Autor
de alguns dos maiores clássicos da literatura nacional, como O Guarani e
Iracema, José de Alencar (1829-1877) costuma ser reconhecido pelo grande
romancista que foi. No entanto, a atuação do cearense nascido no sítio
Alagadiço Novo – quando Messejana ainda era um município vizinho de Fortaleza –
não se restringiu ao campo literário. Além de escritor, ele foi jornalista,
dramaturgo, deputado, ministro da Justiça, crítico literário e um estudioso da
língua portuguesa. “Ele é mais do que tem sido dito a seu respeito”, afirma
Marcelo Peloggio, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), que se
dedica a estudar a obra alencarina há dez anos.
A
partir de amanhã, quando são celebrados os 184 anos de nascimento do autor, a
Casa de José de Alencar deixa ao dispor da curiosidade de pesquisadores e
interessados em geral cerca de seis mil manuscritos – a maioria inédita – que
estão no Museu Histórico Nacional (MHN), no Rio de Janeiro, e foram
digitalizados. Agora, em vez de ir até a capital carioca para consultar o
material, quem quiser descobrir essas várias (e pouco conhecidas) facetas de
Alencar só precisa agendar uma visita e ir ao sítio que o abrigou durante a
infância.
A
digitalização do acervo que estava no MHN começou no início de 2012, após ser
aprovada no edital de Cultura da Petrobrás e conseguir patrocínio via Lei
Rouanet. Segundo o historiador Frederico Pontes, coordenador cultural da Casa,
neste primeiro momento a versão digital dos 11 cadernos nos quais o material
está dividido só poderá ser consultada no local. Haverá dois computadores
destinados especificamente para esse fim. No futuro, ele diz, a ideia é
publicar os manuscritos na Internet – mas aí será necessário um recurso extra.
De
acordo com Marcelo Peloggio, que coordenou o projeto de digitalização do
acervo, ter esse material aqui é “um ganho fundamental para os interessados na
obra do José de Alencar, sobretudo a obra inédita. Para a região Nordeste é de
fundamental importância”. Ele conta que quando teve de transcrever dois desses
manuscritos, que depois foram transformados em livro, precisou ir ao Rio de
Janeiro para fotografar e só então transcrever. “Se já estivessem aqui me
facilitaria muito”, diz.
Ao
mesmo tempo em que facilita o acesso, a digitalização garante ainda mais a
preservação dos manuscritos, ressalta Frederico. Além disso, abre outras
possibilidades de abordagem da obra alencarina ante a diversidade de temas
abordados por José de Alencar em suas anotações. “A importância desses
manuscritos é tirar um pouco do senso comum de que o José de Alencar só se
destacou no meio literário. Ele atuou no jornalismo, então tem várias crônicas
ali publicadas, críticas literárias, opiniões relacionadas à política. Ele se
aprofundou também na ciência jurídica, principalmente na área do Direito
Constitucional e nesses manuscritos tem muito dessa produção”, destaca.
Mas
nem só de reflexões sobre a Justiça ou a situação política brasileira – da qual
Alencar foi personagem de conflitos com o imperador Dom Pedro II – trata a
coleção de manuscritos. Em meio aos registros do intelectual, há poemas para a
mulher, Georgiana Cóchrane, cartas, croquis de peças teatrais (inclusive com
desenhos), textos biográficos e romances inacabados, como O Contrabandista.
Gildácio
Sá, encarregado por fotografar os manuscritos no processo de digitalização,
conta que ficou encantado ao perceber o processo criativo de Alencar. “Ele era
um perfeccionista. Não tem um texto que ele não tenha corrigido. Reescrevia
muito”, observa. Mesma opinião de Marcelo, para quem Alencar “era um sujeito
incansável e que dedicou toda a sua vida a pensar o Brasil”. “Esses manuscritos
permitem que você repense a obra alencarina numa perspectiva inédita.
Frequentando esse material você vai descobrir outros Alencares”, garante.
Com
informações O Povo Online
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