gilmar Mendes concedeu uma liminar trancando a
tramitação da lei que inibe a constituição de novos partidos. Nos jornais de sexta, o ex-ministro do STF
Carlos Velloso declarava-se espantando com a decisão de Gilmar.
Luis
Nassif foi o introdutor do jornalismo de serviços e do jornalismo eletrônico no
país. Comentarista econômico da TV Cultura. Vencedor do Prêmio de Melhor
Jornalista de Economia da Imprensa Escrita do site Comunique-se em 2003 e 2005,
em eleição direta da categoria. Membro do Conselho do Instituto de Estudos
Avançados da USP e do Conselho de Economia da FIESP. Autor de "O
Jornalismo dos anos 90", e "Menino de São Benedito", Finalista
do Prêmio Jabuti de 2003 na Categoria Contos/Crônica. Em 1995 lançou o CD
"Roda de Choro", solando bandolim, semi-finalista do Prêmio Sharp de
Música Instrumental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.