Na
manhã de terça-feira, 09, aconteceu na sede da Secretaria de Assistência Social
a primeira Audiência Pública de combate às drogas, em Altaneira. Requerida pelo
vereador Edezyo Jalled, a audiência contou com a participação de vereadores, do Promotor de Justiça, representantes da Polícia Civil e Militar, advogados, secretários
municipais, diretores e professores das escolas municipais e estadual, estudantes,
cidadãos em geral e representantes das igrejas católica e evangélica. Você pode
conferir aqui um relato mais
completo dos presentes. Reunidos em prol de tiragem de propostas a fim de
combater o tráfico de drogas ilícitas, a fala dos presentes deixou a desejar em
propostas efetivas e reais e revelou o conservadorismo da sociedade
altaneirense.
Tão certo quanto uma moeda tem dois lados, é preciso analisar as falas
da Audiência Pública com certo pensamento crítico. A começar, é bastante
elogiada a construção em si de um espaço em que a sociedade civil e
representantes do governo possa dar sua falas, reflexões e problemas em
comunidade. Elogiada, ainda, o fervor da comunidade altaneirense, como um todo,
na tentativa de combater as consequências do tráfico. Mas nem tudo é bonito, e
fica claro como foram às duas horas de saudações, que o espaço teria
pouquíssimas intervenções críticas, com propostas concretas, base de dados ou
pesquisas.
Desde suas falas iniciais, pôde-se notar um tom não de debate, mas de
estranho consenso entre os presentes nas medidas a serem tomadas. De discursos
conservadores onde várias vezes a entidade “família” é colocada como base da
moral, da honra e, por consequência, dos erros cometidos, representantes
governamentais das famílias cidadãs jogam de forma clara a culpa, em primeira
instância, para o uso de drogas. Esqueceram, possivelmente, que o tráfico e
consumo de drogas ilícitas é uma questão social, um problema de saúde pública,
onde a responsabilidade recai sobre o Governo e suas demais entidades quando
são inexistentes políticas públicas e sociais de educação, cultura, prevenção e
combate efetivo.
E não para por aí! O Tenente
Gonçalves, representando o Comandante da 5ª. Companhia de Policia Militar de
Crato, quando questionado sobre sua eficiência enquanto entidade de proteção,
ou sequer de vigilância, rebate de forma tosca e gaguejante que a
responsabilidade é da Polícia Federal e, acreditem ou não, mais uma vez das
“falhas na família”. Em muitas falas foi colocada a descrença da população em
questão à Polícia por sua falta de comprometimento na segurança. A Polícia, por
sua vez, segue aos interesses do Governo, não da população. Aonde chegamos?
Mais uma vez na inexistência de propostas ou ações por parte do Governo – seja
Municipal, seja Estadual ou Federal – que alcance de maneira efetiva a todos.
Mas mesmo assim, foi aplaudida severamente a proposta de Antonio Pereira da
Silva de não intervenção estatal nas ações da Polícia Militar – e que Altaneira
fique a mercê de uma Polícia incrédula, sem planos e ineficiente?
Passadas intermináveis duas
horas de saudações, chegam as propostas de combate e enfeitadas palavras. Foi
proposta a utilização do esporte como prática de via alternativa às drogas.
Para isso, seria necessária a criação de Núcleos de Esporte na cidade. A
explicação, muito breve e simples, seria as sensações de prazer, o
comprometimento e a responsabilidade acarretada pela prática como salvação.
Mesmo sendo necessária a criação de projetos esportivos na cidade faltaram,
entretanto, dados concretos de pesquisas que comprovassem a eficácia dessa
proposta no contexto das drogas.
A mais polêmica, no entanto, foi a proposta vinda diretamente do
editor-chefe do Blog de Altaneira. Raimundo Soares Filho colocou em mesa o
toque de recolher. Seria determinada uma hora limite da noite de deslocamento
na cidade e, consequentemente para funcionamento de estabelecimentos
comerciais, na qual quem estiver desrespeitando será autuado e punido. A famosa
frase de Maquiavel “O fim justifica os meios” caracterizou a fala do senhor
Soares em detrimento à “situação emergencial” de Altaneira. Proposto sem
intervenções, mesmo anticonstitucional, a ideia será levada para posteriores
discussões. Será mesmo que Altaneira está em “situação emergencial” a ponto de,
em primeiro ato, recorrer às severas e duras posições tais como toque de
recolher, que fere o direito de ir e vir? O mais preocupante não é a colocação
das propostas, mas a inexistência de intervenções perante ela. O silêncio, mais
uma vez, grita.
Ficou
a cargo do Promotor de Justiça, David Moraes, e do Delegado da Policia
Civil, Giuliano Sena, as falas mais
sensatas de medidas cabíveis à segurança e combate: a formalização da
insatisfação popular quanto à segurança, o pedido de um promotor e delegado
titulares, solicitações de relatorias imediatas do tráfico. Assim como a criação
de um programa de identificação e apoio às crianças e adolescentes em situações
de risco ou vulneráveis, capacitação do Conselho Tutelar e Centro de Referência
de Assistência Social e reforço policial exclusivo para atuação em áreas de
tráfico.
Sentiram falta de algo? O que se deve fazer com aqueles já dependes das drogas? Ou eles não são importantes? São culpados, como afirmado em Audiência, pela situação em que se colocaram? Não merecem apoio ou segunda chance? Em meio a tanta falácia absurda, a Audiência, ainda por cima, esqueceu-se de tirar propostas de reabilitação, assistência social e acompanhamento psicológico e demais necessidades dos já dependentes e de sua família. Então o que vale mais: procurar em quem jogar a culpa, simplesmente aceitar medidas ou, realmente, pensar?
Sentiram falta de algo? O que se deve fazer com aqueles já dependes das drogas? Ou eles não são importantes? São culpados, como afirmado em Audiência, pela situação em que se colocaram? Não merecem apoio ou segunda chance? Em meio a tanta falácia absurda, a Audiência, ainda por cima, esqueceu-se de tirar propostas de reabilitação, assistência social e acompanhamento psicológico e demais necessidades dos já dependentes e de sua família. Então o que vale mais: procurar em quem jogar a culpa, simplesmente aceitar medidas ou, realmente, pensar?
Acredito que a jovem ,apesar da reflexão ser oportuna e coerente, não atentou para a proposta do esporte no combate as drogas.Nela, em determinado momento frisei que importante também é o convívio com as drogas e, pensar assim é criar espaços para acolher os que já se encontram no consumo exagerado de drogas, se configurando como uma medidida de curto prazo e uma proposta real.
ResponderExcluirDúvida, consulte o texto enviado ao endereço eletrônico do administrador deste portal.
No mais, parabéns pela brilhante reflexão.