Sessão da CPI do Cachoeira - foto André Borges |
Na
mesma semana em que mais uma atriz viu sua intimidade exposta na internet,
deputados e senadores decidiram tornar secretas as primeiras reuniões da CPI do
Cachoeira que investiga relações de contraventor com políticos e a diretores da revista Veja.
Preocupados
com o sigilo das informações colhidas pela Polícia Federal, os parlamentares
montaram um esquema para blindar os trabalhos da CPMI (Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito) que investiga as atividades do bicheiro Carlinhos
Cachoeira. Em duas sessões com portas fechadas, realizadas na terça (8) e na
quinta-feira (10), o Congresso ouviu os delegados que conduziram as apurações.
Mas,
apesar do bloqueio, dados das operações da PF que servem de base para os
trabalhos da CPI vazaram e foram parar na internet. A quebra do sigilo deixou
no ar uma pergunta: com a popularização da internet e a chegada das redes
sociais, que permitem compartilhar conteúdo em velocidade inédita, é possível
manter em segredo um assunto de tamanha importância?
Nos
últimos dias, a internet mostrou seu poder para furar a privacidade. Na
sexta-feira da semana passada (4), fotos da atriz Carolina Dieckmann nua caíram
na rede depois que seu computador foi invadido por um hacker. Em questão de
minutos, as imagens se espalharam e foram parar até em sites estrangeiros.
Enquanto
a privacidade alheia era debatida nas redes sociais, os parlamentares blindavam
as sessões da CPI e tentavam proteger as informações do caso Cachoeira em uma
sala montada no Senado com um rígido esquema de segurança.
Como
o processo corre sob segredo de Justiça, os deputados e senadores alegaram que
era necessário proteger o resultado das apurações já feitas pela polícia.
O
pedido para trancar as portas das primeiras sessões da comissão, em que foram
ouvidos os delegados Raul Alexandre Marques Sousa e Matheus Mella Rodrigues,
partiu do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) e da senadora Kátia Abreu (PSD-TO).
Eles
evocaram o ministro do STF Ricardo Lewandowski, que liberou os dados em poder
da Corte com uma advertência: “observar as restrições de publicidade inerentes
aos feitos sob segredo judicial” e “manter o rígido sigilo na prestação de
informações de qualquer material desta investigação parlamentar”.
Por
17 votos contra 11, o pedido foi aceito, mas não sem protesto, como o do
deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que saiu dizendo que “o conteúdo vazaria de qualquer
maneira”.
Para
a cientista política Maria do Socorro Souza Braga, da Ufscar (Universidade
Federal de São Carlos), a internet tornará cada vez mais difícil a tarefa de
deixar a população longe das CPIs.
Ela
lembra que até um dos inquéritos analisados pela comissão vazou primeiro na
web. O site Brasil 247 anunciou a publicação de 40 gigabytes de informações da
operação Monte Carlo da seguinte forma: “saiba aqui o que nem a CPI sabe”.
Para
Maria do Socorro, a circulação das informações na internet podem ajudar a
opinião pública a interferir diretamente na condução das investigações no
Congresso.
—
Isso será possível no médio prazo, mas vai depender da organização das redes.
Como a internet tem uma linguagem informal, os jovens poderão se aproximar da
política.
A
cientista diz que se trata de uma “forma de democracia participativa direta,
quase como um plebiscito”.
—
Pela internet, as pessoas poderão pressionar partidos, bancadas. À medida que o
cidadão percebe que esse meio pode ser mais rápido para pressionar, ele vai
aderir.
Ao
R7, o senador Paulo Davim (PV-PR), que votou contra o fechamento das sessões da
CPI, afirmou que manter o sigilo em tempos de internet “é um contrassenso”.
—
As informações acabam vazando. É difícil segurar o sigilo. Sempre há um
comentário do membro [da CPI] com alguém que trabalha com ele, ou com a
família. O risco são as informações que foram mal ouvidas e mal interpretadas
vazarem. Pode acontecer um mal entendido.
Enquanto
políticos tentam blindar uma CPI e a atriz reclama do fim de sua privacidade,
há quem adore os holofotes proporcionados pelo ambiente virtual.
Com
informaçõesPortal R7
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