Escola Latino-Americana de Medicina em Cuba |
Cuba
tem mesmo um regime ditatorial e anacrônico e precisa mudar, porém alguns dados
podem ajudar quem tenta compreender porque, ao que parece, para a maioria do
povo de lá é preferível uma mudança gradual - e não a revolução bombástica
sonhada pelos exilados cubanos da direita e por direitistas congelados na
Guerra Fria - e não parece haver na sociedade um senso tão grande de
"urgência" quanto em outras ditaduras, como as árabes.
Primeiro,
creio que há exagero em como reportam a situação de lá, bem ao contrário do que
fazem com a Árabia Saudita, Barém, Uzbequistão e outros regimes extremamente
cruéis, mas próximos dos interesses ocidentais. Um bom exemplo é como tratam
Yoani Sánchez: a Veja diz que foi duramente perseguida e barbaramente torturada
(algo que não conheço, a não ser que a "bárbara tortura" seja a vez
que ela foi detida e, diz ela, sofreu uma agressão), mas é estranho que, pelo
que se depreende de fotos e relatos, ela tem seu blog há muitos anos para
esculhambar e pedir o fim da ditadura diariamente, mora numa casa razoável e,
até onde sei, está fisicamente íntegra. Mas pintam a moça como se fosse um
dissidente daqueles enviados para gulags na URSS!
Algo
ainda mais esclarecedor - e perturbador - é o IDH. Não parece, mas Cuba tem IDH
de 0,776, portanto melhor que "queridinhos do mercado" como México,
Malásia, Panamá e Peru. Está próxima do padrão de desenvolvimento do Uruguai,
Romênia e Argentina, com o 51º lugar no ranking. Nada mal, aliás, invejável
para o mundo emergente. E por incrível que pareça o IDH sem considerar o PIB
per capita (que baixa muito o índice total, pois em Cuba é relativamente baixo
com a ineficiência, falta de liberdade econômica e o semi-isolamento comercial)
- é 0,904, ou seja, melhor até que a Estônia, Eslováquia e Polônia e mais ou
menos igual ao da Grécia. Por essa medida, Cuba detém o maior desenvolvimento
humano do "mundo em desenvolvimento".
Claro,
faltam confortos, liberdades e oportunidades das democracias avançadas, e, por
isso, falta avançar/mudar muito, mas o básico da vida não falta para quase
todos. Isso é esclarecedor. Agora vem o ponto perturbador: se a ineficiente,
autoritária, isolada, pobre Cuba consegue ter a expectativa de vida e o amplo
acesso à educação de um país desenvolvido (Grécia), não devemos nos questionar
ainda mais duramente como nós, de democracias emergentes como o Brasil, ainda
podemos viver rodeados de pobreza, pouca educação e expectativa de vida mais
baixa?
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