25 de fevereiro de 2013

“Sobre Cuba e sua ditadura” por Ygor Coelho Soares

Escola Latino-Americana de Medicina em Cuba
O assunto veio de novo à tona com a viagem da blogueira Yoani Sánchez, penso ser necessária uma análise menos "preto e branco" do país.


Cuba tem mesmo um regime ditatorial e anacrônico e precisa mudar, porém alguns dados podem ajudar quem tenta compreender porque, ao que parece, para a maioria do povo de lá é preferível uma mudança gradual - e não a revolução bombástica sonhada pelos exilados cubanos da direita e por direitistas congelados na Guerra Fria - e não parece haver na sociedade um senso tão grande de "urgência" quanto em outras ditaduras, como as árabes.

Primeiro, creio que há exagero em como reportam a situação de lá, bem ao contrário do que fazem com a Árabia Saudita, Barém, Uzbequistão e outros regimes extremamente cruéis, mas próximos dos interesses ocidentais. Um bom exemplo é como tratam Yoani Sánchez: a Veja diz que foi duramente perseguida e barbaramente torturada (algo que não conheço, a não ser que a "bárbara tortura" seja a vez que ela foi detida e, diz ela, sofreu uma agressão), mas é estranho que, pelo que se depreende de fotos e relatos, ela tem seu blog há muitos anos para esculhambar e pedir o fim da ditadura diariamente, mora numa casa razoável e, até onde sei, está fisicamente íntegra. Mas pintam a moça como se fosse um dissidente daqueles enviados para gulags na URSS!

Algo ainda mais esclarecedor - e perturbador - é o IDH. Não parece, mas Cuba tem IDH de 0,776, portanto melhor que "queridinhos do mercado" como México, Malásia, Panamá e Peru. Está próxima do padrão de desenvolvimento do Uruguai, Romênia e Argentina, com o 51º lugar no ranking. Nada mal, aliás, invejável para o mundo emergente. E por incrível que pareça o IDH sem considerar o PIB per capita (que baixa muito o índice total, pois em Cuba é relativamente baixo com a ineficiência, falta de liberdade econômica e o semi-isolamento comercial) - é 0,904, ou seja, melhor até que a Estônia, Eslováquia e Polônia e mais ou menos igual ao da Grécia. Por essa medida, Cuba detém o maior desenvolvimento humano do "mundo em desenvolvimento".

Claro, faltam confortos, liberdades e oportunidades das democracias avançadas, e, por isso, falta avançar/mudar muito, mas o básico da vida não falta para quase todos. Isso é esclarecedor. Agora vem o ponto perturbador: se a ineficiente, autoritária, isolada, pobre Cuba consegue ter a expectativa de vida e o amplo acesso à educação de um país desenvolvido (Grécia), não devemos nos questionar ainda mais duramente como nós, de democracias emergentes como o Brasil, ainda podemos viver rodeados de pobreza, pouca educação e expectativa de vida mais baixa?

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